Publicado em 19 de outubro de 2021 às 09:58
SÃO PAULO - Pessoas que tiveram infecção pelo coronavírus no passado podem produzir uma resposta imune mais diversificada, mas a ação de neutralização nos vacinados que não tiveram contato prévio com o vírus é dada até 12 vezes mais pela vacina. >
Os resultados da pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade Rockfeller (EUA) e coordenada pelo imunologista brasileiro Michel Nussenzweig, foram divulgados na prestigiosa revista científica Nature no último dia 7. >
A proteção conferida por uma infecção prévia ao Sars-CoV-2 pode se desenvolver e ser até bem robusta nas pessoas, mas ainda não é possível afirmar com certeza que todos os indivíduos que tiveram Covid no passado vão conseguir se defender frente a uma nova infecção. >
Já a imunidade conferida por vacinas pode oferecer uma arma imunológica imediata, mas a duração dessa resposta imune ainda está sendo melhor estabelecida conforme os estudos sobre a necessidade de doses de reforço avançam. >
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Os pesquisadores procuraram avaliar então qual seria a proteção conferida entre as duas doses (D1 e D2) e 1,3 e cinco meses após a D2 das vacinas contra Covid de mRNA em pessoas que nunca se infectaram -os chamados "naives"- e comparar a taxa de anticorpos e tipos de células de defesa no organismo com o observado em recuperados. >
Foram avaliadas amostras de sangue de 32 pessoas que não tinham histórico de Covid (oito vacinados com a vacina da Moderna e 24 com a Pfizer/BioNTech) em três momentos distintos: "prime" (até duas semanas e meia após a primeira dose e antes da segunda), 1,3 mês após a segunda dose (equivalente ao grupo controle, que incluiu sangue de pessoas recuperadas de Covid 1,3 mês após a infecção) e cinco meses após a segunda dose. >
Do total de amostras, 53% foram de homens e 47% mulheres, e a idade média dos indivíduos analisados foi 34,5 anos (os participantes tinham de 23 a 78 anos). >
O que os cientistas observaram foi que, apesar de a resposta imune após a infecção natural ser mais diversificada, podendo evoluir inclusive para combater às novas variantes, o potencial de neutralização do vírus pelas vacinas é maior do que com a imunidade natural. >
Nas primeiras semanas após a primeira dose, a taxa de anticorpos dos tipos IgG, IgA e IgM no sangue aumenta, embora as imunoglobulinas do tipo IgG fossem predominantes em relação às outras duas (e são os anticorpos associados à resposta imune de memória). >
Após 1,3 mês da segunda dose, a taxa de anticorpos no sangue era maior nos vacinados em comparação aos chamados convalescentes. >
Porém, a mesma avaliação cinco meses após a segunda dose encontrou uma redução significativa nas taxas de anticorpos IgA e IgM, o que era esperado, uma vez que esses anticorpos não permanecem em circulação por um longo período no corpo --o que se deseja com uma indução de resposta imune é gerar a capacidade de reconhecer rapidamente o antígeno e neutralizá-lo quando frente a uma infecção natural. >
Já quando avaliados os anticorpos do tipo neutralizantes, capazes de reconhecer uma parte específica do vírus (nesse caso, a região de domínio de ligação, ou RBD) e bloquear sua entrada nas células, após a segunda dose da vacina a quantidade dessas moléculas era 12 vezes maior do que no início do experimento e até cinco vezes mais quando comparado aos convalescentes. >
Isso demonstra a capacidade protetora das vacinas e sua importância para gerar uma resposta imune em indivíduos que não tiveram infecção prévia pelo vírus, e um potencial elevado no combate ao vírus caso um contato natural venha a acontecer no futuro. >
No entanto, a produção de células do tipo B de memória, produtoras de anticorpos, pode ajudar as pessoas que já tiveram Covid no passado a combater melhor novas variantes do vírus, indica o estudo. >
Isso porque essas células eram mais diversificadas e produziram anticorpos capazes de atacar as variantes testadas -alfa, beta, gama, delta e iota- em níveis ligeiramente maiores do que a vacinação, que também conseguiu bloqueá-las, mas com redução significativa de anticorpos. >
Nos vacinados, a diversificação dessas células de memória ocorreu até cinco meses após a segunda dose, mas não foram observadas modificações após esse período. Já no intervalo entre a primeira e a segunda dose e logo após a segunda dose, as células B de memória nos indivíduos vacinados foram responsáveis pela formação dos anticorpos neutralizantes. >
Esse achado pode indicar que pessoas com infecção prévia ao Sars-CoV-2 podem necessitar de menos doses de imunizantes do que aquelas que são "naive", uma vez que a proteção dada por uma resposta imune de memória somada à dada pela vacinação pode ser mais robusta. >
Em contrapartida, pessoas que não se infectaram, quando recebem as duas doses das vacinas de mRNA, produzem uma resposta significativa de neutralização do vírus e produção de anticorpos. Algumas variantes de preocupação, no entanto, podem conseguir escapar da proteção conferida, sugerindo a necessidade de doses adicionais ao longo do tempo. >
"Indivíduos convalescentes desenvolvem aumento na potência e ação de células de memória contra o vírus original de Wuhan e suas cepas após um reforço da vacina. Já os vacinados também produzem níveis elevados de anticorpos neutralizantes quando recebem doses de reforço. Dada a emergência atual de novas variantes do Sars-CoV-2, doses de reforço para prevenir a infecção podem ser necessárias, (...) e o momento certo do reforço vai depender na estabilidade e evolução das células B de memória [nesses indivíduos]", concluem os autores.>
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