Publicado em 26 de março de 2020 às 19:29
A revista britânica The Economist escreveu um longo texto sobre o Brasil e disse que o presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de "BolsoNero", brinca com a pandemia do novo coronavírus. "É apenas uma gripezinha", avaliou. Para a publicação, ele mesmo pode ser um vetor da doença já que no dia 15, depois que seu secretário de comunicações deu positivo para o vírus, ignorou as ordens de quarentena e tirou "selfies" com os fãs. Quando o primeiro brasileiro morreu de covid-19 no dia seguinte, o presidente apresentado como populista denunciou uma "histeria" em torno do vírus.>
Outros líderes são menos complacentes, conforme o semanário. E ressaltou que, pela primeira vez, o Congresso votou de forma remota para decretar "estado de calamidade" no país, o que permite ao governo ultrapassar limites constitucionais de gastos. O veículo britânico mencionou o objetivo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de destinar recursos para a saúde e a economia e citou que o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, não é um ideólogo, ao contrário de muitos de seus colegas de gabinete.>
A revista explica que governos municipais e estaduais estão impondo medidas de isolamento e transformando estádios de futebol em hospitais; universidades e laboratórios particulares desenvolvendo testes para a doença; empresas doando materiais para sua produção; e que a maior cervejaria do Brasil está fazendo desinfetante para as mãos. Mas os que trabalham contra a doença devem bloquear os sinais de um presidente que continua a menosprezar seus esforços, conforme a "The Economist".>
O texto lembrou que nesta quarta-feira (25) Bolsonaro mandou Mandetta parar de pedir distanciamento social em larga escala e que em pronunciamento na véspera solicitou aos governos locais que abandonassem as estratégias de "terra arrasada" por fechar escolas e lojas, além de criticar a mídia por espalhar "a sensação de medo". A publicação cita que o país soma 59 mortes e tem mais de 2,5 mil casos confirmados, mas que o número verdadeiro é provavelmente muito maior. "Respostas fragmentadas dos governos e do setor privado não evitarão o desastre", assegurou.>
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O semanário salientou que climas quentes, como o do Brasil, podem retardar a transmissão do vírus, mas os hospitais particulares estão sobrecarregados porque os pacientes atuais tendem a ser pessoas ricas que pegaram a doença no exterior ou seus íntimos, À medida que migra para as massas, pode rapidamente sobrecarregar o sistema de saúde pública, que serve quatro quintos da população. >
A "The Economist" ressaltou que o sistema universal de saúde do Brasil atende mais pessoas do que qualquer outro totalmente gratuito no mundo, mas o país gasta apenas 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nele. A Itália gasta 6,7% do PIB, Alemanha, 9,4%. O sistema público do Brasil possui apenas sete leitos hospitalares para tratamento intensivo por 100 mil pessoas, quase todos ocupados por pacientes que não estão cobertos. A demanda por leitos de tratamento intensivo em algumas cidades do exterior se aproximou de 25 por 100 mil durante a pandemia. Mandetta alerta que o sistema pode entrar em colapso em abril.>
O Instituto de Estudos de Políticas de Saúde do Rio calcula que o governo precisaria gastar R$ 1 bilhão para cada 1% da população infectada, a fim de tratar todos os casos graves. O governo aprovou cerca de R$ 10 bilhões em gastos extras, um aumento de um décimo, mas provavelmente muito pouco. Até o governo atingir sua meta de testar de 30 mil a 50 mil pessoas por dia, o que pode levar meses, os bloqueios são a única maneira de retardar a transmissão, segundo a revista.>
A situação, de acordo com a publicação, é especialmente difícil nas favelas, Esses assentamentos informais abrigam 13 milhões das 211 milhões de pessoas do Brasil, incluindo um quinto das pessoas no Rio. Eles são densamente compactados e muitos não têm água corrente. Por enquanto, grupos de base, e não o governo, estão realizando campanhas de saúde pública. Os organizadores da Maré, no Rio, sugerem a quarentena de pacientes com sintomas leves em escolas vazias. Paraisópolis, em São Paulo, planeja mudar moradores mais velhos para mansões alugadas em distrito arborizado nas proximidades.>
Ativistas estão se dirigindo pelas favelas com alto-falantes, dizendo aos moradores para ficar em casa. Em algumas, os traficantes fecharam os mercados de drogas ao ar livre, cancelaram o baile funk e impuseram toque de recolher. "Se o governo não for capaz de fazer isso acontecer, o crime organizado fará", promete uma gangue no WhatsApp.>
Em muitas favelas, o comércio continua porque as pessoas precisam trabalhar, como relata o texto. Apenas um quinto dos residentes tem empregos formais, A maioria são diaristas, vendedores ou empregados domésticos e não podem parar. O governo planeja dar aos trabalhadores informais R$ 300 por mês durante três meses, o que pode não ser suficiente de acordo com a publicação. O déficit fiscal do Brasil e o fraco rating de crédito impedirão o governo de oferecer um estímulo massivo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, quase não propôs nenhum novo apoio econômico.>
À medida que o sofrimento se espalhar, o custo político para Bolsonaro ficará mais claro, segundo a "The Economist". Vinte e três pessoas que viajaram com ele para visitar Donald Trump na Flórida este M~es deram positivo para a covid-19. Em 13 de março, a Fox News informou que o filho do presidente, Eduardo, disse que seu pai estava com o vírus, Ambos então negaram. Um juiz ordenou que o hospital militar de Brasília publicasse os nomes dos casos confirmados da delegação, mas dois continuam sem ser entregues.>
Pessoas em bairros mais ricos que votaram em Bolsonaro em 2018 agora estão batendo em panelas e frigideiras em protestos noturnos. Em uma pesquisa, seu índice de aprovação caiu para o ponto mais baixo desde que assumiu o cargo no ano passado. Brincar enquanto uma pandemia se aproxima pode custar-lhe a reeleição em 2022.>
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