Publicado em 10 de novembro de 2020 às 08:39
O fato de a suspensão do teste clínico da vacina Coronavac não ter sido comunicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao Instituto Butantan gerou desconforto e estranheza no governo paulista. >
Aliados do governador João Doria (PSDB) questionaram a divulgação da informação por meio de nota, em horário nobre de noticiários de televisão, justamente nesta segunda (9).>
Pela manhã, o tucano havia inaugurado as obras da fábrica de vacinas que produzirá em larga escala a Coronavac, caso tudo dê certo, no Brasil a partir de setembro do ano que vem.>
Doria também havia anunciado a chegada do primeiro lote do imunizante, 120 mil das 6 milhões de doses prontas importadas da China, para o dia 20 de novembro.>
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A divulgação levou a uma correria das autoridades de saúde estaduais para tentar descobrir do que se trata.>
Como se sabe, essas interrupções ocorrem quando qualquer envolvido no estudo clínico sofre um efeito adverso ou morre, seja ele um voluntário que tomou a vacina ou o seu placebo.>
Há algumas semanas, o governo confirmou a nova diretoria da Anvisa, o que gerou preocupação entre autoridades paulistas de eventual direcionamento político de suas ações na disputa em curso entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro.>
Dono de um discurso negacionista da pandemia, o presidente tem no governador seu maior antípoda no manejo da crise. Enquanto Bolsonaro questiona a obrigatoriedade da vacinação e já repreendeu seu ministro da Saúde por considerar o uso do imunizante chinês, o tucano fez uma grande aposta na Coronavac.>
Investiu na parceria com Sinovac chinesa e montou um cronograma ambicioso para o caso de o imunizante ser eficaz e seguro.>
Pelos seus planos, seria possível imunizar toda a população paulista, ou uma parcela bem relevante, já no primeiro trimestre de 2021.>
Já há oito estados interessados em comprar a Coronavac, que se mostrou segura até aqui nos testes clínicos da chamada fase 3 -sua eficácia ou não deve estar estabelecida até o fim do mês. Para um presidenciável como Doria, é um trunfo potencial para 2022.>
Com isso, está em curso uma guerra da vacina no país. Bolsonaro já havia dito que não compraria a Coronavac, mas teve de voltar atrás, e o governo federal tem seu próprio acordo de co-produção da vacina britânica da AstraZeneca/Universidade de Oxford com a Fundação Oswaldo Cruz.>
Integrantes do governo temem que Bolsonaro use decisões técnicas para atrasar o cronograma por motivos políticos, embora saiba que isso poderia provocar reação em secretarias de Saúde de outros estados.>
Foi assim quando a Anvisa dificultou a importação de insumos para a montagem de kits do imunizante pelo Butantan, por exemplo. Outras 40 milhões de doses chinesas serão feitas desta forma.>
Naturalmente, as autoridades paulistas estão cautelosas, justamente porque não sabem a natureza do evento ocorrido.>
A rádio CBN afirmou que um voluntário teria morrido, mas não se sabe o motivo -quando alguém morre num estudo desses, a paralisação é automática.>
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