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Sírio-Libanês: vender vacinas contra Covid-19 na rede privada é antiético

Sírio-Libanês: vender vacinas contra Covid-19 na rede privada é antiético

O parecer é do comitê de bioética do Hospital Sírio-Libanês, composto por 20 profissionais das mais diversas áreas, como médicos, enfermeiras, psicólogas e advogados

Publicado em 29 de janeiro de 2021 às 19:17- Atualizado há 3 anos

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SÃO PAULO, VACINAÇÃO IDOSOS ILPI - Idosos e profissionais da saúde começaram a ser vacinados contra a COVID19 na manhã desta quinta-feira 21, no Instituto de Longa Permanência - Serviços para Idosos (ILPI), localizado na Vila Mariana zona sul da cidade de São Paulo.  21/01/2021
Idosos e profissionais da saúde começaram a ser vacinados contra a COVID19 em SP. (SUAMY BEYDOUN/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO)

Não é ético realizar compra e distribuição privada de vacinas contra a Covid-19 durante situação de pandemia e escassez de imunizantes e de insumos, segundo parecer do comitê de bioética do Hospital Sírio-Libanês, composto por 20 profissionais das mais diversas áreas, como médicos, enfermeiras, psicólogas e advogados. O texto foi acatado pela instituição.

No documento, o comitê entende que a compra pela iniciativa privada vai gerar a vacinação de indivíduos fora dos grupos prioritários e que isso fere os princípios fundamentais de equidade, integralidade e universalidade, fundamentos do SUS.

Segundo comitê, a própria lógica que gera o benefício de uma campanha de vacinação também ficaria comprometida.

"Ao desrespeitar uma fila única para um bem escasso e necessário a todos, priorizando indivíduos com maiores privilégios ou maior poder em detrimento de indivíduos que possam mais se beneficiar, compromete também a solidariedade que gera a coesão social necessária para viver em sociedade."

Segundo o documento, iniciativas dessa natureza podem acentuar ainda mais as desigualdades e injustiças já excessivas no Brasil, e que, por isso, a prática não é condizente com os princípios éticos.

"Seria uma escolha entendida por esse comitê como inadequada moralmente, além, do ponto de vista pragmático, de colocar em risco o próprio conceito do que é uma nação."

Segundo o médico Daniel Forte, presidente do comitê, a discussão chegou numa bifurcação: ou se preza o individualismo, o cada um por si com o caos social como consequência, ou se preza pela equidade e por oferecer mais para quem precisa mais. "É o próprio fundamento de um hospital, da saúde e o que se entende por sociedade."

Também sob o ponto de vista pragmático, observa o médico, somente vacinando as pessoas com maior risco é que se tem maior benefício e se previne o colapso do sistema de saúde.

"Se o sistema colapsa, tanto a pessoa de maior quanto a de menor risco morre. Evitando o colapso você beneficia inclusive quem não foi vacinado."

Como alternativa, o comitê diz que apoia ações colaborativas e transparentes, envolvendo a compra privada de vacinas com doação de 100% das doses para serem disponibilizadas conforme os critérios do SUS.

"Ações solidárias dessa natureza, além do benefício tangível ao sistema de saúde e à população, inspiram uma sociedade a ser melhor e buscar o bem comum", diz

O Hospital Israelita Albert Einstein tem manifestado posicionamento semelhante. Segundo o presidente Sidney Klajner, por ora, vacina só pelo SUS.

Para ele, quando houver maior disponibilidade de oferta, a rede privada poderia entrar. Ele acredita que isso possa ocorrer no segundo semestre deste ano.

Klajner faz uma comparação com o que aconteceu com os testes PCR, que eram escassos no primeiro momento e que depois se tornaram muito acessíveis.

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