Publicado em 4 de abril de 2020 às 09:37
Em meio ao aumento crescente de casos do novo coronavírus, o Ministério da Saúde prevê que o estoque atual no país de equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas, tenha uma sobrevida de apenas 35 dias. >
O valor considera o envio de 40 milhões de itens que foram distribuídos aos estados nesta semana e o montante que já existia nos estoques próprios das secretarias de saúde.>
De acordo com o ministério, o valor já distribuído aos estados e municípios "é suficiente para os estoques locais por cerca de 20 dias, além daquilo que os gestores já possuíam".>
A reportagem apurou que, internamente, a pasta prevê que esse valor já existente "na ponta", por compra de gestores locais, dure em média 15 dias -chegando, assim, a 35 dias.>
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O valor, no entanto, pode variar conforme a região e a pressão sobre a rede de saúde.>
Na prática, a situação expressa a corrida vivida pelo SUS em busca de equipamentos.>
Nesta semana, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou que parte das compras previstas de materiais para uso por profissionais de saúde havia "caído" após aquisição em massa dos Estados Unidos à China.>
De acordo com a pasta, cancelamentos de entregas por fornecedores também tem sido frequentes, levando o ministério a recorrer até o quinto fornecedor da lista.>
O ministério diz ter fechado uma compra de cerca de 200 milhões de máscaras. A previsão é que o material seja entregue até início de maio, o que garantiria estoques por 60 dias.>
Mandetta, porém, tem dito que problemas anteriores nas compras geram insegurança na entrega.>
"Só acredito na hora que estiver dentro do país e na minha mão. Tenho contrato, documento e dinheiro. Às vezes o colapso é quando tem dinheiro e não tem o produto. O mundo inteiro também quer. Tem problema de demanda hiperaquecida", disse na quarta-feira.>
Além das 200 milhões de máscaras, a pasta diz que pretendia finalizar nesta sexta a aquisição de mais 150 milhões de outros equipamentos de proteção, como álcool gel, capote, luva e óculos.>
Questionado, o ministério não informou se a compra foi fechada. Recentemente, a pasta passou a estimular secretarias de saúde que também voltem a tentar adquirir produtos por conta própria, ao contrário de orientações anteriores.>
A dificuldade na aquisição de equipamentos preocupa, diz Mauro Junqueira, secretário-executivo do Conasems, conselho que reúne secretários municipais de saúde. Ele diz não ter uma estimativa exata da duração, mas confirma os baixos estoques.>
"Tem município que me ligou há duas semanas e disse que só tinha estoque para mais 30 dias. Passou 15 e não estavam conseguindo comprar", afirma. "Vemos também estados segurando equipamentos para poder sobreviver.">
Um dos principais motivos para essa crise é o fato de boa parte da produção ser concentrada na China, país que teve a produção afetada pela crise do coronavírus. Outro foi a corrida atrás desses itens.>
"Pagávamos há 40 dias uma máscara a R$ 0,04. Agora, já está sendo vendida a R$ 3 ou R$ 4", diz Junqueira.>
Para ele, com o retorno da produção pela China, a previsão é que a produção se regularize nos próximos meses. O problema é que a maior demanda por ocorrer antes disso.>
"Vemos retenção sobre produção global de máscara. Estamos dialogando com os países para ter o mínimo de racionalidade e acharmos um equilíbrio", disse Mandetta em coletiva de imprensa nesta sexta.>
Segundo o ministro, medidas de distanciamento social têm ajudado a dar tempo para organização da rede enquanto ministério, estados e municípios tentam organizar os estoques.>
"Não deixem o sistema entrar em espiral até estar preparado para atender", afirmou.>
Em Campinas, o secretário de saúde Cármino de Souza diz que, em meio aos baixos estoques, conseguiu adquirir EPIs no mercado nacional. A previsão é que o material dure três semanas, afirma.>
Ele diz aguardar, agora, o recebimento de estoques extras enviados pelo ministério, ainda não recebidos.>
Segundo ele, a compra feita pelo município teve dificuldade nos contratos e, no fim, acabou saindo por preços mais altos do que o esperado.>
"Estamos comprando, mas dentro de uma dificuldade enorme, e num cenário de canibalismo, de especulação. Uma máscara eu comprei por R$ 3.">
Nos últimos dias, o município registrou aumento no número de internações pro síndrome respiratória grave, o que já mostra um aumento na pressão sobre a rede.>
"Como o município é grande, estamos nos defendendo. Mas temos preocupação que falte EPIs. Já sabemos que muitos municípios não têm", diz.>
Questionada pela reportagem, a secretaria de saúde do estado de São Paulo diz que adquiriu 42,2 milhões de itens e tem feito compras diárias para que não haja falta.>
Já a secretaria estadual do Rio de Janeiro informou que iniciou a distribuição de 5.000 máscaras de um tipo de máscara conhecida como face shield e recebidas por doação para hospitais e UPAs. >
Diz ainda ter adquirido 2,5 milhão de itens, como máscaras cirúrgicas, óculos e aventais para abastecer unidades. A secretaria não informou a duração dos estoques.>
Em nota, o Ministério da Saúde diz que "tem apoiado os estados e municípios na aquisição e distribuição de equipamentos de proteção individual no enfrentamento do coronavírus".>
"Contudo, há uma demanda mundial por conta da pandemia, o que tem trazido escassez e dificuldades na produção e entrega desses insumos no cenário internacional, mesmo após a celebração de contratos.">
A pasta diz ainda que tem lançado alternativas para permitir o maior número de participantes e ofertas por fornecedores.>
"Cabe lembrar que, como já informado à imprensa, os valores estão acima daqueles normalmente praticados.">
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