Publicado em 15 de outubro de 2021 às 14:57
Relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) decidiu propor em seu texto final da comissão o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro e de outros dois ministros de seu governo: o titular da Saúde, Marcelo Queiroga, e o atual ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni. >
Como havia adiantado em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Renan vai propor o indiciamento de Bolsonaro por 11 crimes.>
O relatório final da CPI vai sugerir o indiciamento do chefe do Executivo, entre outros crimes, por homicídio comissivo por omissão, crime de epidemia, infração de medida sanitária, charlatanismo e crimes de responsabilidade.>
O relatório final completo deve ser divulgado na próxima segunda-feira (18). A leitura do texto será feita em sessão da CPI da Covid no dia seguinte, com a votação pelos membros na quarta-feira (20).>
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Inicialmente, o relator não cogitava responsabilizar Bolsonaro por nenhuma tipificação relacionada a homicídio. No entanto, como afirmou na entrevista à reportagem, após reuniões com especialistas, decidiu responsabilizá-lo por homicídio comissivo, quando é cometido por omissão.>
O relator da CPI também vai propor o indiciamento do ministro Marcelo Queiroga pelo crime de epidemia. Inicialmente respaldado pelos senadores ao substituir Eduardo Pazuello, os membros da comissão alegam que o atual ocupante da pasta se "converteu ao negacionismo".>
Durante as sessões, citaram como exemplo a suspensão da vacinação de adolescentes e a própria defesa do chamado tratamento precoce em evento da Organização Mundial de Saúde.>
Um terceiro ministro pode ser incluído na lista de sugestão de indiciados, o atual titular da Defesa, Walter Braga Netto.>
Renan quer incluir o general por sua atuação durante o período em que foi ministro da Casa Civil. O militar teria participado, por exemplo, da reunião em que foi sugerida a alteração da bula da hidroxicloroquina.>
No entanto a inclusão de Braga Netto não é consenso entre os membros do grupo majoritário, e o general nem chegou a ser convocado para depor perante a comissão.>
Por isso Renan pretende usar convencer os demais integrantes do G7 ainda na tarde desta sexta-feira (15). O relator vai manter conversas individuais com outros senadores para apresentar o seu texto preliminar e colher sugestões.>
Renan também vai incluir em seu texto a proposta de indiciamento de filhos do presidente Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A comissão quer que eles respondam por infração de norma sanitária.>
Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, o relatório usa informações de 16 depoimentos prestados à Polícia Federal e encaminhados à comissão para indicar Carlos como articulador da rede bolsonarista de distribuição de notícias falsas e desinformação.>
Com base nos relatos, a conclusão da apuração também deve apontar o deputado Eduardo Bolsonaro como elo da rede com supostos financiadores, entre eles os empresários Otávio Fakhoury e Luciano Hang.>
Assim como também havia informado na entrevista à Folha de S.Paulo, Renan incluiu em seu relatório o ex-ministro Eduardo Pazuello e o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco.>
"Existem figuras principais [no relatório]. O general [Eduardo] Pazuello é um, o coronel Élcio Franco, o presidente da República, tiveram participações comprovadas na materialização do que aconteceu no Brasil e no custo que se pagou com vidas. Esses são os principais, mas vamos ter o indiciamento de mais de 40 pessoas", havia dito na entrevista.>
Os senadores da CPI da Covid marcaram para a próxima segunda-feira (18) o depoimento de Nelson Mussolini, representante do Conselho Nacional de Saúde e também membro da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde), órgão consultivo do Ministério da Saúde.>
Os membros do grupo majoritário da CPI querem mais informações sobre a reunião da Conitec na última quarta-feira (7), quando seria avaliado o parece de um estudo contrário aos medicamentos do chamado "Kit Covid". O assunto saiu de pauta, sem maiores justificativas.>
"Quero saber até onde vai ou até onde foi a intervenção política nas decisões dessa instância técnica relativas aos protocolos de enfrentamento da pandemia", afirmou Randolfe Rodrigues.>
Durante sessão da CPI naquele mesmo dia, os senadores apontaram ingerência do Palácio do Planalto na Conitec, por meio do ministro da Saúde Marcelo Queiroga.>
O tema teria sido retirado de pauta, alegam, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, notório defensor da hidroxicloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19.>
Randolfe chegou a ler trecho do documento que seria discutido na Conitec.>
"Sobre cloroquina e hidroxicloroquina, o que diz a Conitec e que deveria ser deliberado hoje neste relatório? 'Recomendamos não utilizar hidroxicloroquina, cloroquina, isolado ou em associação com azitromicina, em pacientes com suspeita ou diagnóstico de covid-19, em tratamento ambulatorial. Recomendação forte. Certeza da evidência moderada ou ainda de não ter evidência'", leu o senador.>
A decisão sobre o nome do depoente da próxima segunda-feira foi decidida em reunião virtual fechada dos membros da comissão.>
Antes, em uma sessão oficial remota, os senadores aprovaram cinco requerimentos de convocação de membros da Conitec que haviam participado da reunião, mas decidiram afunilar em um único depoente durante o encontro reservado.>
A ideia inicial dos senadores era ouvir na sessão de segunda-feira (18) o responsável pelo estudo, o médico Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho.>
No entanto, membros da comissão entraram em contato com o médico e foram informados que ele não estaria disposto a apresentar o estudo e as conclusões perante a CPI. Por isso, de maneira prática, decidiram aprovar a convocação de Carvalho e mais quatro membros da Conitec>
Os senadores também aprovaram na sessão requerimento para a realização de uma audiência pública com familiares de vítimas da Covid-19.>
Foram convidados a enfermeira de Manaus Mayra Pires Lima, Katia shirlene Castilhos dos Santos, que perdeu familiares durante a pandemia; Rosane Brandão, que perdeu o companheiro; Jarquivaldo Bites Leite, que foi infectado pelo coronavírus; Antonio Carlos Costa, ONG Rio de paz; e Marco Antonio, também afetado pela pandemia.>
O evento com familiares e membros da sociedade civil está marcado para a tarde de segunda-feira.>
A decisão de ouvir um representante da Conitec na sessão com o último depoimento marcou uma mudança em relação ao planejamento inicial. Inicialmente, a sessão de segunda-feira (18) estava destinada para o terceiro depoimento do ministro da Saúde Marcelo Queiroga.>
Os membros do grupo majoritário queriam ouvir novamente o titular da pasta, pois ele havia se recusado a responder um questionário enviado pela comissão.>
Além disso, apontavam que ele havia se "se convertido ao negacionismo", ao interromper a vacinação contra a Covid-19 de adolescentes e por seu comportamento em Nova York, quando integrava comitiva presidencial, ao fazer gestos obscenos para manifestantes.>
No dia seguinte, no entanto, Queiroga convocou uma entrevista coletiva para divulgar detalhes da vacinação contra a Covid-19 em 2022, satisfazendo uma demanda dos senadores.>
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