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Redução de repasses põe governadores em choque com Poderes nos Estados

Redução de repasses põe governadores em choque com Poderes nos Estados

Possibilidade de redução ou atraso de repasses obrigatórios mensais a serem feitos para Tribunais de Justiça e Assembleias Legislativas tem gerado atritos nos Estados

Publicado em 1 de junho de 2020 às 15:54

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Renato Casagrande participa de reunião sobre o socorro aos Estados com o presidente Jair Bolsonaro, outros governadores e os presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre
Renato Casagrande em reunião com outros governadores: Estados estão tendo que negociar com Poderes Legislativo e Judiciário sobre orçamento. (Helio Filho/Secom-ES)

A crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus criou uma série de atritos entre os governos estaduais e os poderes Legislativo e Judiciário, sobretudo pela possibilidade de redução ou atraso de repasses obrigatórios mensais a Tribunais de Justiça e Assembleias Legislativas. Em alguns casos, como em Minas Gerais, a guerra foi deflagrada abertamente e rendeu aprovação de lei contra o governador, que rebateu de forma crítica. Depois, todos os lados puseram panos quentes no conflito.

Em outros locais, como no Rio Grande do Sul, chegou-se a um entendimento somente após longa negociação. No Espírito Santo, a situação é semelhante, pois desde o início de maio o governador Renato Casagrande (PSB) vem negociando com os Poderes para que façam uma redução em sua cota do orçamento. Sem conseguir consenso, a estratégia adotada foi de fazer "acordos bilaterais", com um a um. O Tribunal de Contas do Estado (TCES) já definiu que vai ter redução de 20% do repasse do governo estadual

Já na Paraíba e em Mato Grosso do Sul, por exemplo, houve proposta de redução dos repasses, o que foi abortado em meio a fortes reações dos outros Poderes.

Desde o começo da pandemia, Estados já discutem a necessidade de congelamento de recursos em todos os Poderes para passar pelo período da crise.

AÇÕES NOS ESTADOS

Em São Paulo, tanto o Legislativo como o Judiciário fizeram planos para economizar durante o ano, sob a justificativa de que os recursos excedentes sejam usados pelo Executivo no combate à Covid-19.

Em Minas Gerais, como o jornal Folha de S.Paulo publicou, o Tribunal de Justiça abriu mão de um plano formal de contingenciamento de despesas, sob o argumento de que os recursos do Tesouro estadual "devem ser repassados normalmente". Nas últimas semanas, porém, a possibilidade de repasse regular caiu por terra.

Diante disso, ao se antecipar a um anúncio do governo estadual, a Assembleia Legislativa de Minas mandou um recado ao governador Romeu Zema (Novo) e aprovou por unanimidade um projeto de lei que prevê crime de responsabilidade caso o governo atrase o repasse de verba para Assembleia, Judiciário, Defensoria Pública e Ministério Público.

Na prática, para passar a valer, o projeto teria de ser sancionado pelo próprio Zema, que convocou uma entrevista no dia seguinte para expor a situação financeira do estado.

"Nós não teremos condições de continuarmos pagando as obrigações do estado, mesmo as mais relevantes", disse o governador. "Não haverá recursos para nós pagarmos integralmente a folha de pagamento do funcionalismo do Executivo e também o repasse aos Poderes. A lei me manda fazer as duas coisas, agora, se a lei resolvesse nosso problema de caixa, eu ficaria muito satisfeito."

Depois do discurso de Zema, o relator no projeto na Assembleia, Gustavo Valadares (PSDB), baixou o tom e disse que não houve a intenção de "botar a faca no pescoço" do governador.

"O que nós fizemos não foi nada inovador, não trouxemos nenhuma novidade. Foi algo que já está previsto na Constituição Federal", disse, pedindo que o governador tenha "uma conversa franca" com os demais Poderes.

Em nota conjunta, a Assembleia e o Tribunal mineiros afirmaram que "estão cientes das enormes dificuldades que o governo estadual vem enfrentando desde que assumiu e têm sido parceiros constantes, na busca de soluções".

A pressão, ao menos por enquanto, deu certo. Após reunião com os presidentes da Assembleia e Tribunal, o governador decidiu que os repasses não serão reduzidos em um primeiro momento, apenas parcelados.

PARCELAR SALÁRIOS

No Rio Grande do Sul, em meio às negociações com o governador Eduardo Leite (PSDB) sobre os repasses, o presidente da Assembleia, Ernani Polo (PP), anunciou a possibilidade de parcelar o salário dos servidores do Legislativo gaúcho.

Leite anunciou um acordo com a Assembleia para ampliar o contingenciamento de recursos neste ano, de R$ 150 milhões para R$ 210 milhões, além de possibilidade de ampliação dessa economia ano que vem. O repasse de recurso ficou no patamar previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano passado.

REDUÇÃO DE REPASSES

Na Paraíba, o governo João Azevêdo (Cidadania) chegou a anunciar reunião com integrantes do Judiciário e do Legislativo para discutir a redução dos repasses, mas obteve manifestações críticas de ambos os Poderes.

"É com preocupação que recebemos a notícia da intenção do governo em reduzir o repasse mensal a este Poder, uma vez que isso pode comprometer o pagamento dos servidores efetivos, bem como acarretar exonerações de servidores comissionados, agravando ainda mais a crise", disse a Assembleia paraibana em nota do fim de abril.

Diante do impasse, o governo recuou e agora afirma que a discussão está paralisada. Segundo o secretário de Finanças da Paraíba, Marialvo Laureano, "esse debate está suspenso no momento".

Em Mato Grosso do Sul, o secretário de Governo afirmou em entrevista em abril que tem negociado com os outros Poderes a redução dos repasses.

"O momento é de crise, e de crise para todos. Esses poderes vão ter que encontrar dentro das suas instituições iniciativas para reduzir as despesas e os gastos. E cada uma dessas instituições está buscando esse caminho", afirmou Eduardo Riedel.

O Tribunal de Justiça, que lançou estudos para a extinção de comarcas, tem jogado a responsabilidade sobre o fim desses serviços no Executivo. Segundo a corte sul-mato-grossense, a medida será tomada "se houver problema no repasse do duodécimo".

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