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Varíola dos macacos: rastreamento eficaz pode reduzir necessidade de vacina

Varíola dos macacos: rastreamento eficaz pode reduzir necessidade de vacina

Pesquisa mostra importância de se realizar as principais ações de controle contra uma doença infecciosa, mas especialista alerta  que o ideal é ter capacidade alta de testes e rastrear contatos

Publicado em 8 de agosto de 2022 às 10:43

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Samuel Fernandes

SÃO PAULO - Medidas eficazes de testagem e rastreamento de casos da varíola dos macacos podem reduzir a necessidade de doses de vacina para conter o surto da doença, apontam pesquisadores das universidades Yale e Brown, duas das mais prestigiadas dos Estados Unidos.

As conclusões são de um estudo pré-print - isto é, que ainda não contou com a revisão de outros cientistas - que buscou identificar os efeitos das três medidas na comunidade que mais registra casos da doença, os homens que fazem sexo com outros homens (HSH).

Teste para detectar varíola dos macacos.
Teste para detectar varíola dos macacos. (Dado Ruvic/Reuters)

Os pesquisadores utilizaram o número efetivo de reprodução da infecção (Rt). Esse valor indica como está a propagação de determinada doença. Caso o Rt seja igual a 1, isso indica que cada infectado transmite a doença para mais uma pessoa. O ideal é que o número esteja abaixo de 1 porque é um indicador de menor disseminação da infecção.

Com base no cenário atual da varíola dos macacos nos Estados Unidos, os autores consideraram que o Rt na comunidade de homens que fazem sexo com outros homens seria entre 1,2 e 2,0. Ou seja, um infectado transmite a doença para pelo menos outra pessoa, podendo chegar até dois novos infectados para cada doente.

Em seguida, observou-se o efeito aproximado que cada uma das medidas teria em reduzir a transmissão da doença nos EUA. Por exemplo, os pesquisadores consideraram que a detecção de um caso pode reduzir em 50% o aparecimento de novos diagnósticos. Se essa detecção for precoce, a redução seria de 90%.

Os pesquisadores estimaram os impactos das ações para barrar a transmissão da doença em diferentes cenários.

Um desses panoramas era com um número de reprodução da infecção de até 1,4. Nesse caso, a detecção de 40% dos casos e o rastreamento da metade dos contatos desses doentes poderiam resultar em uma diminuição do número de reprodução para abaixo de 1. A vacinação, nesse cenário, não seria uma medida adotada.

Outro exemplo considerado no estudo é com um modelo ruim de testagem e rastreamento, em que somente 10% dos casos seriam detectados e não haveria rastreamento dos contatos. Situações como essas exigiriam uma quantidade alta de vacinas para diminuir a transmissão da doença. Em um contexto em que cada infectado transmite para mais duas pessoas, os imunizantes seriam necessários para quase metade de homens que fazem sexo com outros homens a fim de reduzir o Rt para abaixo de 1.

Um terceiro cenário observado era de uma resposta moderada em relação a testes e rastreamento -20% dos casos seriam detectados e 25% dos contatos estariam em observação. A dependência pelos imunizantes seria menor, mas ainda existiria. Em um contexto de alta disseminação -com cada doente transmitindo para duas pessoas-, 45% dos homens que mantêm contato sexual com outros homens precisariam ser imunizados para barrar a disseminação do vírus.

Andrea von Zuben, professora de epidemiologia do programa de pós-graduação em saúde coletiva, políticas e gestão em saúde da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que o estudo inclui as principais ações envolvidas no controle de uma doença infecciosa. No entanto, uma estimativa matemática não necessariamente será replicada no cotidiano da população.

Segundo ela, a capacidade alta de testes e o rastreamento de contatos são medidas que podem diminuir consideravelmente a transmissão varíola dos macacos. O problema é que muitos casos da doença estão com sintomas sutis, o que dificulta o diagnóstico e o isolamento.

"Quando olhamos o modelo matemático, é perfeito. Agora, como a doença pode passar despercebida, a pessoa pode não saber que está infectada. Este é o desafio neste momento."

Outro problema é a capacidade de testagem do Brasil. Atualmente, o país conta com quatro laboratórios que centralizam os diagnósticos. Com o aumento de casos no país, os centros já indicam sobrecarrega no trabalho.

Para Von Zuben, a realização de testes o mais rápido possível é essencial para o isolamento do paciente. "Se sabemos que o isolamento do doente é muito importante, ele saber se está com a doença faz muita diferença", diz.

Em contextos em que existem dificuldades em detectar os casos e rastrear os seus contatos, a utilização de vacinas em grupos chaves é importante para barrar novos diagnósticos. "A vacina é muito mais efetiva nesse bloqueio [de novas infecções] porque não depende exatamente da autoconsciência de cada um [em optar pelo isolamento]."

Até o momento, o Ministério da Saúde anunciou a encomenda de 50 mil doses do imunizante. Elas devem ser aplicadas em profissionais de saúde e em pessoas que tiveram contato com doentes.

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