Publicado em 28 de setembro de 2021 às 15:11
A reeleição de Juliano Medeiros, 36, para a presidência do PSOL neste domingo (26) e a decisão do partido de não lançar uma pré-candidatura ao Palácio do Planalto reforçaram o caminho para o apoio da legenda a Lula (PT) em 2022. Em São Paulo, o movimento da sigla é inverso - o de esperar reforços à pré-candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) ao governo. >
A decisão da maioria dos delegados do PSOL durante o congresso do fim de semana foi a de priorizar a busca pelo impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido) e tentar construir a unidade da esquerda na eleição nacional - o que significa, na prática, formar coligação com o PT e abrir mão de uma candidatura própria presidencial pela primeira vez desde a fundação do partido, em 2004. >
À Folha de S.Paulo, Medeiros, que é historiador e cientista político, afirma haver condições a serem preenchidas para que, de fato, o partido integre uma coligação das esquerdas, mas nega que a adesão do PT, que lançou Fernando Haddad, à candidatura de Boulos ao governo paulista seja uma delas. "Não vamos tratar essa essa situação de São Paulo como um simples toma lá, dá cá", diz. >
"Isso não quer dizer que nós não esperamos, óbvio, generosidade dos partidos para reconhecer o papel importante que o Guilherme Boulos tem cumprido", completa o presidente do PSOL. Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostra Haddad com 17% das intenções de voto, contra 11% de Boulos. >
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"Assim como vamos trabalhar pela unidade das forças progressistas e democráticas em nível nacional, vamos defender que isso aconteça também no estado de São Paulo. Acredito hoje que essa unidade é mais facilmente construída e pode gerar mais frutos se for feita em torno do Guilherme Boulos, que me parece o candidato em melhores condições pra fazer essa disputa, em que pesem as pesquisas recentes", diz Medeiros. >
O dirigente afirma que Boulos representa renovação e vem de "um desempenho extraordinário" na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2020, quando perdeu no segundo turno para Bruno Covas (PSDB) - Jilmar Tatto (PT) terminou com 8,65%. >
"Boulos tem mantido diálogos muito produtivos com outros partidos do campo progressista que têm alguma resistência em apoiar uma candidatura do PT", pontua Medeiros. >
Como mostrou a Folha, o PT tampouco cogita abrir mão da candidatura de Haddad, o que estabelece um impasse na eleição paulista em que a esquerda tem sua melhor chance em anos - com candidatos bem posicionados e com fragmentação de adversários no campo da direita e no polo bolsonarista. >
A eleição de Medeiros, com 57% dos votos, era esperada, assim como sua posição pró-aliança com o PT é conhecida na sigla. Mas, de qualquer forma, o congresso deixou espaço para eventual recuo no apoio a Lula, brecha que será aproveitada pela ala minoritária que defende a pré-candidatura do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) à Presidência da República. >
Ficou acertado que, no primeiro semestre de 2022, o partido fará o que chamou de conferência eleitoral extraordinária para confirmar ou reavaliar sua posição em relação à eleição presidencial. "Nossa prioridade é o 'fora, Bolsonaro'. Vamos discutir detalhes da tática eleitoral só no ano que vem", explica o presidente do PSOL. >
Apesar da derrota, Braga ressaltou o apoio expressivo de 43% do partido e disse que continuará trabalhando para conquistar maioria pela sua candidatura. Sua esperança é reverter o cenário até a conferência eleitoral. >
Questionado pela Folha de S.Paulo sobre ainda haver espaço no PSOL para discussão de candidatura própria, Medeiros afirmou que o partido optou por convocar uma conferência em 2022 "porque considera que não é hora de centrar todo o debate na questão eleitoral". >
"Nenhum partido no Brasil tomou, nesse momento, qualquer definição sobre a tática eleitoral. Todos os partidos, de todos os campos ideológicos, estão debatendo o que fazer. Seria, portanto, absolutamente prematuro, eu diria inoportuno até, o PSOL apresentar um nome. É por isso que essa opção foi derrotada no nosso Congresso", completou. >
Medeiros afirma que abrir mão neste momento de um candidato não enfraquece o partido, que nasceu de uma dissidência do PT em 2003 e foi oposição aos governos Lula e Dilma Rousseff (PT) até uma reaproximação no impeachment da ex-presidente. >
"Tenho certeza de que quem confia no PSOL e quem acompanha o nosso trabalho compreende que o momento que estamos vivendo é absolutamente diferente, com um governo de extrema direita no poder. Nossas definições sobre a política eleitoral no ano que vem têm que levar em conta, em primeiríssimo lugar, a necessidade de derrotar Jair Bolsonaro e reconstruir o Brasil", diz ele. >
"Se o caminho vai ser, como nós apontamos no congresso, a construção de uma frente das forças democráticas e progressistas ou se o caminho vai ser, no primeiro turno, [ter] uma divisão, isso o tempo vai dizer. Mas o nosso empenho é construir um ambiente político que permita a unidade porque nós não vivemos tempos normais." >
O diálogo, segundo Medeiros, envolve PT, PC do B, PSB, PDT, Rede e até PV e Cidadania - siglas que hoje compõem a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, fórum de partidos e movimentos que já realizou cinco manifestações nacionais pelo impeachment do presidente desde maio. >
No entanto, se para a ala de Braga o adiamento da questão eleitoral representa uma oportunidade, para Medeiros pode ser uma via de escape caso a unidade progressista não se viabilize. >
A resolução do congresso do PSOL deixa claro que "a prioridade, em nível nacional, deve ser a construção da unidade entre os setores populares para assegurar a derrota da extrema direita", mas com ressalvas: "esse processo de diálogo deve envolver elementos programáticos, arco de alianças e não pode ser uma via de mão única". >
"Não queremos simplesmente um governo de 'salvação nacional': queremos um governo de esquerda", afirma o texto. >
À Folha Medeiros diz que a negociação não é bilateral, apenas com o PT, mas envolve os demais partidos e três aspectos --o programa da coalizão, o arco de alianças e que os interesses eleitorais de cada partido sejam respeitados. >
"A respeito do programa, o PSOL não aceitará qualquer medida que tenha como propósito retirar direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, restringir liberdade democráticas, fortalecer monopólios ou setores da especulação financeira. A hipótese de haver algum partido de centro em contradição com o bolsonarismo que queira compor uma aliança com as esquerdas é algo que nós vamos analisar, caso aconteça, no momento certo." >
Procurado pela reportagem, Braga afirma não ser "o pré-candidato oficialmente indicado pelo congresso". "Mas vou, como militante, dialogar com a base partidária até a conferência", completa. >
"Se o ex-presidente Lula escolhe [o dirigente nacional do MST João Pedro] Stédile como vice, a nossa tese de pré-candidatura acaba perdendo força, mas se ele escolhe Luiza Trajano ou alguém do mercado, nossa tese ganha força, com a possibilidade concreta de ser majoritária", resume o deputado. >
"Mantido o que vemos hoje, que é a priorização por parte de outros partidos de oposição de alianças com a direita, a minha avaliação é de que vamos ter candidatura própria. Temos que apresentar uma alternativa que as pessoas sintam como alternativa real a Bolsonaro", diz Braga, mencionando não apenas os acenos do PT ao centrão, mas também os do PDT e PSB. >
Outra preocupação levantada no congresso do PSOL é a questão da cláusula de barreira. "É um instrumento que precisa ser observado, porque foi pensado para enfraquecer as legendas ideológicas e fortalecer os partidos do centrão", diz Medeiros. >
Ele estima ser possível aumentar em 50% a bancada federal, de 10 para 15 deputados em 2022. >
"Isso tem a ver com garantir financiamento adequado para as candidaturas de negros e negras, mulheres, LGBTs. Que têm sido no PSOL o perfil de candidatura com muita força eleitoral, o que também aumenta a representatividade desses setores sociais sub-representados nos espaços de poder", afirma o presidente, minimizando reclamações de financiamento feitas por candidatos em 2020. >
Eleito para a presidência do PSOL em 2017 e agora reconduzido para um novo mandato de dois anos, Medeiros têm como primeira missão, ao lado de outros líderes partidários, a construção da manifestação pelo impeachment de Bolsonaro prevista para o próximo sábado (2). >
"Reconhecemos que as forças de esquerda não são suficientes para viabilizar o impeachment. Portanto, precisamos atuar em unidade de ação com todas as forças políticas e sociais que estejam em contradição com o governo para ir criando uma onda, um movimento de repúdio, que possa pressionar a maioria do Congresso e o próprio presidente da Câmara", diz ele. >
Questionado sobre o partido não ter participado do ato da direita pelo impeachment, no último dia 12, Medeiros afirmou que a ida do PSOL a protesto do MBL ou vice-versa não passa por convites mútuos, mas por construção conjunta, algo que, de maneira otimista, ele vê em curso para o dia 2. >
"É o dia em que o movimento pelo 'fora, Bolsonaro' vai demonstrar uma mudança de qualidade, com a adesão de partidos e movimentos que até agora não estavam de corpo e alma engajados nas ruas. Talvez não seja ainda, em termos quantitativos, a manifestação que vai, no dia seguinte, abrir o processo de impeachment. Mas estou muito otimista de que represente uma virada", diz o presidente do PSOL. >
"Há um esforço genuíno de todos para construir um processo que possa ser apropriado por todos. Sem que ninguém se sinta prejudicado. Vamos ver se é possível", completa. >
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