Publicado em 26 de junho de 2020 às 17:38
Lançada há mais de um mês e discutida desde março, uma proposta do Ministério Público Eleitoral em São Paulo para que partidos distribuam o fundo eleitoral de forma "mais democrática", combatam fake news e lancem candidaturas femininas reais e competitivas ainda não foi assinada por mais da metade dos partidos. >
Numa audiência pública em 8 de maio, procuradores e promotores apresentaram às legendas um termo de compromisso que prevê medidas que incluem o repasse de fundo eleitoral suficiente aos candidatos, para que eles tenham "condições mínimas" de realizarem suas campanhas.>
Ao assinar o termo, os partidos também asseguram que não contratarão fornecedores suspeitos, destinarão o percentual mínimo de fundo a candidaturas femininas, coibirão disparos de informações falsas e não farão caixa dois.>
"Esse é um movimento pelo resgate do sistema político partidário. A gente tem tentado mostrar para os partidos que esse é um esforço do resgate de confiança, de reputação e de melhora de imagem. Não tem pegadinha. Todos ganham", diz o promotor de Justiça Fábio Bechara.>
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As assinaturas dos partidos serão incluídas em um site que o Ministério Público pretende lançar até o início de julho, que ajudará os candidatos a localizarem fornecedores idôneos para suas campanhas.>
Até esta sexta (26), no entanto, o Ministério Público contabilizava dez partidos que haviam assinado o termo um terço das 33 legendas. Se comprometeram os diretórios estaduais do Podemos, PTB, Republicanos, PDT, Patriota, UP e PCB. Também constam Rede, DC e o PSB da capital paulista.>
Outros partidos têm prometido assinar, como PT, Solidariedade, PSOL, PMN, Pros e PTC, além do diretório municipal do PSDB. Mas isso ainda não ocorreu.>
Alguns partidos já descartaram aderir ao termo por uma série de motivos. A maioria afirma que o documento apresentado pelo Ministério Público lança uma desconfiança prévia sobre as legendas, como se elas tivessem a pretensão de descumprir a legislação.>
Em reservado, alguns diretórios estaduais também afirmam que não irão se responsabilizar por condutas que devem ser administradas pelos responsáveis pelos diretórios municipais. Outros, ainda, acham que o Ministério Público não pode impôr como deve ser feita a distribuição de recursos do fundo eleitoral.>
Um dos partidos que não tem a intenção de assinar é o PSL. "Respeito a intenção do Ministério Público e acho legítima, mas não altera em nada a ordem dos fatores assinar ou não. Como é que um cara que sai candidato vai prometer ser honesto? Honestidade é obrigação. Quem muito quer falar que é honesto é porque tem algo a dever", diz o presidente estadual da legenda, deputado Junior Bozella.>
O Novo, que também não irá aderir, diz em nota que "não há necessidade de assinar qualquer tipo de manifesto, incluindo o do Ministério Público, para se fazer cumprir a legislação eleitoral". O partido ainda afirma que não usa dinheiro público em suas campanhas e que seus candidatos passam por um processo seletivo.>
O PL (antigo PR) afirma que "não considera como possibilidade razoável a proposta de um movimento social pela obediência à legislação brasileira". "O respeito ao ordenamento jurídico é obrigação de todos e não reivindica mobilização política", diz a legenda.>
O presidente do DEM-SP, deputado Alexandre Leite, afirma que "a Lei Eleitoral já traz as obrigações e responsabilidades aos candidatos, que devem obedecê-la incondicionalmente".>
O PSD diz que irá criar mecanismos para divulgar aos diretórios municipais "a importância de suas ações em cada cidade para o sucesso do processo eleitoral". O MDB diz que apoia medidas que visam reforçar o cumprimento da legislação, mas não foi procurado oficialmente.>
A reportagem procurou ainda os partidos Cidadania, Avante e PC do B, que não se manifestaram. Representantes dos demais partidos que não aderiram não foram localizados.>
O site lançado pelo Ministério Público se chamará "Eleições Limpas 2020", e permitirá ao candidato que se cadastra checar se os fornecedores de campanhas realmente prestam os serviços que se propõem a fazer e se têm empregados nos seus quadros, por exemplo.>
Nele, o candidato ou partido poderá buscar informações por meio do CNPJ das empresas e os dados virão organizados em um arquivo PDF.>
Questionado sobre as críticas dos partidos, o procurador regional eleitoral em São Paulo, Sérgio Medeiros, diz que o termo de compromisso pretende fazer uma "sinalização à sociedade" da boa-fé dos partidos.>
"Infelizmente as eleições têm sido marcadas por algumas chagas, então temos que revisitar valores para oxigenar a nossa democracia. Você tem a lei e você tem valores. Quando você assina esse compromisso, você reafirma isso. Se deu de ombros, eu não sei se está sinalizando que tem esse compromisso", diz Medeiros.>
Luciano Santos, um dos fundadores do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), entidade que participou da elaboração do termo de compromisso, afirma que alguns partidos "ainda não entenderam que precisam se modernizar".>
"Alguns partidos se dispõem, mas sempre há uma resistência por parte de outros", afirma. "Sempre defendemos os partidos, mas às vezes eles são muito fechados e precisam se democratizar, porque têm perdido o protagonismo em discussões como a de candidaturas avulsas.">
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