Publicado em 5 de setembro de 2020 às 18:07
A procuradora Viviane Martinez, pivô da renúncia coletiva da Lava Jato São Paulo nesta semana, acusou a força-tarefa de concentrar a distribuição de processos criminais. A medida, segundo ela informou à Procuradoria-Geral da República em maio, levou a um vasto acervo de casos dentro da Lava Jato que superava o total investigado pelo próprio 5º Ofício, a qual estava vinculada. >
A atuação de Martinez, que era a procuradora natural da Lava Jato, foi duramente criticada pela força-tarefa em carta enviada ao Conselho Superior do Ministério Público Federal.>
Além de explicar os motivos da renúncia, os procuradores acusam a colega de impôr 'resistência ao aprofundamento da investigações em curso' - o cúmulo teria sido a solicitação para adiar uma operação que atingiria o senador José Serra (PSDB-SP), investigado por lavagem de propinas da Odebrecht nas obras do Rodoanel Sul.>
Os atritos, contudo, ocorrem desde março deste ano, quando Viviane Martinez assumiu o 5º Ofício. Em manifestação enviada a Aras, a procuradora alega que a força-tarefa da Lava Jato concentrava sozinha 'um acervo de processos muito maior do que os ofícios especializados da Procuradoria da República de São Paulo'.>
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Segundo Martinez, um mês depois de assumir o cargo, ela notou que 'um contingente muito grande de processos' eram remetidos à Lava Jato sem passar por livre distribuição - ou seja, sem a possibilidade de serem levados para outros procuradores.>
"Após uma reunião com membros da força-tarefa da Lava Jato São Paulo, obtive então a informação de que eles analisam as conexões de acordo com as linhas de investigação que previamente estabeleceram e que desejam se transformar em uma unidade de investigação e inteligência vinculada à PGR", apontou.>
A chefe do 5º Ofício disse que o modelo de distribuição adotado pela Lava Jato dificultou a implementação de medidas 'para evitar o crescimento desigual do acervo do 5º Ofício Criminal, com a redistribuição dos casos não conexos'. Segundo ela, a força-tarefa concentrava acervo com 255 processos enquanto o 5º Ofício tinha 146.>
"Na prática, a força-tarefa da Lava Jato SP continua sendo uma unidade de distribuição, pois os feitos são encaminhados diretamente a ela, e não ao 5º Ofício Criminal", afirmou.>
No pedido a Aras, Martinez se coloca à disposição para 'redistribuir os feitos que não foram livremente distribuídos ao 5º Ofício', o que de fato ocorreu, segundo a força-tarefa da Lava Jato.>
Segundo os procuradores relataram ao Conselho Superior do MPF, Martinez passou a decidir monocraticamente quais casos tem ou não conexão com a Lava Jato. A medida foi uma das críticas que levaram às 'incompatibilidades insolúveis' relatadas no pedido de renúncia.>
"Este tipo de declínio monocrático passou a se repetir com cada vez maior frequência nas últimas semanas. Ora se alegava que se estaria diante de feito que havia sido distribuído à Força-Tarefa apenas pela menção à 'Operação Lava Jato', ora se alegava que se estaria diante de nova investigação que não guardaria conexão com os casos do 5º Ofício". apontou a força-tarefa.>
A manifestação de Viviane Martinez reforça denúncia apresentada pelo procurador Thiago Lemos de Andrade, que acusou o Ministério Público Federal em São Paulo de cometer 'grave violação' na distribuição de processos para a força-tarefa sem passar pela procuradora natural. A manifestação levou o Conselho Nacional do Ministério Público a suspender o envio de casos diretamente para a força-tarefa. O Conselhão também cobrou explicações sobre a distribuição.>
O pedido de providência foi apresentado em março por Andrade, que alega a existência de interferência política na distribuição dos processos. "Em São Paulo, os inúmeros casos sob o título guarda-chuva de 'Lava Jato' tramitam em diferentes varas (da Justiça), circunstância que, por si só, escancara a ausência de conexão entre eles", acusa o procurador.>
Em agosto, a Corregedoria do MPF abriu sindicância para apurar os métodos de distribuição de casos à força-tarefa bandeirante. A nova apuração foi determinada pela corregedora-geral do MPF Elizeta Maria de Paiva Ramos, que disse a interlocutores que o caso teve início com a reclamação de um integrante da Procuradoria em São Paulo. Ela, no entanto, não revelou a identidade de quem fez a denúncia.>
As divergências internas dentro do MPF em São Paulo levaram à renúncia coletiva dos sete integrantes que compõem a força-tarefa da Lava Jato. Um oitavo procurador, que fazia parte do grupo, já estava de saída agendada. Segundo o grupo, a debandada ocorreu por 'incompatibilidades insolúveis' com a procuradora Viviane Martinez.>
Os procuradores destacam que desde o começo o envolvimento de Viviane Martinez 'pareceu muito aquém do que se esperaria de um procurador natural', pontuando que ela nunca participou de reuniões com advogados e colaboradores, de audiências judiciais pertinentes a casos da Lava Jato ou reuniões com delegados da Polícia Federal.>
Em outro momento, ela também solicitou o adiamento de uma operação que atingiria o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), investigado por lavagem de propinas da Odebrecht nas obras do Rodoanel Sul.>
A atitude da procuradora deixou a percepção à força-tarefa que ela'estava movida pelo intento central de reduzir drasticamente seu acervo, seja alegando que parte dele teria sido distribuída irregularmente, seja pedindo para que novas investigações não fossem conduzidas'.>
Viviane Martinez não se pronunciou sobre o caso até o momento. Procurado, o Ministério Público Federal também não se manifestou sobre as razões da renúncia da Lava Jato SP.>
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