Publicado em 29 de novembro de 2021 às 17:04
A um mês do fim de 2021, o Palácio do Planalto prioriza no Congresso projetos econômicos para tentar reverter ou reduzir a rejeição de Jair Bolsonaro (sem partido). As pautas têm apelo popular às vésperas de ano eleitoral. >
Reformas estruturais, como a tributária e a administrativa, caras ao ministro Paulo Guedes (Economia), estão fora dos planos. A ideia é melhorar a imagem do presidente, agora em níveis negativos recordes, segundo pesquisas.>
Hoje, cinco projetos são vistos como urgentes por auxiliares palacianos. São eles: a PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios; o novo marco do câmbio; a BR do Mar; a privatização dos Correios; e mudanças no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de combustíveis.>
A lista do Palácio do Planalto, porém, não deve ser totalmente atendida pelo Congresso. O principal entrave é a espinhosa relação com o Senado.>
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O presidente da Casa e potencial adversário de Bolsonaro em 2022, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se elegeu com aval do governo. No entanto, ele tem adotado uma atuação independente.>
Desde que Davi Alcolumbre (DEM-AP) deixou o comando da Casa, a disputa pelo controle de emendas tem desorganizado a base, alegam assessores de Bolsonaro, e faz com que o governo não tenha qualquer estimativa de quantos senadores apoiam suas propostas.>
Por isso também, eleger senadores aliados se tornou prioridade do mandatário em 2022.>
Auxiliares palacianos tentam, com urgência, colocar em andamento a PEC do Precatórios -que dá calote em dívidas judiciais reconhecidas pelo Judiciário e sem possibilidade de recurso- e destravar o aumento do Auxílio Brasil para, no mínimo, R$ 400 por mês.>
Esta é a principal pauta do governo no Congresso, por se tratar de uma promessa do chefe do Executivo e uma aposta para elevar a popularidade nas camadas de renda mais baixa do país.>
A intenção é começar a pagar o benefício de R$ 400 já em dezembro, mas as maiores bancadas do Senado querem mais mudanças na PEC, apesar das concessões já feitas pelo líder do governo na Casa, Fernando Bezerra (MDB-PE), que é relator da proposta.>
Bolsonaro disse, na terça-feira (23), desejar que a PEC seja aprovada na próxima semana. "Para a gente começar a pagar logo em dezembro esses R$ 400", afirmou à Rede Correio SAT, da Paraíba.>
Para o Planalto, também é prioritária a aprovação até o fim do ano do projeto de lei que muda a regra de ICMS para combustível. Esta também foi uma bandeira de Bolsonaro nos últimos meses por causa da alta no valor da gasolina.>
A medida já foi aprovada na Câmara. O texto prevê que o ICMS passe a ser um valor fixo.>
Os estados e o Distrito Federal poderão definir anualmente as alíquotas específicas. A taxa do tributo será calculada com base no valor médio dos combustíveis nos últimos dois anos.>
A expectativa dos patrocinadores da proposta, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é que o preço da gasolina e outros combustíveis caia em 2022 -ano eleitoral.>
No entanto, críticos do projeto dizem que esse método causará distorções e elevará o custo em 2023.>
O projeto está parado há um mês e meio no Senado, que ainda não tem acordo para votar a proposta.>
O governo vem sendo pressionado a tomar medidas para conter a alta no preço dos combustíveis. Por isso, há uma disputa entre o Palácio do Planalto e governadores que acusam Bolsonaro de culpar injustamente os estados, apesar de as alíquotas do ICMS não terem subido.>
A ideia do governo é garantir neste último mês do ano as medidas que podem dar ao presidente uma posição mais vantajosa na disputa eleitoral. Por isso, também, o auxílio gás foi tratado com urgência no Planalto.>
Sancionada no dia 22 de novembro, a "Lei do Auxílio Gás dos Brasileiros" determina que podem ser beneficiadas as famílias inscritas no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais) com renda familiar mensal per capita menor ou igual a meio salário mínimo.>
Bolsonaro confirmou que a ideia é começar a pagar o vale-gás em dezembro. "Objetivo é atender aquela parte mais carente da nossa sociedade", disse, também à Rede Correio SAT, na terça.>
Além das pautas com apelo popular, o governo quer avançar em projetos que agradam investidores e o mercado financeiro, como a privatização dos Correios. A proposta, que quebra o monopólio da estatal e abre a empresa para o capital privado, foi aprovada pela Câmara em agosto e está parada no Senado.>
Líderes de partidos independentes, como o MDB, criticam a ideia de privatizar a estatal. Há uma proposta em articulação que sugere transformar os Correios em sociedade de economia mista, em vez de privatizar.>
O governo listou ainda o projeto de lei que faz uma série de alterações no mercado cambial brasileiro e abre caminho para que pessoas físicas mantenham contas em moeda estrangeira, como dólar, no Brasil.>
A proposta foi alterada pelo Senado e, agora, precisa passar por nova votação na Câmara.>
A equipe econômica aposta que, ao destravar a agenda liberal, será possível impulsionar os investimentos no país, o que acelera o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e gera empregos. A crise econômica é uma das preocupações de aliados de Bolsonaro na campanha pela reeleição.>
Ainda que todas essas medidas sejam avaliadas como prioritárias pelo Planalto, auxiliares mais realistas admitem a dificuldade de aprová-las ainda neste ano. É possível que apenas a PEC dos Precatórios seja votada.>
Sobre reformas com efeito de médio a longo prazo, como a administrativa e a tributária, interlocutores do presidente já admitem que ficarão a perder de vista.>
Líderes governistas da Câmara dizem que ainda não há votos para aprovar a PEC que reformula as regras do funcionalismo público.>
A reforma tributária foi fatiada neste ano. A proposta de fusão do PIS e Cofins está na Câmara e foi travada após forte lobby dos setores que podem pagar mais impostos com a medida, como o de serviços.>
A proposta de mudança nas regras do IR (Imposto de Renda) é outro item que está parado no Senado por falta de apoio político.>
Em um jantar nesta semana na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria) promovido pelo MBC (Movimento Brasil Competitivo), Guedes fez um apelo pela aprovação das reformas.>
"Dentro do governo, tem um entorno também que acha que o presidente ganha se não fizer reforma", disse. "Eu acho que é o contrário. Avançar com as reformas é o sinal de uma administração que quer mover o Brasil. Mas tem gente, o cara quer ser eleito... Bom, deixa para lá", afirmou.>
Nos bastidores, Guedes enfrenta uma batalha com a ala política, em especial com o ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), que deve ser candidato ao governo do Rio Grande do Sul. Essa ala do governo defende que Bolsonaro gaste mais com programas sociais e deixe as reformas de lado.>
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