Publicado em 17 de janeiro de 2021 às 09:05
- Atualizado há 5 anos
A nota do Enem, que começa a ser aplicado neste domingo (17), é considerada por muitos estudantes uma caixa preta: a quantidade de acertos não é suficiente para definir a pontuação dos participantes. O desempenho final depende de quais questões foram anotadas corretamente. >
Análise do jornal Folha de S. Paulo mostra que candidatos com o mesmo número de acertos podem ter notas com centenas de pontos de diferença, fazendo com que participantes com menos acertos recebam notas maiores. Mas quanto mais questões se acerta, menor é a variação possível de notas a cada área da prova.>
O modelo causa apreensão nos participantes, reforçada na última edição do exame, em 2019, quando notas foram divulgadas com erros pelo governo Jair Bolsonaro.>
Milhares de candidatos passaram a questionar seus resultados por considerarem muito baixos com relação ao número de acertos ou na comparação com edições anteriores.>
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A reportagem analisou os microdados de 11 edições do Enem: de 2009, quando o modelo atual de pontuação foi implementado, a 2019.>
Com base em todos esses dados, a prova de matemática apresentou a maior possibilidade de diferença de notas de candidatos com o mesmo número de acertos.>
Entre os que acertaram 10 questões, por exemplo, a nota pode variar em 385 pontos -- entre 280 a 666 pontos. Essa distância cai para 201 pontos quando se compara as notas mínimas e máximas de quem acertou 40 questões (de um total de 45) em todas as edições.>
Na média, há um abismo de 177 pontos nas notas de matemática entre candidatos com o mesmo número de acertos.>
Já linguagens aparece com a menor variação de notas.>
Levando em conta as últimas 11 edições, caso o candidato acerte 40 questões a nota pode variar entre 642 e 793 --diferença de 151 pontos. Essa amplitude chega a 293 pontos ao se acertar, por exemplo, apenas dez questões.>
O Enem é dividido em quatro provas: matemática, linguagens, ciências humanas e ciências da natureza. Há também a redação, mas só na parte objetiva é adotada a TRI (Teoria de Resposta ao Item).>
Por causa desse modelo matemático, as notas finais variam de acordo com quais itens foram anotados corretamente --e não leva em conta apenas a quantidade de acertos.>
Esse formato prevê uma parametrização dos itens em vários critérios, como no nível de dificuldade.>
"A diferença entre notas, que aflige candidatos, é parte fundamental desse modelo adotado no Enem para discriminar o conhecimento dos candidatos, explica o professor Dalton Francisco de Andrade, do Departamento de Informática e Estatística da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).>
"Se você pegar todo mundo que acertou 20 de 45 questões, não necessariamente todas as pessoas sabem a mesma coisa. Porque depende dos itens que eles acertaram e erraram, e pode ter acerto casual também", diz ele.>
A TRI identifica como um possível chute, por exemplo, o candidato que erra duas questões fáceis e acerta uma difícil --e isso tem impacto na sua pontuação.>
Na teoria clássica dos testes, usada em provas como a Fuvest, todas as questões de múltipla escolha valem a mesma coisa na nota final.>
Errar apenas uma questão da prova pode resultar em uma diferença de até 92 pontos em matemática.>
Isso ocorreu na edição de 2017 do Enem, na comparação entre a menor e maior nota de candidatos com 44 pontos nessa disciplina.>
Essa diferença ocorre de acordo com qual questão, e seu nível de dificuldade, foi anotada erroneamente.>
Na média de todos as edições, errar uma questão de matemática pode valer 33 pontos. Suficiente para ficar de fora em uma disputa de curso concorrido.>
O Enem é a principal porta de entrada para o ensino superior público. É critério para bolsas do ProUni (Programa Universidade para Todos) e contratos Fies (Financiamento Estudantil) em instituições privadas.>
Os elaboradores das provas procuram ter itens com alto nível de discriminação para diferenciar participantes com muito bom desempenho nas vagas disputadas.>
Na última edição, de 2019, foi na prova de ciências humanas que se registrou o maior abismo de notas em provas com só um erro: 58 pontos.>
Professores de cursinhos sugerem que os participantes encarem o Enem com estratégia. "É importante fazer as questões mais fáceis no começo da prova, quando está descansado", diz o educador Mateus Prado. Isso ajuda a não errar itens fáceis e perder pontos.>
O Enem tem quatro versões de prova, identificadas por cores, em que as questões aparecem em ordem diferente.>
Análise de Prado e sua equipe mostrou que a mesma questão tem percentuais de acertos menores quando aparecem mais para o fim da prova. "Entre os muito concorridos, não da pra fazer todas as questões. Então não pode deixar de fazer uma fácil.">
Previsto inicialmente para novembro passado, o Enem 2020 começa neste domingo com as provas de linguagens, ciências humanas e redação.>
No próximo domingo, 24, é a vez das provas de ciências da natureza e matemática do exame.>
O Enem recebeu 5,7 milhões de inscritos. Por causa da pandemia, que provocou pressão para um novo adiamento, o próprio governo já espera uma abstenção mais alta que em anos anteriores --no Amazonas o exame sá será aplicado em fevereiro.>
Nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro ainda haverá a aplicação da primeira edição por computador, em um projeto piloto que envolve cerca de 100 mil inscritos.>
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