Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 14:52
- Atualizado há 5 anos
O MPF (Ministério Público Federal) providenciou o download de vídeos em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, defendem o que chamam de tratamento precoce, com prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina a pacientes com Covid-19. >
Os medicamentos não têm eficácia comprovada para a doença. O temor do MPF é que os vídeos possam ser apagados e provas, destruídas.>
As reiteradas declarações de Bolsonaro e Pazuello serão usadas como provas em procedimento aberto para investigar improbidade administrativa no uso de dinheiro público para distribuir, massivamente, cloroquina aos estados brasileiros.>
Pazuello é investigado no procedimento, instaurado no dia 22 de janeiro pela Procuradoria da República no DF. O processo pode ser convertido num inquérito civil público ou já resultar numa ação de improbidade administrativa.>
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A Folha questionou o Ministério da Saúde sobre o procedimento aberto pelo MPF. Não houve resposta até a publicação desta reportagem.>
A expectativa de procuradores é que, diante da evidência do que vem ocorrendo, uma ação pode ser protocolada na Justiça Federal antes da conversão em inquérito, a partir da reunião de provas sobre as ações do Ministério da Saúde para garantir a distribuição de cloroquina a pacientes com Covid-19.>
Outro foco da investigação é a omissão de Pazuello no fornecimento de oxigênio aos hospitais do Amazonas, depois de sucessivos alertas sobre a iminência do colapso das unidades de saúde.>
Esse fato também é investigado em um procedimento na esfera cível aberto pela Procuradoria da República no Amazonas.>
Na esfera criminal, o general da ativa é formalmente investigado pela PF (Polícia Federal) e pela PGR (Procuradoria-Geral da República), em inquérito aberto por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal). A investigação se concentra nas omissões do ministro no Amazonas.>
No TCU (Tribunal de Contas da União), processos apuram gastos públicos com a cloroquina e cobraram uma explicação de Pazuello.>
Uma auditoria apontou ilegalidade no uso de recursos do SUS para indicar um medicamento sem eficácia para a Covid-19, como a Folha mostrou no dia 26 de janeiro.>
Depois do ensaio de diferentes frentes de investigação sobre a distribuição de cloroquina, Pazuello passou a tentar um recuo em suas posições.>
Numa entrevista coletiva no Palácio do Planalto no dia 18 de janeiro, o ministro disse que não recomendava "tratamento precoce", mas "atendimento precoce".>
O MPF passou a temer que esses recuos pudessem ocorrer no nível das provas produzidas pelo próprio ministro e pelo presidente da República. Por isso, providenciou o download de vídeos com declarações das duas autoridades.>
Um dos vídeos é de uma entrevista de Pazuello em julho, no Rio Grande do Sul, em que ele citou a existência de uma orientação clara da pasta para o tratamento precoce. O ministro citou a hidroxicloroquina como uma possibilidade, se o médico assim decidir.>
Outro vídeo é de um discurso de Bolsonaro em agosto, no Palácio do Planalto, num encontro chamado "Brasil vencendo a Covid-19".>
"É uma missão difícil e então o Pazuello continuou e resolveu mudar. Não foi protocolo, foi orientação. O Pazuello resolveu mudar a orientação e botou ali então, em qualquer situação, aplicar-se a, ou melhor, receitar-se a hidroxicloroquina, de modo que a possibilidade de receitar a hidroxicloroquina, que o médico pudesse ter a sua liberdade", afirmou Bolsonaro.>
O MPF preservou ainda vídeos da posse de Pazuello no cargo efetivo de ministro da Saúde, em setembro, quando o general defendeu, dentro do Planalto, o chamado "kit Covid", que inclui a cloroquina.>
Outras provas são duas lives de Bolsonaro em janeiro, com a presença de Pazuello, em que eles defendem o tratamento precoce. Nas lives, o presidente fez uma defesa explícita da cloroquina.>
A investigação do MPF se concentra na conduta do ministro da Saúde. Eventual improbidade do presidente é de responsabilidade do procurador-geral da República, Augusto Aras, segundo entendimento de procuradores que cuidam das investigações.>
Se Aras entender que o presidente tem responsabilidade administrativa pela distribuição da cloroquina, poderá representar ao Congresso Nacional para a abertura de um processo específico, inclusive com apuração sobre crime de responsabilidade, na visão de integrantes do MPF.>
O procedimento na Procuradoria da República no DF aponta que outros fatores além da cloroquina, como a falta de testes, de vacinas e de um posicionamento claro sobre a importância da vacinação, podem configurar "uma suposta estratégia ilegal e/ou inadequada de combate à pandemia pelo ministério, que apresentam relevância no contexto de aumento de óbitos".>
"Todos esses fatos, somados, podem configurar um contexto de responsabilização administrativa do chefe da pasta da saúde, cujas supostas omissões estariam colaborando para o aumento do número de óbitos por Covid-19 ou, talvez, a não redução desse índice na velocidade que se deveria esperar", afirmou a procuradora Luciana Loureiro ao instaurar o procedimento, no último dia 22.>
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