Publicado em 15 de agosto de 2024 às 14:23
BRASÍLIA - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu aumentar a multa e indicou possível responsabilização do X (antigo Twitter), do empresário Elon Musk, pelo crime de desobediência.>
No dia 8 de agosto, Moraes determinou que a plataforma bloqueasse sete contas na rede social, incluindo a do senador Marcos do Val (Podemos-ES). O X, porém, não cumpriu a decisão judicial e já tem mais de R$ 300 mil em multas a pagar à Justiça.>
Em um ofício sigiloso, o ministro assinou a nova decisão na terça-feira (13). Ela foi enviada à empresa um dia depois, na quarta (14). No documento, Moraes determinou que a plataforma deveria bloquear os perfis em até uma hora e sugeriu possível responsabilização do X pelo crime de desobediência caso os perfis seguissem ativos, como ainda estão até o início da tarde desta quinta-feira (15).>
"Fica determinado, ainda, que a decisão anteriormente proferida, cujo teor foi comunicado mediante o Ofício eletrônico 16832/2024, deverá ser cumprida no período máximo de 1 (uma) hora, sob pena de multa diária de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) para cada um dos perfis indicados, bem como na configuração de crime de desobediência de seu representante legal", diz trecho do ofício.>
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A multa inicial estipulada por Moraes era de R$ 50 mil por dia. Com o novo valor, o X poderá pagar até R$ 1,4 milhão por dia.>
Segundo a nova decisão, a empresa terá até cinco dias para pagar a multa aplicada pelo tempo em que a plataforma não cumpriu a determinação judicial.>
O perfil oficial do X divulgou o ofício com a nova decisão de Moraes nesta quinta. A plataforma afirma que o ministro "exige a censura de contas populares no Brasil, incluindo um pastor, um atual parlamentar e a esposa de um ex-parlamentar".>
"Acreditamos que o povo brasileiro merece saber o que está sendo solicitado a nós", afirma o X.>
Procurados, a plataforma X e a assessoria do ministro Alexandre de Moraes comunicaram que não vão se manifestar. >
Os perfis alvos da decisão de Moraes são o influenciador Ednardo Raposo; o engenheiro Cláudio Luz, que tem 577 seguidores na rede; o pastor Josias Pereira Lima; o senador Marcos do Val; a esposa do ex-deputado Daniel Silveira, Paola da Silva Daniel; a conta da filha de Oswaldo Eustáquio, usada por Mariana Eustáquio e sua mãe, Sandra Eustáquio; e o bolsonarista Sérgio Fischer.>
A decisão que fundamenta o bloqueio das contas está sob sigilo, e as plataformas também não tiveram acesso a ela. O documento enviado às redes comunica somente as providências que deveriam ser adotadas.>
Entre as determinações anunciadas pelo ministro estão o bloqueio das contas; a derrubada de sigilos telemáticos dos alvos; a checagem se familiares de Oswaldo Eustáquio e se Allan dos Santos acessaram ou publicaram em perfis de terceiros; e o envio de todos os registros de acesso dos perfis alvos.>
A suspeita é que Oswaldo Eustáquio e Allan do Santos, investigados pela Polícia Federal e alvos de decisões de suspensão de contas, usem contas de terceiros para fazer publicações nas redes sociais.>
O descumprimento da decisão de Moraes pelo X (antigo Twitter) tem repercutido entre representantes das big techs como um dos embates mais intensos entre o ministro e as plataformas, segundo representantes de duas empresas.>
Há nos bastidores apreensão pelos impactos no curto prazo da possível configuração de crime de desobediência.>
O prazo para o X recorrer da decisão de Moraes termina no início da próxima semana.>
A disputa entre a plataforma e o ministro ocorre no mesmo momento em que reportagem da Folha de S.Paulo revelou que Moraes ordenou por mensagens e de forma não oficial a produção de relatórios pela Justiça Eleitoral para embasar decisões dele próprio contra bolsonaristas no inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal durante e após as eleições de 2022.>
Diálogos aos quais a reportagem teve acesso mostram como o setor de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido à época por Moraes, foi usado como um braço investigativo do gabinete do ministro no Supremo.>
As mensagens revelam um fluxo fora do rito envolvendo os dois tribunais, tendo o órgão de combate à desinformação do TSE sido utilizado para investigar e abastecer um inquérito de outro tribunal, o STF, em assuntos relacionados ou não com a eleição daquele ano.>
Elon Musk encabeçou uma ofensiva pública contra Moraes em abril. O caso teve início com a divulgação do "Twitter Files Brazil", conteúdo que reuniu e-mails trocados por funcionários da rede entre 2020 e 2022 reclamando de decisões da Justiça brasileira no âmbito de investigações sobre a propagação de notícias falsas e ataques ao sistema eleitoral.>
Musk passou a fazer críticas a Moraes no X, o acusou de ordenar censura e ameaçou descumprir decisões judiciais.>
Com a repercussão dos documentos, uma comissão dos Congresso dos EUA pediu à rede social que enviasse todas as decisões sigilosas de Moraes que pedissem a suspensão ou a remoção de perfis.>
Os congressistas divulgaram uma lista com 77 decisões do ministro sobre derrubada de perfis em 2022 — em alguns casos, as contas dizem respeito à mesma pessoa, mas em diferentes plataformas.>
Na ocasião, o STF divulgou nota oficial explicando que o relatório do congresso dos EUA tinha somente os ofícios enviados às plataformas para cumprimento da decisão. Era uma resposta às críticas pela falta de fundamentação para os bloqueios das redes.>
"Fazendo uma comparação, para compreensão de todos, é como se tivessem divulgado o mandado de prisão (e não a decisão que fundamentou a prisão) ou o ofício para cumprimento do bloqueio de uma conta (e não a decisão que fundamentou o bloqueio)", diz a nota do Supremo.>
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