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Ministro diz que não cabe interferir em guerra que pode tirar Huawei do 5G

Ministro diz que não cabe interferir em guerra que pode tirar Huawei do 5G

Em audiência no Congresso, o Ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirmou que disputa geopolítica pode favorecer operadoras de telefonia

Publicado em 11 de agosto de 2021 às 18:19

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O ministro Fábio Faria em inauguração no Piauí
O ministro Fábio Faria em inauguração no Piauí. (Isac Nóbrega/PR)

O Ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD-RN), afirmou nesta quarta-feira (11) que não é seu papel interferir nas questões geopolíticas em curso no mundo capazes de impor restrições à atuação da chinesa Huawei na construção de redes 5G no país.

A declaração foi dada em resposta à deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) durante audiência da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados.

A parlamentar, que preside o grupo de trabalho do 5G na Câmara, quis saber se o governo brasileiro aceitará banir a Huawei do 5G caso prospere a oferta de apoio dos EUA ao ingresso do Brasil na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Como revelou o jornal Folha de S.Paulo, o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, ofereceu ao governo Jair Bolsonaro apoio para que o Brasil se torne um sócio global da Otan. Em troca, o Brasil teria de vetar a participação da Huawei no futuro mercado de 5G nacional.

A política oficial de Washington é que a presença de fornecedores considerados não confiáveis -como a Huawei e outras empresas chinesas- em redes de comunicação de quinta geração impedem o aprofundamento na cooperação de defesa e segurança. Por isso, o acesso do Brasil ao programa da Otan só seria possível sem a participação dos chineses no 5G brasileiro.

"Se os governos quiserem fazer essa guerra, vai ser bom para as teles. Se os EUA oferecerem funding [linhas de crédito] paras as teles comprarem os equipamentos [dos EUA ou de fabricantes europeus], vai ter queda de preço. A gente não pode se meter para uma tele oferecer um benefício para A, B ou C. Agora, esse jogo vai ser jogado. Essa guerra [geopolítica] está acontecendo no mundo inteiro."

Segundo o ministro, sua equipe está monitorando a fabricação de chips para celulares e antenas. Faria mencionou ainda uma crise de fornecimento na maior fabricante de insumos em Taiwan, que vive um embate político com a China.

O resultado seria uma restrição de fornecimento de chips para a chinesa Huawei, algo que preocupa pela possibilidade de falhas de abastecimento no Brasil, comprometendo a expansão das redes 5G.

"No sul da China tem uma guerra. Os EUA se uniram com os europeus. A SMIC [empresa de Taiwan] detém 70% do mercado e não está fornecendo mais para a Huawei", disse Faria. "Quem vai conversar com as operadoras para mostrar se haverá supply chain [cadeia de fornecimento] não é o Ministério das Comunicações e o presidente Jair Bolsonaro. Estamos acompanhando o que está acontecendo, mas o cenário está definido há um ano, quando o edital [do 5G] estava pronto."

O edital do 5G não trata de equipamentos que deverão ser usados na construção das novas redes. Ele só trata das regras para a compra das frequências -avenidas no ar por onde as operadoras fazem trafegar seus dados.

Pelo edital, cada frequência traz metas de investimentos obrigatórios na massificação da infraestrutura e do acesso à internet em troca de que esses valores sejam abatidos do preço das frequências.

Durante o debate em torno do edital, houve forte pressão do governo dos EUA para que o próprio edital trouxesse algum tipo de restrição aos fabricantes da China.

Isso porque o país vive uma disputa geopolítica com os EUA que se arrasta desde o governo do ex-presidente Donald Trump até hoje, com o presidente Joe Biden.

As teles reagiram à pressão porque hoje quase 85% das redes em funcionamento são equipadas pela Huawei. No 5G, há o risco de que esse parque instalado precise ser totalmente trocado caso haja o banimento. Isso porque, hoje, os equipamentos da Huawei não conversam com os aparelhos 5G de outros fabricantes.

Para evitar essa situação, Faria teve a ideia de criar uma rede privativa para a administração pública federal como forma de arrefecer a resistência dos militares do Palácio do Planalto contra a China tendo a Huawei como alvo.

No entanto, o TCU apontou irregularidades no edital. A construção desse rede, por exemplo, seria ilegal porque essa rede não atenderia o interesse coletivo, algo que contraria os princípios da LGT (Lei Geral das Telecomunicações) segundo os auditores.

O ministro não quis comentar os questionamentos feitos pela área técnica do TCU e se restringiu a afirmar aos parlamentares que "tem plena confiança na aprovação do edital na reunião do plenário na próxima quarta-feira (18)".

Durante a audiência, Faria causou controvérsia ao explicar os motivos que levaram o Ministério das Comunicações e a Anatel a retirar a cobertura das escolas urbanas e rurais das obrigações de investimentos atrelados ao edital.

A presidente da Comissão de Educação, deputada Dorinha Rezende (DEM-TO), questionou o ministro sobre a ausência de uma obrigação explícita para que as teles levassem a conexão às escolas.

O ministro disse que as escolas estão cobertas pelo edital porque o "5G vai passar por todos os lugares". O ministro disse que as obrigações preveem a passagem de fibras ópticas por todos os locais com mais de 600 habitantes, seguindo um cronograma que avançará de acordo com a população de cada localidade.

"Quando chega na cidade [a infraestrutura], não tem como excluir nada. Qualquer escola, restaurante, qualquer casa, praça, bar, tudo aqui está dentro da obrigação do 5G."

As obrigações de cobertura, no entanto, não se referem a metas de conectividade (número de domicílios ou estabelecimentos com fibra óptica passando na porta). Elas se referem à instalação da fibra em cada localidade. O acesso depende da venda de pacotes pelas operadoras.

A deputada Dorinha reagiu e disse que não há como cobrar compromisso se ele não está explícito.

"Compromisso precisa estar explícito, senão não é compromisso", disse Dorinha. "Obrigação pra ser cobrada precisa estar registrada."

Nos leilões anteriores (3G e 4G), as teles foram obrigadas a conectar as escolas. Essas metas foram estabelecidas nos editais.

Faria disse ainda que as escolas estão contempladas no leilão 5G e que o próprio ministério está conduzindo um programa para levar a conectividade às escolas que, por ventura, não forem assistidas pelas operadoras.

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