Publicado em 3 de dezembro de 2021 às 09:02
O ex-advogado-geral da União André Mendonça tomará posse no STF (Supremo Tribunal Federal) em 16 de dezembro e assumirá a relatoria de diversos processos importantes em tramitação na corte.>
Mendonça herdará o acervo de Marco Aurélio Mello, que se aposentou em julho, e ficará responsável pelas ações que tratam da prisão após condenação em segunda instância e pelo caso que discute se o presidente Jair Bolsonaro (PL) pode bloquear seguidores em redes sociais.>
A discussão sobre a criação da taxação de grandes fortunas também será relatada por ele. Ao todo, o ex-AGU chegará à corte com 991 processos em sua mesa.>
Outro caso sensível que estará sob a responsabilidade do futuro ministro é um inquérito contra o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais aliados de Bolsonaro, responsável pela indicação de Mendonça.>
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A Primeira Turma da corte já aceitou a denúncia contra o congressista nesse caso, em que ele responde por corrupção passiva. Lira é acusado de ter aceitado, por meio de seu assessor, propina oferecida pelo então presidente da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), Francisco Colombo.>
Além dos temas que ficarão em seu gabinete, há outros julgamentos em que seu voto será decisivo.>
O debate sobre a possibilidade de travestis e transexuais com identidade de gênero feminino poderem optar em qual presídio irão cumprir pena, por exemplo, está 5 a 5, e Mendonça definirá se o grupo vulnerável tem ou não esse direito.>
Outro assunto que deve voltar à pauta da corte e no qual Mendonça terá papel fundamental é o julgamento do marco temporal para demarcação de terras indígenas. A análise do caso foi interrompida por pedido de vista (mais tempo para analisar o processo) do ministro Alexandre de Moraes.>
Bolsonaro já deu diversas declarações a favor da fixação do marco temporal, que é uma bandeira da bancada ruralista do Congresso.>
Mendonça também participará do julgamento de uma série de ações que questionam decretos de Bolsonaro que flexibilizam o porte e a posse de armas no país.>
Parte dessas normas já foi suspensa por decisões dos ministros Rosa Weber e Edson Fachin e caberá ao plenário decidir se mantém ou não as ordens individuais dos dois magistrados. Ainda não há data marcada para análise dos casos.>
Por causa da demora na aprovação de Mendonça, o Supremo teve de redistribuir processos urgentes que estavam com Marco Aurélio.>
A regra interna do tribunal determina que as ações de emergência, nessas situações, vão para o ministro mais antigo do tribunal --no caso, Gilmar Mendes. Por isso, a discussão sobre a obrigatoriedade de o IBGE realizar o Censo, por exemplo, foi para o atual decano da corte.>
No final, o STF mandou o Executivo fazer o levantamento no próximo ano, e o caso já está praticamente encerrado na corte, sem tempo para uma atuação de Mendonça.>
O ministro também cumprirá um papel importante no tribunal porque será um dos integrantes da Segunda Turma.>
Além do plenário composto pelos 11 ministros, há dois colegiados com 5 integrantes que costumam julgar temas criminais. A Segunda Turma, por exemplo, é responsável por processos ligados à Lava Jato.>
São nesses julgamentos que a posição do futuro ministro será testada. Grande parte da resistência ao seu nome no Senado ocorria pelo histórico de Mendonça de defender pautas ligadas à operação.>
A senadores, porém, ele prometeu que adotará uma linha garantista, que costuma dar prevalência aos direitos dos réus em investigações.>
Sua posição em temas criminais é aguardada com apreensão porque o Supremo costuma ter placares apertados em julgamentos dessa natureza. Na análise das ações mais delicadas ligadas à Lava Jato, por exemplo, a maioria acabou em 6 a 5.>
Como Marco Aurélio tinha um perfil mais garantista, um voto de Mendonça no sentido oposto ao do antecessor pode reverter uma série de jurisprudências da corte. Esse é o caso, por exemplo, da prisão após condenação em segunda instância.>
Ele será o relator das ações, que estavam com Marco Aurélio, e ainda poderá dar um voto decisivo para voltar a permitir a execução antecipada de pena. A princípio, porém, não há previsão de o Supremo voltar a debater esse tema.>
O cenário é similar em relação ao entendimento fixado pela corte que retira da Justiça Federal e leva à Justiça Eleitoral a competência para analisar crimes que tenham relação com campanhas políticas.>
Além da prisão em segunda instância, Mendonça também será relator do processo em que partidos de oposição pedem para o Supremo obrigar o governo federal a elaborar um plano de prevenção e combate de incêndios no Pantanal e na Amazônia.>
Em setembro, 32 ONGs protocolaram uma solicitação para que a corte trate essa ação com urgência.>
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