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Lula mantém silêncio sobre suspeitas de corrupção no governo Bolsonaro

Lula mantém silêncio sobre suspeitas de corrupção no governo Bolsonaro

A hashtag "Lula sumiu" alcançou o ranking de assuntos mais comentados no Twitter; petistas negam sumiço e dizem que ex-presidente não é obrigado a comentar notícias

Publicado em 2 de julho de 2021 às 17:01

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 10/03/2021  - O Ex-presidente poderá se tornar elegível para as próximas eleições após decisão de juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) de anular suas condenações pela Lava Jato.
O Ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concede coletiva de imprensa no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, nesta quarta-feira (10). (ETTORE CHIEREGUINI/AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO)

Desde que a CPI da Covid no Senado avançou sobre suspeitas de corrupção no governo Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário do presidente na eleição de 2022, não comentou em suas redes sociais sobre o caso Covaxin ou o relato de pedido de propina revelado pelo jornal Folha de S.Paulo. O fato tem sido explorado por adversários do petista.

Nas redes, o silêncio de Lula foi questionado pelo também presidenciável Ciro Gomes (PDT) e por políticos que defendem a chamada terceira via, como o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP). O movimento cresceu na quarta-feira (30), quando a hashtag "Lula sumiu" alcançou o ranking de assuntos mais comentados no Twitter.

Naquele dia foi protocolado o superpedido de impeachment de Bolsonaro, que reúne setores da esquerda e da direita. A falta de manifestação de Lula foi lida por políticos como parte da estratégia do petista de, em vez de apoiar a remoção do presidente, trabalhar para desgastá-lo até 2022 e vencê-lo nas urnas, como indicam as pesquisas atuais.

No fim do dia, Lula tuitou sobre o superpedido de impeachment, mas ainda mantém o silêncio sobre as suspeitas de corrupção.

"Parabenizo as forças de oposição ao Bolsonaro e os movimentos sociais que conseguiram unificar os mais de 120 pedidos de impeachment pra pressionar o [presidente da Câmara, Arthur] Lira. Espero que as manifestações de rua convençam o presidente da Câmara a colocar em votação", publicou o ex-presidente.

Para Ciro, Lula evita tratar do tema de corrupção por também ter tido casos em seu governo, notadamente o mensalão e a corrupção na Petrobras, investigada pela Operação Lava Jato. O próprio presidente, porém, teve condenações da Lava Jato anuladas, e o ex-juiz Sergio Moro foi considerado parcial pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

"Aliás, cadê a opinião do Lula sobre esses escândalos todos? Olha a encalacrada que nós caímos: o principal líder da oposição até o presente momento não deu uma palavra sobre esta absurda corrupção na roubalheira em vacinas", escreveu Ciro.

"Não fala nada porque na hora que ele falar em corrupção a turma manda ver Palocci, Sérgio Machado, Eunício Oliveira... Manda ver Ricardo Barros, que era vice-líder do governo Lula", completou.

"Lula sumiu, parece que decidiu não comentar os escândalos de corrupção contra Bolsonaro. O bolsopetismo se retroalimenta, Lula não existe sem Bolsonaro e vice versa. O ex-presidiário sabe que sem o genocida, o sonho de levar o segundo turno dele morre", avaliou Kataguiri.

Desde quando os irmãos Miranda prestaram depoimento à CPI sobre o caso Covaxin, na última sexta-feira (25), Lula comentou sobre migração, direitos LGBTQIA+, falou contra o voto impresso, relembrou o dia da sua vacinação contra Covid e afirmou que "Bolsonaro não tem estatura pra ser presidente" --mas não tratou das suspeitas nas compras de vacinas.

Petistas minimizam a falta de posicionamento de Lula e veem uma tentativa de desgaste do petista por parte de Ciro, que foi duramente criticado pela presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) nesta sexta-feira (2).

"Ciro Gomes está competindo com Bolsonaro na mentira e na baixaria. Os métodos são iguais porque os dois tremem de medo de enfrentar Lula nas urnas. No caso do Ciro é ainda pior. Mente e ofende para ter palanque na mídia e ficar mais 'confiável'. Passou de coronel para jagunço da direita", afirmou Gleisi.

Na defesa de Lula, petistas lembraram a ausência de Ciro no segundo turno de 2018, quando o pedetista viajou para Paris.

Aliados do ex-presidente também resgataram os comentários de Lula sobre Fabrício Queiroz, suspeito de ser operador da rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

"O que o Brasil precisa é gerar empregos, tirar o povo da pobreza. Bolsonaro nunca combinou com democracia. É um falso patriota que entrega nossa soberania aos EUA e condena o povo à pobreza. Um falso moralista que acoberta o Queiroz e outros corruptos e criminosos", disse Lula em fevereiro de 2020.

Procurada pela reportagem, a assessoria do ex-presidente afirmou que ele "acompanha a apuração que está em andamento sobre os casos pela CPI da Covid e pela imprensa".

Nos bastidores, parlamentares do PT avaliam que Lula está à espera de que as investigações sobre as negociações de vacina com a Precisa e com a Davati avancem. Afirmam ainda que o ex-presidente não é comentarista de notícia e não tem poupado críticas ao governo Bolsonaro, sobretudo em relação à economia e combate à pandemia.

Interlocutores do ex-presidente dizem que Lula tem sido cauteloso em seus posicionamentos e que deve, no futuro, comentar os casos denunciados pelos irmãos Miranda e pelo policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira.

Um exemplo do cálculo político de Lula ante qualquer manifestação é o caso dos protestos de rua pelo impeachment, que o petista levou tempo para apoiar publicamente e ponderou sobre os efeitos de sua presença, optando ao final por não comparecer.

Gleisi rechaça a tese de que Lula, na verdade, não deseje o impeachment de Bolsonaro. "Lula é a grande voz de oposição. O PT está à frente, puxando o processo de impeachment. Lula já se manifestou em redes sociais sobre isso", disse a presidente do partido.

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