Publicado em 17 de maio de 2021 às 17:30
No momento em que o país acaba de passar pelo mês mais letal da pandemia e especialistas já cogitam uma terceira onda de casos de Covid-19, o nível de isolamento dos brasileiros é o mais baixo desde o início das restrições impostas para conter a disseminação do coronavírus. >
Pesquisa Datafolha mostra que três em cada dez brasileiros adultos (30%) estão totalmente isolados ou saem de casa somente quando inevitável. Esse percentual, que teve seu maior índice no início de abril de 2020, com 72%, era de 49% em março deste ano. >
Desses 30%, 2% dizem não sair de casa sob hipótese alguma --uma queda de seis pontos percentuais em relação a março de 2021 (8%) e cifra bem distante dos 18% registrados em pesquisa de abril do ano passado, logo no início da pandemia. >
Já os que declaram sair de casa somente quando inevitável somam 28%, bem abaixo dos 41% registrados na pesquisa de março passado, quando o país enfrentava o pico da segunda onda de Covid-19, com falta de leitos de UTI, oxigênio e medicamentos para intubação de pacientes. >
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No entanto 63% dos que dizem sair de casa para trabalhar e fazer outras atividades afirmam tomar cuidado. O índice é recorde desde o início da pandemia e um salto em relação a março último, quando esse grupo representava 47%. >
Já 7% dos ouvidos na pesquisa afirmam viver normalmente, sem alterar a rotina em razão da Covid-19. >
Para esse levantamento, o Datafolha realizou 2.071 entrevistas presenciais, entre os dias 11 e 12 de maio, em 146 municípios, com brasileiros de 16 anos ou mais, de todas as classes sociais e regiões do país. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. >
O isolamento total é majoritário entre os que têm mais de 60 anos (considerados grupo de risco para a Covid-19), com 4% de adesão. O índice, no entanto, é inferior ao de março, quando 12% dos entrevistados dessa faixa etária afirmavam não sair de casa. Entre as duas pesquisas, esse foi o grupo que mais se beneficiou com a campanha de vacinação contra a doença no país. >
Já entre os que dizem sair de casa somente quando inevitável, é possível notar que a cautela está relacionada à idade. Na faixa etária de 16 a 24 anos, os que evitam sair somam 19% --número que chega a 49% entre os com mais de 60 anos. >
A baixa adesão dos jovens ao isolamento social foi acompanhada de um aumento de casos e hospitalizações por Covid-19. Levantamento da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) mostrou que o percentual de mortes de pacientes com idades entre 18 e 45 anos, internados em UTIs, pulou de 13,1%, entre setembro e novembro de 2020, para 38,5%, entre fevereiro e março deste ano. >
No grupo dos que dizem sair de casa para trabalhar e realizar outras atividades, tomando cuidado (63%), os maiores índices foram notados entre os homens (68%, ante 58% das mulheres), nos que têm de 25 a 34 anos (72%), entre os com mais escolaridade (72% têm ensino superior) e entre os que possuem renda familiar de mais de dois a dez salários mínimos (70%). >
Entre as ocupações, 84% dos trabalhadores assalariados, 82% dos assalariados sem registro e 79% dos empresários declaram fazer parte dessa parcela. >
Já nos que afirmam estar saindo de casa normalmente, sem mudar nada na rotina, os maiores percentuais foram observados entre homens (11%, ante 4% das mulheres), nos que têm renda de mais de dez salários mínimos (10%) e entre os que sempre confiam nas falas do presidente Jair Bolsonaro (14%). >
Consenso entre especialistas para frear um vírus transmitido principalmente por gotículas de saliva e aerossóis, o isolamento social vem sendo combatido pelo presidente desde o início da pandemia. Bolsonaro já usou as palavras "histeria" e "fantasia" para classificar a reação da população e da imprensa à doença. >
Em conversa com apoiadores do lado de fora do Palácio da Alvorada na manhã desta segunda-feira (17), o presidente chamou de "idiotas" as pessoas que, obedecendo medidas restritivas para evitar a disseminação do coronavírus, ficam em casa. >
Bolsonaro enalteceu o agronegócio, que o homenageara em um ato na Esplanada dos Ministérios no sábado (15). Ele disse que o homem do campo não parou durante a pandemia, garantindo alimentos para quem deixou de sair às ruas. "Se o campo tivesse ficado em casa, esse cara tinha morrido de fome, esse idiota tinha morrido de fome. Daí, ficam reclamando de tudo." >
No ato de sábado, do alto de um caminhão de som, Bolsonaro havia voltado a ameaçar tomar medidas contra um eventual lockdown nos estados. "Não desafiamos ninguém, não queremos confronto com ninguém, mas não ousem confrontar ou roubar a liberdade do nosso povo." >
Na semana passada, Bolsonaro tinha dito já ter pronto um decreto para proibir prefeitos e governadores de adotarem medidas restritivas de combate ao coronavírus, como toque de recolher e fechamento do comércio. >
A declaração do presidente sobre o decreto é mais uma provocação ao STF (Supremo Tribunal Federal), que já deu aval para que estados e municípios tomem medidas nesse sentido no combate à Covid-19. >
O Datafolha ainda avaliou a sensação de segurança dos brasileiros para a retomada de algumas atividades. Ir a festas é considerada a mais insegura delas. Somente 4% dos entrevistados afirmam se sentir muito seguros nesses locais. Outros 13% dizem se sentir pouco seguros, e 82%, nada seguros. >
A ida a igrejas e templos religiosos é apontada como a atividade com menor risco de contaminação. Segundo a pesquisa, 18% se sentem muito seguros, 42% um pouco seguros e 39% nada seguros nesses espaços. >
Em março, o presidente Bolsonaro incluiu as atividades religiosas no rol de serviços essenciais, que não devem ser suspensas mesmo durante as fases mais críticas da pandemia. >
Já o fato de sair para trabalhar é avaliado como muito seguro para 14% dos participantes, pouco seguro para 53% e nada seguro para 31%. >
Escolas e faculdades representam um ambiente muito seguro para 8% dos entrevistados, pouco seguro para 43% e nada seguro para 47%. >
Questionados a respeito da abertura das escolas, 46% disseram que as unidades deveriam ficar fechadas durante toda a pandemia. Já 28% responderam que apoiam a abertura parcial, e 18%, o fechamento somente nas fases mais restritivas. Outros 7% disseram-se favoráveis à abertura sem restrições e 1% não soube opinar. >
Projeto de lei que considera aulas presenciais de educação básica e superior como serviços e atividades essenciais foi aprovado pela Câmara dos Deputados em abril. O texto seguiu para o Senado e teve a votação adiada em 6 de maio, após aprovação de requerimento para realização de audiência pública sobre o tema. >
O texto proíbe a suspensão de aulas presenciais, exceto quando as condições sanitárias de estados e municípios não permitam, em situação que deverá estar fundamentada em critérios técnicos e científicos. Nesse caso, a decisão deverá constar em ato do chefe do Executivo estadual ou municipal.>
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