Publicado em 10 de setembro de 2025 às 09:38
Por muitos anos, Galápagos, no Oceano Pacífico, foi conhecida por ser um verdadeiro santuários de espécies únicas, como as tartarugas-gigantes e as iguanas-marinhas. Isso agora pode mudar e ilhas oceânicas brasileiras, como Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo e Trindade, podem passar a dividir o título de mais diversas do planeta.>
O estudo Escalas de Endemismo Marinho em Ilhas Oceânicas e o Endemismo Provincial-Insular, publicado na última quarta-feira (10) pela plataforma científica Peer Community Journal, destaca a presença massiva de espécies exclusivas e de grande relevância para a ciência nas ilhas oceânicas brasileiras.>
“O trabalho de campo tem contribuído para um levantamento mais apurado da nossa biodiversidade. Temos encontrado e descritos muitas novas espécies que são endêmicas, exclusivas das nossas ilhas. E, com isso, a gente observa que as ilhas brasileiras têm uma importância mundial muito grande em relação à proporção dessas espécies endêmicas”, explica o pesquisador da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), Hudson Pinheiro, que liderou o estudo.>
Junto com a equipe, que conta com diversos pesquisadores do mundo, Pinheiro analisou mais de 7 mil espécies de peixes recifais em 87 ilhas do mundo. E entre as conclusões os pesquisadores revelaram que 40% das espécies são presentes em mais de uma ilha da mesma região, mas não colonizam áreas continentais próximas.>
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A partir dessa descoberta, o grupo propõe um novo conceito científico de Endemismo Provincial-Insular, que levaria essas espécies a serem consideradas endêmicas. Segundo Pinheiro, o termo traria mais interesse às localidades que não ganharam a fama de serem centros de endemismo e, portanto, atraem menos estudos e iniciativas de conservação.>
O pesquisador explica que o mesmo comportamento é tratado pela ciência de forma desigual.>
“Por exemplo, a Ilha de Fernando de Noronha tem algumas espécies que só ocorrem ali, mas também tem muitas espécies que ocorrem ali e na Ilha do Atol das Rocas. Ou somente em Fernando de Noronha e na Ilha de São Pedro e São Paulo. Então, elas compartilham algumas espécies que não estavam sendo contadas como endêmicas”, diz.>
Para Pinheiro, esse olhar mais detalhado da ciência sobre as espécies que habitam as ilhas oceânicas, além de permitir uma maior compreensão dos processos evolutivos e ecológicos em ambientes recifais, também permite a descoberta de mais espécies endêmicas.>
“As Ilhas oceânicas são locais muito mais difíceis de serem estudadas do que a costa continental, que está aqui mais perto da gente. As Ilhas Oceânicas dependem de expedições científicas e consequentemente acabam tendo menos oportunidades de estudos. Então, corre o risco de algumas espécies já terem sido até mesmo extintas antes de serem descobertas”, afirma.>
As mudanças climáticas ocasionadas pelo aquecimento global reforçam a urgência do avanço desses estudos, diz o cientista.>
“No continente, com o aquecimento mais intenso ocorrendo nos trópicos, muitas espécies são capazes de migrar para regiões de latitudes mais altas, e, portanto, mais frias. Ou seja, é possível ocorrer uma transição dos ambientes marinhos, ou espécies que conseguem migrar. Mas em ilhas oceânicas, isso não ocorre”, explica.>
Cooperação>
Para o cientista, essa vulnerabilidade das espécies que habitam as ilhas oceânicas exigem um esforço coletivo que viabilize iniciativas de apoio à pesquisa nessas regiões. Ele explica que os resultados apresentados pelo grupo de cientista só foram possíveis pelo empenho da Marinha do Brasil, com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e organizações sociais que apoiam as pesquisas.>
“Ao revelar a riqueza do endemismo nas ilhas brasileiras, reforçamos a urgência de proteger esse patrimônio. Não se trata apenas de evitar que a biodiversidade desapareça, mas de assegurar que o oceano continue a fornecer recursos, regular o clima e inspirar novas soluções para o futuro”, afirma Marion Silva, gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário.>
Outra iniciativa que levou ao avanço das pesquisas nas ilhas brasileiras foi a criação da primeira estação de mergulho científico mesofótico da América Latina, pelo Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar USP), que preparou os pesquisadores para a coleta de dados e a observação de ambientes com até 150 metros de profundidade.>
“Nosso apoio se baseia na crença de que a ciência, quando aplicada, gera benefícios concretos para a sociedade. As expedições que apoiamos nas ilhas brasileiras nos últimos anos já atualizaram listas de espécies e revelaram novos registros para a ciência”, conclui Marion Silva.>
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