Publicado em 12 de julho de 2022 às 08:06
Em meio a um desabastecimento de medicamentos e insumos de saúde, mais da metade dos equipamentos de saúde do país está com dificuldade de comprar até mesmo soro fisiológico. Entidades do setor alertam que a crise pode prejudicar pacientes em tratamento de hemodiálise. Uma pesquisa feita pela CNSaúde (Confederação Nacional de Saúde) identificou que 53% dos equipamentos de saúde estão com estoque de soro abaixo de 25%. Outros 37% estão com estoque abaixo de 50%.>
O levantamento também mostra que 40% das unidades só têm encontrado o produto no mercado com preços acima de 100% do usual. A pesquisa foi respondida por 106 estabelecimentos, como hospitais e clínicas especializadas, do Distrito Federal e de 13 estados - Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo.>
Um dos tratamentos que pode ser mais afetado é o de hemodiálise, já que as máquinas usadas precisam ser limpas com soro fisiológico entre um paciente e outro. "Não existe uma explicação para a falta de um insumo tão básico e tão importante para o atendimento de saúde. O mercado brasileiro está completamente desregulado e os centros de diálise estão muito preocupados com as repercussões desse problema", diz Yussif Ali Mere Junior, presidente da ABCDT (Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplantes).>
Segundo ele, caso a falta do insumo se mantenha, os centros terão de recorrer a outros produtos para limpar as máquinas de hemodiálise. As alternativas, no entanto, encarecem ainda mais os custos do tratamento.>
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Há meses o país vem enfrentando o desabastecimento de uma série de remédios. Em abril, e depois novamente em junho, entidades médicas alertaram o Ministério da Saúde sobre o baixo estoque nos hospitais.>
As entidades cobravam a adoção de "ações coordenadas no sentido de contribuir com a regularidade da comercialização dos medicamentos, tendo em vista todas as implicações e prejuízos clínicos que a ruptura de estoque pode ocasionar". Entre elas estavam a Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), a SBA (Sociedade Brasileira de Anestesiologia) e a SBRAFH (Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde).>
Segundo a pesquisa da CNSaúde, além do soro, os equipamentos de saúde relatam falta de outros insumos básicos, como dipirona injetável (com baixo estoque em 62,9% das unidades), atropina (50,5%) e até contraste usado em exames radiológicos (49,5%). As entidades cobram ações do Ministério da Saúde para solucionar a situação que se arrasta há meses. "Oficiamos o ministério e a Anvisa e não obtivemos resposta sobre o que estão fazendo para evitar o desabastecimento", diz Breno Monteiro, presidente da CNSaúde.>
Outro levantamento, feito pelo Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), também identificou a falta de antibióticos, como amoxicilina e azitromicina, em unidades de saúde de 284 municípios do país. Em nota, o Ministério da Saúde diz que o desabastecimento de insumos médicos é resultado de "diversas causas globais que extrapolam" sua competência. Às entidades, a pasta tem dito que o problema é consequência da guerra na Ucrânia, do fechamento de portos na China em decorrência da pandemia de Covid-19 e da alta do dólar.>
As entidades ressaltam, no entanto, que o soro fisiológico, por exemplo, é produzido no Brasil e não depende da importação de insumos para sua fabricação. O ministério disse ainda que, no início de junho, publicou uma portaria que libera critérios de estabelecimento ou de ajuste de preços para remédios com risco de desabastecimento no mercado.>
"A pasta continua atuando em conjunto com Anvisa, estados e municípios e representantes das indústrias farmacêuticas para articular ações de enfrentamento ao desabastecimento de insumos hospitalares no país", diz nota da pasta.>
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