Publicado em 15 de setembro de 2022 às 11:27
RENATA GALF >
Pesquisadores do Datafolha têm sido alvo de hostilidade crescente enquanto realizam seu trabalho. Apenas nesta terça-feira (13), o instituto de pesquisas contabilizou dez intercorrências em municípios das diferentes regiões do país --dentro de um universo de 470 pesquisadores. >
Houve casos nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Maranhão, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.>
Em Goiânia, um entrevistador chegou a ser empurrado por um homem que se identificou como bolsonarista e que disse não querer o profissional do Datafolha nas redondezas.>
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Em um município do Rio Grande do Sul, um pesquisador foi levado para averiguação por um policial que se identificou como eleitor de Jair Bolsonaro (PL). Antes de chegarem à delegacia, ele parou o carro e fez perguntas ao pesquisador que, na sequência, foi liberado e continuou seu trabalho em outro local.>
De acordo com Luciana Chong, diretora geral do Datafolha, relatos de pessoas que passam gritando, acusando o instituto de ser comunista ou tentando filmar os entrevistadores como forma de intimidá-los têm sido comuns. Ela nota, contudo, que há uma piora no cenário --especialmente depois do feriado de 7 de Setembro, quando houve atos pelo país a favor de Bolsonaro.>
"O pesquisador está fazendo a entrevista e chega alguém querendo ouvir, dar sua opinião, querendo responder", diz Chong. "São pessoas que querem mesmo interferir.">
Em agosto, em Belo Horizonte, quatro homens perseguiram uma entrevistadora, chamando o Datafolha de comunista e esquerdista. Ela saiu correndo e acabou caindo no chão e machucando o joelho. O grupo então teria se assustado e parou de segui-la. Eles estariam tentando pegar à força o tablet no qual ela registrava as respostas.>
Em seu discurso no 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro fez um novo ataque ao instituto. O mandatário aparece em segundo lugar, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas principais pesquisas.>
"Nunca vi um mar tão grande aqui com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha. Aqui é o nosso datapovo. Aqui, a verdade, a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador", disse na ocasião.>
Apoiadores do presidente costumam contrapor fotos de manifestações de rua às pesquisas de intenção de voto, o que chamam de "datapovo".>
Já em 2018, gravações feitas de ao menos dois pesquisadores viralizaram nas redes sociais e colocaram ambos em alto grau de exposição.>
"O que preocupa é a escalada, perceber que está piorando", afirmou Renata Nunes César, que é diretora de pesquisa do Datafolha.>
O Datafolha é um instituto independente de pesquisa de opinião que pertence ao Grupo Folha e atua com pesquisa eleitoral e levantamentos estatísticos para o mercado. O instituto não faz pesquisas eleitorais para governos ou políticos.>
Nesta quarta (14), viralizou um vídeo de uma pesquisadora gravada por bolsonaristas no dia anterior na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. "Se você é bolsonarista, ela não aceita, só aceita do Lula", diz o autor do gravação, que usa outras expressões como: "Datafolha lixo", "pilantragem do Datafolha", "canalha", "sujo", "mentira", "falsa", "falcatrua".>
Os pesquisadores do instituto recebem um treinamento padronizado, que determina que pessoas que se oferecem para serem entrevistadas devem ser obrigatoriamente evitadas, para que a amostra seja aleatória.>
"Como parte do material de todos os pesquisadores são checados remotamente, a transgressão dessa norma leva ao cancelamento automático de todos os questionários desse pesquisador", afirmou o instituto em nota após a reverberação do vídeo. "A pesquisadora não só atendeu a todos os parâmetros que uma pesquisa séria deve seguir, mas também protegeu o objeto de seu trabalho.">
Situação semelhante ocorreu em Alagoas, onde três homens abordaram uma pesquisadora na terça-feira dizendo que eram apoiadores de Bolsonaro e que deveriam ser entrevistados.>
No mesmo dia, no Maranhão, uma mulher, depois de insistir sem sucesso para ser entrevistada, buscou um guarda municipal, sob a alegação de que a pesquisadora estaria coletando a digital dos entrevistados. Após avaliar o tablet, ele liberou a continuidade do trabalho.>
Na maior parte dos casos, as pessoas que buscam intimidar os pesquisadores se declaram como bolsonaristas ou citam o nome do presidente, de acordo com a diretoria do instituto.>
Nesta terça, porém, um episódio no interior de São Paulo envolveu uma mulher que disse ser apoiadora de Lula. Depois de se oferecer para ser entrevistada e ter seu pedido negado, ela passou a perseguir a pesquisadora e começou a chamar pessoas que estavam em um bar para responder à pesquisa.>
A metodologia do Datafolha prevê pontos específicos para a realização das entrevistas. No caso de mudança para outro ponto entre os mapeados, é preciso uma autorização da equipe de planejamento.>
O instituto diz que, nos levantamentos nacionais ou estaduais, primeiro são sorteados os municípios que farão parte do levantamento; depois, os bairros e pontos onde serão aplicadas as entrevistas.>
O Datafolha também usa cotas proporcionais de sexo e idade de acordo com dados obtidos junto ao IBGE e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).>
Outras instruções são as de não dar permissão para ser filmado e a de não usar o crachá do Datafolha enquanto estiver se deslocando, apenas enquanto estiver realizando as entrevistas.>
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