Publicado em 23 de setembro de 2020 às 21:22
Em defesa contra o processo de impeachment que enfrenta na Assembleia Legislativa do Rio, o governador afastado Wilson Witzel (PSC) afirmou na noite desta quarta-feira (23) que é vítima de um linchamento moral e político e sustentou que a democracia está sob risco. >
Witzel falou por videoconferência durante sessão na Assembleia que define o prosseguimento de seu afastamento.>
O discurso ocorreu antes que os deputados votassem a autorização do processo por crime de responsabilidade, que poderia deixar Witzel mais próximo do impeachment.>
O ex-juiz é acusado pela PGR (Procuradoria-Geral de Justiça) de ter chefiado um esquema de desvio de recursos destinados ao combate à pandemia do novo coronavírus. Ele foi afastado temporariamente ao final de agosto pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça).>
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Exaltado em diversos momentos durante sua fala, Witzel disse que não teve direito à defesa na Assembleia e nos tribunais. Também afirmou que cada vez mais a força do voto está sendo solapada por decisões judiciais e criticou "delações espetaculares" do Ministério Público.>
"As ruas estão calmas, silenciosas, não é porque as pessoas estão com medo da Covid. É porque estão silenciadas por tudo o que está acontecendo, atônitas de ver um governador afastado do cargo sem direito à defesa", afirmou.>
Witzel disse que não abrirá mão de sua defesa e de seu mandato, e afirmou que o erro contra ele será reparado. Citou, também, erros que, em sua visão, não foram consertados. "Como o presidente [Fernando] Collor, vítima de um impeachment, que em 2014 foi absolvido.">
Desde que foi acusado, Witzel já disse que é vítima de uma pulverização nacional por ser opositor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nesta quarta, o governador afastado voltou a citá-lo, afirmando que o presidente foi "leviano demais" ao acusá-lo de praticar atos para prejudicar sua família.>
Witzel, ex-juiz eleito em 2018, também criticou a politização de juízes, membros do Ministério Público e da Defensoria Pública.>
"Se essa Casa aderir ao lavajatismo, não haverá mais quem possa defender a sociedade. Vejo que já está formada a unanimidade, eu já estou sendo condenado pela Assembleia sem direito de defesa", afirmou.>
O governador afastado lembrou da mãe, empregada doméstica, e do pai, metalúrgico, e disse que ambos choram por ele. "Eu deixei uma magistratura de 17 anos, ilibada. Encontrem no meu passado uma mácula sequer, uma única sentença vendida.">
O rito prevê que, se dois terços dos deputados forem favoráveis à autorização do processo, ou seja, 47, o Tribunal de Justiça será comunicado para a formação de um tribunal misto, composto por cinco deputados escolhidos pela Assembleia e cinco desembargadores sorteados.>
Ainda que Witzel já tenha sido temporariamente retirado do cargo pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), a decisão dos deputados é importante porque poderia levar ao impeachment, a partir do julgamento pelo tribunal misto.>
A sessão desta quarta-feira começou às 15h. O rito definia que cada um dos 25 partidos representados na Casa teria uma hora para debater o tema. Ao fim das discussões, Witzel também foi autorizado a falar por uma hora.>
Mantida a tendência pelo prosseguimento do impeachment, o resultado da votação será publicado no Diário Oficial desta quinta-feira (24) e o Tribunal de Justiça do Rio será comunicado para dar início à formação do tribunal misto.>
Os cinco deputados que irão compor o tribunal devem ser definidos em votação na Assembleia na próxima terça-feira (29). A partir da notificação, o TJ-RJ terá cinco dias para sortear os cinco desembargadores que farão parte do tribunal.>
Em seguida, o relator do tribunal também será definido por sorteio. Witzel será notificado e terá 15 dias para apresentar defesa.>
A partir da resposta do governador afastado, o relator terá mais 10 dias para se posicionar a favor ou contra da instauração do processo no tribunal. Os demais integrantes, em seguida, também votarão pelo prosseguimento ou pelo arquivamento do caso.>
Se o tribunal decidir pela instauração, o afastamento temporário de Witzel será renovado por 180 dias, enquanto o grupo analisa e julga o processo.>
A sessão do julgamento de Witzel será presidida pelo presidente do TJ, responsável por decidir sobre o impeachment em caso de empate entre os membros do tribunal.>
O governador afastado é alvo de duas denúncias da PGR por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.>
A PGR afirma que Witzel utilizou-se do cargo para estruturar uma organização criminosa, na qual fornecedores do estado teriam pago R$ 554.236,50 em propinas ao escritório de advocacia de sua esposa, Helena Witzel.>
Os investigadores sustentam que, a partir da eleição de Witzel, estruturou-se uma organização criminosa dividida em três grupos, representados por quatro empresas, que disputavam o poder no governo do estado mediante o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos.>
A denúncia descreve que na área da saúde o grupo instituiu um esquema de uma espécie de "caixinha" para o pagamento dessas vantagens, principalmente por meio do direcionamento de contratações de organizações sociais e na cobrança de um "pedágio" sobre a destinação de restos a pagar aos fornecedores.>
Em sua delação, o ex-secretário de Saúde Edmar Santos afirmou que os recursos desviados da Saúde iam para um caixa único e um montante de 20% era destinado a Witzel. Segundo o ex-secretário, outros 20% eram destinados ao Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC.>
Uma das operações apontadas como suspeitas foi a contratação da OS (organização social) Iabas para gerir hospitais de campanha. De acordo com os investigadores, a Iabas contribuiu com a "caixinha de propina".>
Interceptações telefônicas e um ofício assinado pelo governador afastado são apontados pelos investigadores como indicativos de sua participação em irregularidades.>
Em outubro de 2019, a UNIR Saúde -responsável pela administração de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento)- foi proibida de fazer contratos com o poder público após constatação de irregularidades na prestação de serviços.>
Em março, um ofício assinado por Witzel revogou essa portaria, comprovando, segundo o Ministério Público, provável envolvimento da cúpula do Executivo fluminense.>
De acordo com a investigação, a UNIR pertence ao empresário Mário Peixoto, também alvo da denúncia. A PGR suspeita que Witzel tenha revogado a portaria em troca do recebimento de propina.>
Segundo o Ministério Público, os empresários firmavam contratos fictícios com o escritório de advocacia de Helena Witzel, o que permitia a transferência indireta de valores pagos por empresários ao governador.>
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