Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 07:48
- Atualizado Data inválida
Documento do Ministério da Saúde contradiz afirmação do ministro Eduardo Pazuello desta segunda-feira (18) de que a pasta não tem protocolo sobre uso de medicamentos como a hidroxicloquina contra a Covid-19. Ao contrário do que afirmou Pazuello, o ministério tem um guia oficial orientando a administração da hidroxicloroquina e de outras substâncias que não têm eficácia comprovada contra o vírus. >
"Nós defendemos, incentivamos e orientamos que a pessoa doente procure imediatamente o posto de saúde, procure o médico. E o médico faça o diagnóstico clínico do paciente. Este é o atendimento precoce. Que remédios o médico vai prescrever, isso foro íntimo do médico com seu paciente. O ministério [da Saúde] não tem protocolos sobre isso, nem poderia ter. Não é missão do ministério definir protocolo para o tratamento. Tratamento é uma coisa, atendimento é outra", declarou Pazuello, em coletiva de imprensa ao lado do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC).>
Apesar da fala do ministro, a Saúde tem em seu site um guia com orientação para "manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19".>
Na semana passada, o próprio Pazuello lançou em Manaus um aplicativo, restrito a profissionais de saúde, que estimula a prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus.>
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O TrateCOV sugere a prescrição de hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina, a partir de uma pontuação definida pelos sintomas do paciente após o diagnóstico de Covid.>
Também na semana passada, em meio à falta de leitos e de oxigênio para pacientes com Covid-19 em Manaus, a Saúde montou e financiou força-tarefa de médicos defensores do "tratamento precoce" para visitarem Unidades Básicas de Saúde na capital amazônica, conforme revelou o Painel.>
Segundo alguns dos envolvidos, eles não receberam pela participação, mas tiveram diárias de hotel e alimentação pagas pelo governo federal.>
Um ofício do Ministério da Saúde, revelado pelo Painel, classificava como "inadmissível" a não-utilização de medicações como o antimalárico cloroquina e o antiparasitário ivermectina para controlar a pandemia em Manaus.>
O guia do ministério é tratado internamente como um protocolo, embora tecnicamente ele precisaria passar por uma comissão interna para ser considerado um documento do tipo. Divulgá-lo como uma orientação foi uma saída técnica da pasta para evitar críticas.>
O documento, disponível no site da pasta e atualizado em agosto, traz as recomendações do governo para sintomas leves, moderados e graves causados pelo coronavírus.>
A Saúde orienta que nos casos leves seja administrado difosfato de cloroquina. Também traz recomendações com quantidades para azitromicina e sulfato de hidroxicloroquina.>
Em dezembro, a pasta respondeu a requerimento de informação da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e reafirmou o que consta nas recomendações de agosto.>
"O referido documento orienta a utilização de quatro medicamentos no tratamento da Covid-19, sendo a Azitromicina 500 mg associada à Cloroquina 150 mg ou à Hidroxicloroquina 400 mg e Oseltamivir", afirma o ofício.>
Uma das primeiras missões de Pazuello quando assumiu a Saúde interinamente foi ampliar o uso da cloroquina para o tratamento contra a Covid, o que havia levado à saída de seu antecessor, Nelson Teich.>
A pasta também já divulgou um gráfico em que associava, de forma errônea, a redução de mortes por Covid a uma primeira versão do documento (de maio do ano passado), citando como "tratamento precoce".>
Além do mais, o presidente Bolsonaro é um defensor do uso de cloroquina, ivermectina e azitromicina para o tratamento contra a Covid, mas esses medicamentos não têm eficácia contra o vírus.>
No sábado (16), o Twitter marcou como enganosa e potencialmente prejudicial uma publicação do Ministério da Saúde que colocava o "tratamento precoce" como estratégia de combate ao coronavírus.>
Na manhã desta segunda, mesmo após diretores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) terem dito no domingo (17) que não há alternativa terapêutica contra a doença, Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce.>
"Não desistam do tratamento precoce. Não desistam, tá? A vacina é para quem não pegou ainda. E esta vacina que está aí [Coronavac] é 50% de eficácia. Ou seja, se jogar uma moedinha para cima, é 50% de eficácia. Então, está liberada a aplicação no Brasil", disse Bolsonaro a apoiadores.>
Na coletiva de imprensa desta segunda, Pazuello se irritou com a pergunta de uma jornalista que lhe questionou sobre o tratamento precoce defendido pela pasta. >
"Eu não falei isso, senhora. Eu não falei isso, senhora. Eu não usei esse termo nenhuma vez, a senhora não ouviu falar nada disso. A senhora não ouviu falar em nenhum remédio. Então por que está dizendo que eu falei?", reagiu Pazuello, em tom irritado.>
"Senhora, a senhora nunca me viu, nunca me viu receitar ou dizer, colocar para as pessoas tomarem esse ou aquele remédio. Nunca. Não aceito a sua posição.">
Questionado sobre se o governo continuaria distribuindo cloroquina para os demais entes federados, o ministro respondeu: "Quando solicitado pelos estados e municípios".>
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