Publicado em 27 de maio de 2023 às 20:44
A recém-instalada Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas opera no modo "guerra" de requerimentos. Com apenas três dias de funcionamento, parlamentares governistas e de oposição já apresentaram 396 pedidos de providências a serem adotadas pelo colegiado. >
Longe dos holofotes das sessões transmitidas ao vivo, deputados e senadores batalham nos bastidores para emplacar seus requerimentos, que, ao cabo, podem guiar os rumos das investigações e fazer prevalecer determinadas narrativas.>
Não há limite para a apresentação de requerimentos, mas os parlamentares precisam convencer seus pares da necessidade de aprovar as suas demandas. A presidência da comissão precisa pautar os pedidos e a maioria votar pela aprovação.>
O recordistas de pedidos apresentados é o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que foi responsável por 82 documentos que pedem desde a convocação de ex-ministros do governo Jair Bolsonaro (PL), como Anderson Torres, até aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marcos Amaro.>
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As convocações para suspeitos e testemunhas apresentarem seus depoimentos formam a maioria dos pedidos apresentados pelos parlamentares. Também há medidas administrativas elencadas. A deputada Duda Salabert (PDT-MG), por exemplo, solicitou todos os dados da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) relacionados aos atos do dia 8 de janeiro. Já o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) solicitou ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal (STF) todas as imagens captadas no dia da invasão aos Três Poderes.>
Na guerra de requerimentos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) aproveitou o poder de polícia da CPMI para pedir acesso completo ao inquérito do STF no qual o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), figura como investigado por suspeita de incitação aos atos golpistas. A defesa do ex-presidente tem alegado que o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito dos atos golpistas na Suprema Corte, os impede de ter acesso às acusações para formular sua estratégia defensiva.>
Os aliados de Bolsonaro são responsáveis por 168 dos 396 requerimentos. Como mostrou o Estadão, o ex-presidente ordenou que seus deputados e senadores tenham foco completo na CPMI dos Atos Golpistas em detrimento de outros movimentos de direita, como as manifestações convocadas pelo deputado cassado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) na tentativa de reaver seu mandato. Bolsonaro chegou a boicotar a organização dos atos em discurso.>
Há ainda medidas que miram o enfrentamento político. O deputado Rogério Correia (PT-MG) apresentou na última quinta-feira, 25, requerimento solicitando a quebra de sigilo telefônico e telemático de Bolsonaro. Correia argumenta no pedido que "a depredação dos prédios dos Três Poderes da República surge da reiterada ação de vários atores políticos inconformados com a derrota eleitoral, uma avalanche de publicações mentirosas nas redes sociais questionando o pleito eleitoral e a ação e omissão do então Presidente da República Jair Messias Bolsonaro".>
Outros aliados de Lula, como a senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA), que é suplente do ministro da Justiça Flávio Dino, também solicitaram a convocação do ex-ministro e candidato à vice na chapa de Bolsonaro em 2022, general Walter Braga Netto.>
Contra o ex-titular do GSI sob Bolsonaro, general Augusto Heleno, recaem sete pedidos de convocação para que ele explique a atuação da área de inteligência do governo em situações de crise que antecederam o 8 de janeiro. Entre elas, o monitoramento dos acampamentos golpistas em frentes aos quartéis militares e os atos violentos no centro de Brasília no dia 12 de dezembro, quando Lula foi diplomado presidente.>
Os parlamentares da base de Lula aproveitaram as revelações da Polícia Federal (PF) de que o ex-aliado de Bolsonaro, Ailton Barros, tramou um golpe de Estado com o ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, para apresentar cinco requerimentos contra Ailton e outros quatro contra Cid. Contra o ex-secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, preso após a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, recaem três pedidos de depoimento.>
Os aliados de Bolsonaro se valeram da mesma medida de Correia, mas para desgastar o governo Lula. Izalci solicitou as informações sigilosas do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GS), general Gonçalves Dias, que pediu demissão após ser flagrado dentro do Palácio do Planalto no dia da invasão do dia 8 de janeiro. Já Eduardo Bolsonaro solicitou a convocação dos ministros Flávio Dino e José Múcio, da Defesa.>
O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) pediu em seu único requerimento que o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passo, envie documentos relativos à atuação da corporação no dia 8 de janeiro.>
Foram protocolados até o momento 243 requerimentos de convocação, além de três convites para prestar depoimento. Há ainda outros 32 requerimentos de quebra e transferência de sigilos bancário, telemático e telefônico de suspeitos. Os outros 118 documentos apresentados à mesa diretora da CPMI são de pedidos de informação a órgãos do poder público, como a Presidência da República, as Forças Armadas e a Procuradoria-Geral da República.>
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