Publicado em 10 de maio de 2021 às 17:40
Os senadores que compõem a CPI da Covid pretendem investigar o ex-chanceler Ernesto Araújo por ter usado o Itamaraty para garantir o fornecimento de cloroquina no Brasil. >
O depoimento, que inicialmente estava previsto para esta semana, foi adiado para o próximo dia 18.>
Conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo, o ex-ministro das Relações Exteriores mobilizou o aparato diplomático brasileiro para agir junto a outros países e evitar o desabastecimento do medicamento no país, mesmo após a OMS (Organização Mundial da Saúde) ter interrompido testes clínicos com a droga e depois de associações médicas terem alertado para a ineficácia e o risco de efeitos colaterais.>
A corrida do Itamaraty atrás da cloroquina começou pouco depois de o presidente Jair Bolsonaro falar em "possível cura para a doença" em suas redes sociais, em 21 de março do ano passado.>
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Durante todo o mês de abril de 2020, houve inúmeros pedidos do Itamaraty para obtenção de cloroquina -defendida por Bolsonaro como cura para a Covid-19.>
A reportagem mostrou também que o empenho do Itamaraty para garantir vacinas e medicamentos da China foi muito menor do que o dedicado à cloroquina.>
Até novembro de 2020, o ministério não havia enviado instruções específicas para diplomatas prospectarem potenciais fornecedores de vacinas ou medicamentos na China, segundo pessoas envolvidas em negociações.>
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou nesta segunda-feira (10) que Ernesto será questionado, em seu depoimento na comissão, sobre os esforços para a compra de cloroquina.>
Segundo Aziz, os senadores apelaram inúmeras vezes a Ernesto, quando estava no cargo, para fazer esforços internacionais para comprar vacinas. Para o presidente da CPI, o depoimento do ex-chanceler vai ajudar a apurar o papel do Itamaraty na compra de vacinas e medicamentos contra a Covid.>
"Ele fez esforços para comprar cloroquina, que não funciona, e negligenciou compra de vacinas, que funcionam.">
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que, além dos dados apresentados pela reportagem, outros também serão levantados para investigar como atuou o Itamaraty sob o comando de Ernesto na pandemia do novo coronavírus.>
"Serão fundamentais para elucidação dos fatos e atrairá os refletores para o depoimento do ex-chanceler. Outros fatos dessas tratativas internacionais também serão levantados.">
O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que a reportagem foi importante para puxar o debate sobre o assunto. Na sua visão, o ex-chanceler não atuou como deveria em outros temas importantes da CPI, como as vacinas.>
"Ernesto não moveu uma palha para a vinda de respiradores, EPIs, testes e não participou das articulações para a compra de vacinas.">
Ernesto pediu demissão em março após pressão da cúpula do Congresso, que o acusava de omissão no combate à pandemia -ele é apontado como um dos responsáveis pelo fracasso na negociação entre os governos brasileiro e indiano para a compra de um lote de vacinas contra a Covid.>
O Senado se tornou o grande foco de atrito com o ex-chanceler.>
O episódio mais recente, considerado estopim para a saída, foi uma postagem nas redes sociais do ex-ministro, na qual insinua uma ligação do Senado com o lobby chinês pelo 5G, o que, segundo ele, estaria por trás da pressão para derrubá-lo.>
Horas após deixar o comando do Ministério das Relações Exteriores, Ernesto publicou sua carta de demissão, entregue a Bolsonaro.>
No texto, ele se queixa de "uma narrativa falsa e hipócrita, a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros, segundo a qual minha atuação prejudicaria a obtenção de vacinas".>
Nesta semana, o principal foco da CPI será investigar as articulações para compra de vacinas contra a Covid-19 e também o aparato de comunicação oficial e informal do governo, que consiste nas mensagens propagadas por apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais.>
Os senadores irão ouvir Antonio Barra Torres, presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), nesta terça-feira (11). Além dele, será ouvido o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten na quarta (12).>
Já na quinta-feira (13) será a vez de Carlos Murillo, que até janeiro deste ano era presidente regional da Pfizer no Brasil. Atualmente, ele é presidente da farmacêutica para a América Latina.>
O depoimento mais aguardado pelos membros da CPI é o de Wajngarten. Recentemente, ele culpou o Ministério da Saúde, então sob o comando do general Eduardo Pazuello, pela atual baixa oferta de vacinas contra a Covid no Brasil, mas tentou eximir Bolsonaro de responsabilidade.>
Em entrevista à revista Veja, o publicitário disse que a compra de vacinas oferecidas pela Pfizer, ainda no ano passado, não ocorreu por "incompetência e ineficiência" por parte da pasta de Pazuello.>
Os congressistas querem entender, em primeiro lugar, a razão de ter sido Wajngarten e não o Ministério da Saúde o responsável por articular um acordo de compra de vacinas com a Pfizer.>
Além disso, querem que ele explique a ausência de ampla campanha publicitária para propagar as medidas de combate ao coronavírus, como o hábito de lavar as mãos e evitar aglomerações.>
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