Publicado em 10 de maio de 2021 às 11:25
Senadores da CPI da Covid dizem que o natural avanço dos trabalhos deverá levar a uma nova convocação do ministro Marcelo Queiroga (Saúde), que na última quinta-feira (6) prestou um depoimento considerado evasivo e pouco esclarecedor. >
O desempenho de Queiroga irritou integrantes do colegiado. Ele tentou driblar perguntas sobre o posicionamento pessoal do presidente Jair Bolsonaro na pandemia, recusou-se a dar sua opinião sobre o uso da hidroxicloroquina (medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid) e evitou avaliar as condições do ministério e as ações de enfrentamento ao coronavírus no momento em que assumiu o cargo.>
Conforme mostrou a coluna Painel, o senador Humberto Costa (PT-PE), titular da comissão, vai apresentar à CPI requerimento para reconvocar Queiroga por causa de uma portaria assinada pelo ministro sobre fiscalização e cobrança de valores transferidos pelo Ministério da Saúde a estados e municípios.>
Para o senador, mais cedo ou mais tarde o ministro vai ser chamado, "até porque a CPI não vai trabalhar somente fazendo uma avaliação pretérita." "Nós estamos em plena pandemia, a perspectiva não é de fim da pandemia num prazo curto, e, portanto, a gente tem que continuar em cima do governo", complementa.>
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O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), confirma a possibilidade de chamar o ministro novamente.>
"Queiroga é que está no ministério hoje, então é natural que a CPI queira saber por que ele falou números diferentes sobre entrega de vacinas, por exemplo. Vamos conversar essa semana com a Pfizer para saber como andam as negociações.">
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente do colegiado, também avalia que novas informações que surgirão dos documentos solicitados trarão a necessidade de novos depoimentos.>
"Era previsível um depoimento defensivo e insuficiente. Queiroga ainda está na fase de tentar ignorar ou ocultar as dificuldades que os seus antecessores relataram.">
Vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) qualificou o depoimento de Queiroga como "péssimo". "Se o avançar das investigações requisitar um novo depoimento no ministro da Saúde, nós o faremos.">
Randolfe acrescenta que "não se pode convocar por convocar". "Convoca-se em decorrência para onde os fatos apontam. Vamos aguardar e observar a necessidade que a investigação requer", afirma.>
Também defende que Queiroga seja novamente ouvido a depender dos rumos da CPI o senador Otto Alencar (PSD-BA). Para ele, no depoimento dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich ficou clara a imposição da vontade de Bolsonaro no protocolo do Ministério da Saúde.>
"Os dois não aceitaram, o [general Eduardo] Pazuello aceitou e ficou ministro por quase um ano. E agora o Queiroga não deu respostas que pudessem ser consideradas respostas convincentes.">
O senador avalia que Bolsonaro ainda não tomou decisões para "encampar aquilo que é necessário que o governo faça agora, que é a compra de vacinas." Ele critica declarações feitas por ele no sábado (8), quando Bolsonaro afirmou que divulgará vídeo em que seus ministros farão propaganda da hidroxicloroquina.>
"Não tem cabimento uma coisa dessa. Até onde eu sei, o conhecimento do presidente da República em doença infectocontagiosa é zero", diz.>
Um dos aliados de Bolsonaro na comissão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) diz não ver necessidade de novo depoimento do ministro.>
"Eu acho que é a mesma coisa de nós estarmos no meio do 11 de Setembro convocando paramédicos e bombeiros para prestar depoimento, em vez de as pessoas estarem socorrendo os feridos lá. É como eu acho isso se convocarmos novamente o ministro. Uma falta de sentido e uma falta de bom senso.">
Em videoconferência realizada no sábado, o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), destacou que, em seu depoimento, Queiroga "visivelmente defendeu uma estratégia para não responder as perguntas objetivamente, e consequentemente não falar a verdade.">
Na transmissão, Renan disse ainda esperar que o presidente da República não tenha responsabilidade pelo agravamento da pandemia no Brasil, mas, se tiver, "ele será responsabilizado, sim".>
O senador ressalta que cabe ao governo negar os fatos apurados.>
A CPI deve ouvir na terça (11) o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. No dia seguinte, será a vez do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten. Na quinta-feira (13), comparecerão o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e representantes da farmacêutica Pfizer.>
Para Otto Alencar, o diretor-presidente da Anvisa precisa esclarecer questionamentos sobre a vacina russa Sputnik V.>
"Foi uma das primeiras vacinas solicitadas para avaliação e apreciação, e, depois de muito tempo postergando a avaliação, já agora no fim avalia de forma preliminar, superficial e diz: "Olha, tem adenovírus replicante"?", critica. "Na nossa opinião, a análise não foi feita de acordo com o que necessita ser feito.">
Otto também destaca o comparecimento de Wajngarten. "Ele estava no governo e disse que teve incompetência do Pazuello. É preciso saber quais são as provas que ele tem a respeito disso", afirma. "E uma coisa estranha também é que não é normal o secretário de comunicação da estrutura governamental se envolver tão intensamente na compra de vacina.">
A ida de Pazuello à CPI está marcada para o dia 19.>
Na avaliação do senador Rogério Carvalho (PT-SE), é importante ouvir ainda os representantes da Pfizer. "Esperamos que haja uma confirmação das reiteradas tentativas da empresa de vender a vacina para o Brasil, e o descaso do governo Bolsonaro, mesmo diante do risco de mais mortes por Covid", afirma.>
"O desprezo e o desinteresse por vacinas sempre aconteceram com a intenção de colocar em prática a tese da imunidade de rebanho, uma ação deliberada que levou o Brasil a mais de 420 mil mortes.">
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