Publicado em 17 de junho de 2020 às 12:43
Quando forem retomadas, as aulas presenciais nas escolas terão menos alunos por sala e só atividades individuais, nada de trabalhos em grupo. Haverá rodízio entre estudantes em sala e em casa, com continuidade das atividades online. No intervalo, refeitórios terão lugares marcados para que estudantes mantenham a distância entre si. Cada um deverá ter a própria garrafinha de água. Podem ocorrer aulas de reposição aos sábados ou em outros períodos. Professores e alunos devem usar máscaras o tempo todo.>
Essas são algumas das diretrizes elaboradas pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) para o retorno às aulas presenciais no país. Os secretários estaduais não têm previsão de datas para a volta, mas elaboraram a cartilha nacional para que Estados façam adaptações às realidades locais, principalmente em relação às ações sanitárias. O documento dedica grande espaço a medidas pedagógicas.>
As escolas devem apresentar alternativas para o cumprimento da carga horária mínima anual com ampliação da jornada diária e reposição de aulas aos sábados ou à noite. O documento prevê a "possibilidade de prorrogação do calendário para o período de recesso ou para o ano seguinte". Isso significa que o ano letivo não deve acabar em dezembro.>
"Os anos letivos de 2020 e 2021 serão entendidos como um ciclo. Com isso, os alunos não seriam prejudicados. Os conteúdos de 2020 seriam distribuídos nesse ciclo", diz a secretária de educação de Alagoas, Laura Souza, uma das coordenadoras do documento. "Vamos olhar para o currículo e identificar aprendizagens fundamentais que não podem faltar para todos os estudantes.">
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Embora seja orientado principalmente para escolas públicas, a cartilha do Consed também influencia as particulares. Em São Paulo, gestores e professores já começaram a quebrar a cabeça para se adequar ao "novo normal" antes mesmo de o documento ser divulgado. Medidas de prevenção, como máscaras, medição de temperatura e álcool em gel, são itens de consenso. O problema será o distanciamento social.>
No Colégio Equipe, em Higienópolis, região central paulistana, os mais de 600 alunos deverão viver um rodízio de uma turma por vez, por dia e por período na escola. "Na segunda-feira, teremos aulas apenas para os alunos do 1º do ensino médio, por exemplo. Esses alunos, da mesma turma, serão distribuídos em várias salas", diz a diretora Luciana Fevorini.>
O mesmo rodízio deve ocorrer com os 814 alunos do Colégio Gracinha, no Itaim-Bibi, na zona oeste de São Paulo. "Será muito difícil que a gente retorne com todos de uma vez. Concordamos que o retorno deve ser gradual, por partes, com poucos alunos", avalia Wagner Cafagni Borja, diretor geral.>
Eliana Rahmilevitz, diretora pedagógica da Stance Dual School, escola bilíngue na Bela Vista, região central da cidade, mostra preocupação com o lado emocional dos quase 500 alunos e suas famílias. "Queremos ouvir o que eles têm a dizer nas aulas de teatro, música e artes.">
O documento divulgado pelo Consed faz recomendações sobre "como" as escolas devem proceder, mas não faz referência ao "quando". Ainda não há previsão de reabertura das escolas para aulas presenciais.>
Benjamim Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de São Paulo, aposta no mês de agosto como a possível retomada de todas as escolas, privadas e públicas. Os colégios particulares de São Paulo preparam protocolo próprio, já apresentado ao governo estadual, mas ainda não obtiveram retorno.>
Uma das preocupações dos autores do estudo é com o financiamento das ações na esfera pública. "Os cuidados de prevenção vão criar custos extras. Não temos margem para tantos investimentos. É preocupante", diz Claudio Furtado, secretário de Educação da Paraíba e também coordenador do estudo do Consed. Ele diz que não houve participação do Ministério da Educação (MEC). "Por isso, o protocolo é importante como ação unificada de Estados e Distrito Federal." Procurado, o MEC não se manifestou.>
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam desafios para a implementação do plano, tanto em relação à disponibilidade de profissionais e recursos quanto à diversidade das redes de ensino pelo País.>
Silvia Colello, professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, afirma que algumas medidas estão distantes da realidade escolar. "Temos propostas sobre contratação de mais servidores e formação dos professores. Outra cita ampliação das aulas em horários alternativos. Mas as escolas já funcionam em três turnos e os professores trabalham em diferentes instituições", argumenta. "Há boa intenção. Mas é preciso tomar cuidado entre boas intenções e um discurso prescritivo sem a efetivação das medidas.">
O professor Wagner Cafagni Borja, diretor geral do colégio Gracinha, no Itaim-Bibi, zona oeste, classifica o documento como "embasado e que alinha medidas bastante razoáveis do ponto de vista sanitário, ainda que apresentem grande dificuldade de implementação, e do ponto de vista pedagógico".>
O documento foi criado pela Frente Protocolo de Retomada, que reúne técnicos das secretarias estaduais de Educação e do Distrito Federal, a partir da experiência de outros países que já retomaram as aulas, como a França, organismos internacionais, entre eles a Unesco, e de protocolos de Estados que já se adiantaram nesse quesito. O Sebrae foi parceiro técnico.>
Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação de São Paulo (Undime), afirma que o documento não contempla as necessidades dos municípios. "Não basta dizer o que fazer. Também temos de dizer 'como' fazer", diz.>
"O documento traz a leitura e o olhar das redes estaduais. Ele olha para o atacado, como um todo. O Estado de São Paulo, por exemplo, tem 645 municípios. Cada um tem uma realidade diferente entre si", avalia o presidente da Undime, que pretende lançar o seu próprio protocolo de diretrizes para retomada das escolas na próxima sexta-feira (19).>
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