Publicado em 4 de junho de 2020 às 14:19
Ainda sem consenso sobre datas, a reabertura das escolas será escalonada em um modelo híbrido. Haverá um misto de atividades a distância, com uso de tecnologia, e aulas presenciais. >
A volta já é debatida entre secretarias de Educação. O Consed -órgão que reúne os gestores estaduais- tem se debruçado sobre o tema.>
Estão em análises experiências internacionais, exigências sanitárias e cálculos sobre custos. O MEC (Ministério da Educação) não participa do planejamento. O presidente Jair Bolsonaro já defendeu a abertura das escolas.>
O fechamento de escolas no Brasil teve início em março. A medida atingiu as redes públicas de todo o país, além das unidades privadas, por causa da pandemia do novo coronavírus.>
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Para tentar garantir o aprendizado nesse período, secretarias têm lançado mão de atividades pela internet, aulas pela TV e envio de materiais impressos para alunos sem conexão.>
Agora o novo protocolo do Consed deverá prever, a fim de evitar aglomerações, um retorno por faixa etária. Desta forma, os alunos mais velhos voltariam às escolas antes -crianças menores que contraem o novo coronavírus costumam passar pela Covid-19 de forma assintomática ou com sintomas leves que passam despercebidos, o que as torna um risco maior de disseminação da doença.>
As aulas presenciais deverão ser em dias alternados. Também há estudos para a ocupação dos colégios em turnos.>
Nos dias sem atividades na escola -em que haverá outro grupo nas unidades-, os alunos terão atividades online estruturadas. Os sábados também deverão ser contemplados.>
"Teremos um documento orientador para as redes e também um protocolo para diretores, sobre os cuidados sanitários", diz Laura Souza, secretária-executiva de Educação de Alagoas e responsável pelos estudos no Consed.>
O órgão reúne dados de países que já iniciaram a reabertura, como a França, e de órgãos como BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Unesco e Sebrae.>
A Undime, que agrupa dirigentes municipais de Educação, também trabalha em protocolos.>
Agosto é o mês mais provável para o retorno, aproveitando o início do segundo semestre. Porém, a criação de um calendário unificado é considerada inviável, diz o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder.>
"O que deve ser unificado são questões da metragem [de distância entre alunos], uso de máscara, álcool em gel, e regras para merendas", afirma.>
Para enfrentar a pandemia, o Paraná elaborou um sistema com aulas transmitidas em quatro canais de TV aberta. Há ainda replicação de conteúdos no YouTube e em ambientes virtuais para as turmas. "Quando voltarmos, os professores vão dominar melhor as ferramentas. Acho que a tecnologia vai somar, nunca vai substituir", diz Feder.>
O modelo híbrido entre aulas presenciais e a distância encontra obstáculos, mais evidentes entre os mais novos e também com relação à realidade de exclusão digital.>
Nem todas as redes tiveram condições de negociar pacotes de dados, como fizeram Paraná e São Paulo.>
A última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostra que 21% dos estudantes de 5 a 17 anos da rede pública não têm acesso à internet, segundo tabulação da Consultoria Idados.>
A Folha de S.Paulo mostrou que mais de um terço dos alunos de 3º ano do ensino médio de escola pública inscritos no Enem 2018 não tinham internet.>
A existência de internet banda larga nas escolas é mais um retrato da desigualdade. Dados do MEC de 2018 mostram que, enquanto 93% das escolas públicas de São Paulo têm banda larga, o percentual é de 14% no Amapá.>
Especialista em tecnologia na educação Nelson Pretto, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), diz que não é possível tratar a situação atual como uma "nova normalidade", uma vez que, sobretudo na educação, nunca houve normalidade.>
"A busca pela universalização da educação não foi acompanhada com a mesma intensidade do aumento de número de professores, valorização docente e reforço de infraestrutura", diz.>
O pesquisador afirma que as soluções têm de considerar a diversidade de situações.>
"É fundamental não cair nas armadilhas de empresas que vendem soluções tecnológicas como oportunidade de ganhar clientes", diz. "Se não tivermos conectividade pública, não vamos conseguir nenhuma solução para questões educacionais.">
Por outro lado, diz ele, a pandemia pode ser uma oportunidade para repensar estratégias para educação a partir de agora.>
"Não adianta sair correndo para dizer como vai ser a educação amanhã, porque não sabemos como vai ser o amanhã.">
Dirigentes e especialistas são unânimes sobre o prejuízo de não ter o MEC na liderança desses processos -tanto como articulador de questões pedagógicas quanto no financiamento.>
Cálculo do Consed estima um custo acumulado até agora de R$ 1,9 bilhão com medidas durante a pandemia. Entram na conta recursos digitais, formação docente e alimentação escolar. A pasta só manteve neste ano os repasses já previstos antes da explosão da doença.>
Ausente em ações específicas de enfrentamento à contingência na educação básica, o MEC (Ministério da Educação), comandado por Abraham Weintraub, apenas replicou em nota a mensagem já distribuída em outras oportunidades.>
O ministério disse manter diálogo com as redes e citou a criação de um comitê emergencial. No entanto não respondeu qual papel tem desempenhado.>
Além dos gastos em cursos, os secretários de Educação calculam que as redes terão, como reflexo da frustração de arrecadação, uma redução de R$ 20 bilhões do dinheiro recebido via Fundeb (principal mecanismo de financiamento da educação básica).>
Estudo do Movimento Todos Pela Educação e do Instituto Unibanco indica que a perda para os estados pode chegar a R$ 28 bilhões no ano, a depender do impacto na arrecadação de tributos vinculados à educação.>
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