Publicado em 25 de fevereiro de 2023 às 12:52
As chuvas torrenciais que provocaram a morte de mais de 50 pessoas no litoral norte de São Paulo devem ser cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo graças ao aquecimento global, afirmam meteorologistas consultados pelo UOL.>
As chuvas que ultrapassaram os 600 milímetros no litoral paulista são o que os especialistas chamam de "evento extremo", uma ocorrência climática excepcional com graves consequências ambientais. A quantidade de chuva foi considerada um novo recorde no Brasil, superando a tragédia em Petrópolis no ano passado.>
Nas praias de São Paulo o evento extremo foi a chuva forte, mas em outras regiões do Brasil e do mundo esse evento pode ser uma seca prolongada, um frio muito forte ou calor excessivo, como vem acontecendo na Europa nos últimos verões.>
No litoral paulista, o evento extraordinário é conhecido como chuva orográfica, quando o relevo da região interfere nas precipitações.>
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"Foi a combinação de uma frente fria que parou em uma área com topografia de costa [montanhas] que serviu de parede. A umidade do mar acabou estagnada e começou a chuva fora do padrão", explica o meteorologista Olívio Bahia, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).>
"A maioria dos extremos climáticos está ligada às mudanças provocadas pelo aquecimento global", diz o meteorologista Marcelo Seluchi, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).>
"Eventos desse tipo vão se tornar cada vez mais frequentes", afirma. "Não conseguimos prever quando ou onde, mas esse tipo de evento certamente vai aumentar em todo o mundo.">
Mais desastres devem acontecer no Brasil, concorda o meteorologista Felipe Vemado, porque "dentro de um contexto de aquecimento global há mais energia termodinâmica [troca de calor], o que aumenta a frequência de eventos extremos".>
Seluchi explica que essa troca excessiva de calor aumenta a umidade do ar e as variações de temperatura, "causando contrastes que se combinam de tal forma que provocam esses eventos".>
É irreversível? O grande culpado é o homem, dizem os meteorologistas.>
"A ação humana gera impacto na atmosfera, seja por aumento dos gases de efeito estufa, seja pela mudança da condição de solo que faz a superfície absorver mais calor, tanto em escala local quanto em escala global", diz Vemado, que é doutor em meteorologia pela USP. "Já foi demonstrado que as ilhas de calor na região metropolitana de São Paulo podem intensificar os temporais de fim de tarde durante o verão.">
O desmatamento e queima de combustíveis fósseis já aqueceram o planeta em 1,2ºC em relação aos níveis pré-industriais, segundo o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU. Se essas emissões não cessarem, o mundo romperá a marca de 1,5ºC em 2030.>
Se isso acontecer, diz o relatório, o aquecimento global será irreversível, com a repetição cada vez mais frequente de fortes ondas de frio, calor, inundação e secas prolongadas.>
Os pobres são os principais afetados. De 2010 a 2020, diz o relatório, "a mortalidade humana por inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior em regiões altamente vulneráveis" em comparação com regiões mais ricas.>
Meteorologista do MetSul, Estael Sias aconselha "a população e o poder público a se prepararem melhor para lidar com isso".>
Seluchi, do Semaden, concorda. "Planejamento urbano é fundamental. Se ninguém estivesse morando nas encostas de São Sebastião, provavelmente ninguém teria morrido. Ninguém morreu em Bertioga, onde não tem pessoas morando em encosta.">
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