Publicado em 8 de outubro de 2021 às 17:27
O Brasil superou as 100 mil mortes por Covid no distante 8 de agosto de 2020. Cinco meses depois, nos primeiros dias de janeiro, a cifra tinha dobrado. Mais 75 dias e o número já era 300 mil. O próximo marco, 400 mil, veio em fins de abril, apenas 36 dias depois. Em meados de junho, o país contava meio milhão de vidas perdidas para o coronavírus. >
O ritmo da tragédia se desacelerou desde então, e quase quatro meses se passaram até o Brasil alcançar 600 mil mortes por Covid nesta sexta-feira (8). >
Principalmente o avanço da vacinação em todo o país pode ser tido como o principal fator a explicar essa redução de velocidade. >
Mais de 92% da população adulta brasileira já recebeu ao menos uma dose do imunizante contra a Covid, e mais de 60% têm o esquema vacinal completo, com duas doses ou dose única. >
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Enquanto aumenta a vacinação, cai a média móvel de mortes diárias, segundo o consórcio de veículos de imprensa, fruto de colaboração entre Folha de S.Paulo, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1. >
Em abril, a média chegou a ficar por sete dias acima de 3.000 óbitos diários por Covid. Ao longo de 2021, foram 61 dias (55 deles seguidos) com médias acima de 2.000 mortes. Desde o início da pandemia, foram 247 dias com média de ao menos 1.000 vidas perdidas por dia. >
Agora, a média móvel é de 438, a menor desde 13 de novembro. >
Se há alguns meses o Brasil causava preocupação global pelo descontrole da pandemia, chegando a registrar mais de 4.000 óbitos em 24 horas, agora parece ter se saído melhor do que diversos outros países no enfrentamento da variante delta. >
Isso apesar dos esforços em contrário do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), para quem a Covid não passava de "fantasia da grande mídia", uma "gripezinha", um "mimimi". Ele ainda demorou a mobilizar seu governo para comprar vacinas e lançou dúvida sobre a eficácia da Coronavac por sua origem chinesa. >
Durante a pandemia, Bolsonaro teve quatro ministros da Saúde. Os dois primeiros, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, deixaram o cargo por divergências com o presidente. O terceiro, o general do Exército Eduardo Pazuello, ficou quase um ano no posto e como um dos investigados na CPI da Covid-19. >
O quarto ministro, Marcelo Queiroga, assumiu com um discurso mais conectado ao consenso científico, mas mudou de atitude recentemente e passou a fazer acenos ao bolsonarismo para permanecer na Esplanada. >
"É difícil falar que estamos melhor quando batemos 600 mil óbitos. É impossível não relembrar todos os equívocos, erros, negligências que aconteceram nesse período de quase dois anos", diz Raquel Stucchi, professora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). >
De toda forma, diz a especialista, "hoje nossa realidade, sem dúvida nenhuma, é melhor". >
A situação de maior tranquilidade lembra o segundo semestre de 2020, quando também houve forte redução de casos e mortes. A diferença, diz Stucchi, é a vacinação avançada. >
Algumas cidades já avaliam desobrigar o uso de máscaras, o público volta ao jogos de futebol, as escolas retomam as aulas presenciais, as escolas de samba discutem o Carnaval de 2022. >
Especialistas chamam a atenção para os perigos de relaxar medidas de contenção do coronavírus num momento em que a Covid ainda mata em média mais de 400 pessoas por dia. >
Além disso, estudos têm demonstrado que a efetividade das vacinas cai após seis meses, especialmente contra infecções. Por esse motivo, diversos países discutem a aplicação de uma dose de reforço. >
"Mas há um certo grau de segurança de considerarmos que a pandemia, sim, deve estar sob controle, que não devemos ter surpresas até 2022. A luz no fim do túnel está bem mais próxima", afirma a especialista da Unicamp. >
"Com o Sars-CoV-2 sempre podemos ter surpresas, mas as chances de nos surpreender é menor", diz. >
Stucchi afirma que, em um cenário pessimista, uma nova variante com escape vacinal poderia aparecer em algum dos países, principalmente os mais pobres, com dificuldades de colocar em ação o programa vacinal. >
Também não se pode pintar um cenário otimista, diz a especialista, de que "já está tudo controlado, vamos tirar as máscaras agora". >
Segundo Stucchi, agora é o momento dos eventos-teste, com acompanhamento dos participantes pelas autoridades de saúde. >
O Brasil, afinal, já perdeu 600 mil vidas para a Covid, uma quantidade com a qual se faz um dos países mais ricos do mundo: Luxemburgo. >
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