Publicado em 14 de julho de 2021 às 15:20
Pesquisas que apontaram o governo Jair Bolsonaro (sem partido) em seu pior momento e dificuldades esperadas na tramitação do nome de André Mendonça no Senado fizeram o presidente recuar das ameaças disparadas na semana passada e adotar um figurino definido por ele de "Jairzinho paz e amor". >
De acordo com interlocutores, o tom mais moderado de Bolsonaro na segunda-feira (12), quando conversou longamente com jornalistas à saída do STF (Supremo Tribunal Federal), é consequência de dois fatores políticos recentes. >
O primeiro é o aumento da pressão de aliados diante de pesquisas de opinião que põem em dúvida as chances de vitória em 2022. Em segundo, a necessidade de melhorar o ambiente com o Senado, ao menos durante a análise da indicação de Mendonça para o Supremo. >
Nesta terça-feira (13), Bolsonaro oficializou a designação de Mendonça, hoje ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), como sucessor de Marco Aurélio Mello no STF, que se aposentou na segunda. >
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Para ser confirmado no posto, Mendonça precisa do aval do Senado. Mas enfrenta resistência entre congressistas, principalmente por seu histórico como ministro da Justiça. >
À frente da pasta, Mendonça recorreu à LSN (Lei de Segurança Nacional) para investigar críticos do presidente. >
Em conversas recentes, aliados avisaram Bolsonaro que a retórica explosiva da semana passada --com xingamentos a ministro do Supremo e ameaças ao processo democrático-- ajudou a criar um cenário de ainda mais obstáculos para Mendonça. >
Segundo dois senadores governistas, o que deveria ser um processo sem sobressaltos no Congresso se converteu, no caso de Mendonça, em algo que deve demandar um concentrado esforço político. >
Um auxiliar de Bolsonaro disse que a iniciativa de apelar por moderação do chefe foi conjunta porque a postura estava aumentando as dificuldades do governo em várias frentes. Bolsonaro foi aconselhado a baixar o tom com o Legislativo e o Judiciário. >
O aumento das tensões, disseram aliados, pode criar um ambiente no Senado em que a rejeição a Mendonça seja vista como o sinal necessário para barrar as manifestações autoritárias de Bolsonaro. >
Mendonça tem intensificado as reuniões com senadores para tentar vencer as objeções. Nesta terça, fez nova rodada de encontros. >
A versão "Jairzinho paz e amor" foi apresentada ao público na segunda, quando Bolsonaro deu entrevista após se encontrar com o presidente do STF, ministro Luiz Fux. >
Na ocasião, ele baixou o tom nas ameaças de não realizar eleições em 2022 caso não seja introduzida a modalidade do voto impresso. >
A ameaça mais clara foi em 8 de julho. "Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições", disse. Em outra ocasião, afirmou que a fraude eleitoral está no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). >
Mas, após a reunião com Fux, Bolsonaro contemporizou. "O não tem eleição é porque vai ser algo fraudado, eleição existe quando as coisas são sérias", disse. >
Em seguida, em outro passo atrás, afirmou que, caso não haja sistema impresso de votação, passará a "bater na tecla da contagem pública dos votos". Ele não explicou o que seria essa contagem, uma vez que a apuração feita pelo TSE é amplamente divulgada. >
Bolsonaro também vai se reunir nesta quarta (14), às 11 horas, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Fux, no STF. >
Na segunda, Fux disse que a reunião será para fixar "balizas sólidas para a democracia brasileira, tendo em vista a estabilidade do nosso regime político". >
Nesta terça, o vice-presidente, Hamilton Mourão, defendeu a iniciativa de diálogo entre os Poderes. "Acho que é bom que sentem e conversem, baixem a bola e baixem o tom, que é o melhor para nação como um todo", disse. >
As ameaças autoritárias de Bolsonaro geraram reações da cúpula do TSE e de Pacheco. O presidente do Senado disse que todo aquele que tente algum retrocesso ao Estado democrático de Direito será "inimigo da nação". >
A manifestação de Pacheco também respondeu à nota do Ministério da Defesa contra o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM). >
Apesar da moderação, mesmo aliados de Bolsonaro estão céticos quanto à duração do novo comportamento. >
Eles lembram que o presidente é imprevisível e tradicionalmente adota a prática de mobilizar sua base mais fiel e ideológica nos momentos de crise. Além do mais, no passado outros ensaios conciliatórios de Bolsonaro foram seguidos de radicalização. >
Além da necessidade de pavimentar a aprovação de Mendonça, Bolsonaro tem sido pressionado por aliados políticos a baixar a temperatura da crise no país. >
Nesta terça, em cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro fez aceno a Pacheco e a Lira. "Nosso relacionamento com Pacheco e Lira é excepcional", afirmou o presidente. >
Por trás da apreensão de congressistas próximos ao Planalto, estão as pesquisas de opinião que apontam amplo favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a consolidação de uma imagem negativa do governo entre os entrevistados pelo Datafolha. >
Aliados da ala pragmática têm dito ao presidente que ele precisa centrar seu discurso em obras e inaugurações do governo federal e evitar ofensas aos demais Poderes. >
Também pedem que ele se vacine contra a Covid e dê ampla publicidade ao ato, para tentar se desfazer da imagem de um líder anticiência e que é contrário à imunização.>
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