Publicado em 26 de março de 2022 às 14:44
- Atualizado há 4 anos
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) diz que colocaria a cara no fogo pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, aliados admitem, reservadamente, que o caso é ruim para a imagem do mandatário e temem que possa afetar a campanha eleitoral.>
Um aliado disse à reportagem que o presidente precisará tomar providências diante da avaliação de que o escândalo no MEC escalou de forma rápida.>
Em outra frente, evangélicos aliados do Planalto defendem que o ministro se licencie do cargo enquanto as investigações estão em andamento. O pastor Silas Malafaia disse à reportagem que este seria um "caminho bom".>
"Se ele não tem nada, volte [ao cargo]. Se tem alguma coisa, que pague o preço. Acho que não tem nenhum problema ele se licenciar enquanto se vê isso", disse.>
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Apesar de admitir que é grave a crise no MEC, o entorno do Bolsonaro avalia que dificilmente Ribeiro deixará o comando da pasta.>
Uma das principais bandeiras da campanha de Bolsonaro é dizer que não houve corrupção em seu governo. Interlocutores minimizam o caso ao colocá-lo em perspectiva com outros que consideram mais delicados, como o petrolão. Dizem, porém, que terão de acompanhar o desdobramento das acusações diariamente.>
Há a preocupação de passar a imagem de que o Planalto reconheceu eventuais irregularidades, o que, de acordo com auxiliares de Bolsonaro, ainda não está comprovado. O caso está sob apuração da PF (Polícia Federal).>
Além disso, o ministro conta com a confiança da família presidencial, em especial da primeira-dama Michelle Bolsonaro.>
Ribeiro ganhou sua confiança ao dar atenção a temas caros, como projetos ligados a deficientes auditivos, segundo relatos de integrantes do governo.>
Quem conversou com o ministro nos últimos dias disse não ter sentido dele nenhuma disposição de pedir demissão ou entrar em licença. Integrantes do governo não descartam, porém, que a escalada da crise aumente a pressão, sobretudo no núcleo familiar do ministro, que o leve a pedir para sair.>
A licença, avaliam integrantes do segmento evangélico, seria uma forma de dar uma saída honrosa a Ribeiro. Eles reconhecem, porém, que licença seria apenas um outro nome dado à demissão e que o ministro não retornaria à pasta.>
Junto ao presidente, o ministro representa um importante filtro ideológico na pasta. De acordo com palacianos, durante sua gestão, ele levou nome a nome das indicações de reitores com suas fichas corridas a Bolsonaro para analisarem juntos quem estaria de acordo com os critérios.>
Na festa de aniversário de Bolsonaro no Palácio do Planalto, nesta semana, depois que o caso dos pastores já tinha surgido, Ribeiro fez uma oração pelo presidente ao microfone.>
Na transmissão semanal desta semana, na quinta-feira (24), o chefe do Executivo disse que é "covardia" o que estão fazendo com o ministro.>
"O Milton, coisa rara de eu falar aqui: eu boto minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia contra ele", disse, durante sua live.>
Esta foi a primeira vez que Bolsonaro se manifestou sobre o tema.>
Em entrevistas na quarta-feira, Ribeiro disse que conversou com o mandatário logo depois que a o jornal Folha de S.Paulo revelou gravação em que o ministro diz priorizar pedidos dos pastores Arilton Moura e Gilmar dos Santos, por solicitação do presidente.>
Segundo o ministro, Bolsonaro teria dito não ter visto nada demais na gravação.>
Outro ponto levantado por auxiliares é que, se o ministro deixasse a pasta, poderia deflagrar uma guerra na base aliada pelo comando no ministério, em especial com aliados evangélicos.>
Defensores da manutenção de Ribeiro dizem ainda que chegar ao quarto ministro da Educação em um mandato seria muito desgastante.>
Além disso, as denúncias apresentadas pelo ministro à CGU (Controladoria-Geral da União) deram sobrevida a Ribeiro.>
A conclusão das investigações, que terminaram no começo deste mês, dão conta de que não houve envolvimento de agentes públicos em irregularidades, mas sim de terceiros.>
Diante das novas revelações desta semana, a CGU disse em nota ter decidido reabrir as apurações. A ordem é para que a controladoria ouça todos os prefeitos que vierem a apresentar denúncias contra os pastores.>
Ribeiro disse, na quarta-feira, que acionou a controladoria em agosto do ano passado.>
Porém, continuou recebendo os pastores e liberando verbas por eles intermediadas. Segundo ele, orientado pela CGU, para não levantar suspeitas das investigações.>
De acordo com registros da agenda oficial, o ministro recebeu em seu gabinete ao menos três prefeitos acompanhados por Arilton ele atua em conjunto com o pastor Gilmar.>
Um desses prefeitos, Gilberto Braga (PSDB), do município de Luís Domingues (MA), disse que houve pedido de 1 kg de ouro como propina por um dos pastores para a liberação de verba. Ele disse não ter aceito a transação. A informação foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela Folha de S.Paulo.>
Depois disso, houve empenho de dinheiro público e desbloqueio de ações que favoreceram esses municípios. No áudio revelado pela Folha, Ribeiro menciona pedidos de apoio que seriam supostamente direcionados para construção de igrejas o que, posteriormente nas entrevistas, ele nega e fala em apoio simbólico.>
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