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Bolsonaro critica Fux e promete reduzir pressão sobre voto impresso

Bolsonaro critica Fux e promete reduzir pressão sobre voto impresso

Na semana passada, Fux cancelou a reunião dos Poderes e afirmou que ataques de Bolsonaro a ministros do STF eram ataques a todo o Supremo

Publicado em 12 de agosto de 2021 às 18:33

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Presidente Jair Bolsonaro
Em entrevista à Rádio Jovem Pan de Maringá (PR), Jair Bolsonaro sugeriu que houve "corporativismo da corte". (Marcos Correa/PR)

O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta quinta-feira (12) o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luiz Fux, por ter saído em defesa de seu colega Luís Roberto Barroso, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em entrevista à Rádio Jovem Pan de Maringá (PR), Bolsonaro sugeriu que houve "corporativismo da corte". O próprio ministro do Supremo Tribunal Federal, presidente Fux, na sua nota, disse que "mexeu com um, mexeu com todos". Não é assim."

"Se um militar aqui faz alguma coisa de errado, eu sou militar, o que nós fazemos? A gente investiga. Se tiver responsabilidade, vai pagar o preço. Altíssimo. Agora, não pode ter corporativismo nessas questões", completou o presidente.

Na semana passada, a ameaça de Bolsonaro de usar armas "fora das quatro linhas da Constituição" irritou ministros do STF e levou Fux a fazer um discurso contundente. Fux disse que Bolsonaro não cumpre a própria palavra e cancelou reunião entre os chefes dos Três Poderes que havia convocado.

Mais tarde, ainda na manhã desta quinta, Bolsonaro disse que o Brasil vive "momentos difíceis" e elogiou a "união" dos militares. Ele participava de cerimônia de promoção de Oficiais-Generais, em Brasília.

"Se o Brasil vive momentos difíceis, em grande parte, nos conforta a união, os princípios e os valores de seus militares", afirmou.

A declaração ocorre dois dias depois de Bolsonaro promover desfile de blindados militares, em frente ao Planalto, ato interpretado como tentativa de mostrar força e constranger parlamentares durante a discussão sobre o voto impresso.

"Em todo momento que a pátria, os chamou, os senhores estiveram presentes. Isso conforta ao governo e ao seu povo", disse o presidente no mesmo discurso nesta quinta (12).

O clima entre Bolsonaro, STF e TSE esquentou após o presidente insistir nos ataques às urnas eletrônicas e na insinuação de que há um complô para fraudar as eleições de 2022 a fim de evitar sua vitória no pleito.

O Judiciário voltou do recesso disposto a dar uma resposta dura a Bolsonaro.

Primeiramente, a corte eleitoral decidiu, por unanimidade, abrir um inquérito para apurar as acusações feitas pelo presidente, sem provas, de que o TSE frauda as eleições. Depois, Barroso assinou uma queixa-crime contra chefe do Executivo e recebeu o aval do plenário da corte eleitoral para enviá-la ao STF.

Também na semana passada, o corregedor-geral do TSE, ministro Luís Felipe Salomão, solicitou ao Supremo o compartilhamento de provas dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos com a ação que pode levar à cassação de Bolsonaro.

No mesmo dia, Moraes aceitou a queixa-crime de Barroso e incluiu Bolsonaro como investigado no inquérito das fake news.

Nesta quinta-feira, na mesma entrevista na qual ouviu perguntas sem nenhum tom crítico, o presidente disse que iria reduzir a pressão pela adoção do voto impresso, mas em seguida voltou a insinuar, sem provas, que as eleições no Brasil não são seguras. Bolsonaro disse ter "ouvido falar" sobre as suspeitas.

“Vou diminuir a pressão da minha parte, vou diminuir a pressão, sim, porque tem muita coisa para fazer pelo Brasil, mas não podemos esquecer, porque se esse pessoal conseguir, no ano que vem, não me cobrem nome do país, por favor, botar alguém sentado na minha cadeira presidencial mais simpático a outras ideologias."

"Porque alguns poucos países têm interesse enorme no Brasil, nós seremos fazenda desse país”, afirmou Bolsonaro, sem especificar a qual nação se referia.

​Reportagem do jornal Folha de S.Paulo desta quinta-feira mostrou que os ataques de Bolsonaro ao TSE horas após a derrota da PEC do voto impresso deixou sob pressão Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados.

Líder do centrão, Lira colocou a proposta em votação na terça (10) dizendo ter obtido um compromisso do presidente da República de que respeitaria a decisão do plenário da Casa.

Bolsonaro, porém, manteve a retórica golpista já no dia seguinte, provocando cobranças de parlamentares sobre a conduta do presidente da Câmara —que já enfrenta há meses pressão para a análise de algum dos mais de cem pedidos de impeachment do chefe do Executivo.

Em outro trecho da entrevista, Bolsonaro disse que a missão do STF é tratar das questões constitucionais, mas que "alguns poucos, como Barroso, fazem política". O presidente tem feito ataques a ministros do Supremo, especialmente Barroso e Alexandre de Moraes, na discussão sobre as urnas eletrônicas.

A PEC que alterava a forma de votação para o ano que vem foi derrotada no plenário da Câmara na terça-feira (10), mas o presidente mantém o discurso em defesa do voto impresso.

Mesmo depois da derrotada da PEC na Câmara, Bolsonaro insiste em questionar a lisura das eleições. Na entrevista desta manhã, levantou ainda a possibilidade de eleições para governadores e senadores serem fraudadas no ano que vem. “Poderiam, não estou afirmando."

"Vamos conviver com essa sombra de dúvida. Não é sombra não, isso aí é tempo fechado."

Para ser aprovada, a proposta precisava do apoio de 308 deputados, mas recebeu 229 favoráveis e 218 contrários. Bolsonaro havia prometido a Arthur Lira, presidente da Casa, que respeitaria o resultado do plenário, mas insistiu no tema, o que deixou o deputado sob forte pressão, como mostrou a Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (12).

Na entrevista, Bolsonaro voltou a apostar na retórica anticomunista que marcou a sua campanha ao Planalto e disse que a economia da Argentina parece não ter salvação. "Nós devemos aprender com os erros dos outros", disse ele.

"Lamentavelmente parece que no tocante à economia não tem como salvar a Argentina. Não queremos fazer no Rio Grande do Sul uma operação acolhida, como fizemos em Roraima", declarou Bolsonaro.

Em determinado momento da entrevista, o presidente também chegou a ironizar a decisão da CPI da Covid de indiciá-lo por charlatanismo e curandeirismo, por incentivar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada.

"Como não tem como me acusar, vão me denunciar por charlatanismo e curandeirismo", disse e soltou uma gargalhada, em seguida.

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