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Bolsonaro agora planeja ampliar espaço do centrão com cargos de 2º escalão

Bolsonaro agora planeja ampliar espaço do centrão com cargos de 2º escalão

Atacado na campanha por Bolsonaro como sendo exemplo do que chama de velha política, composto por congressistas adeptos do "toma lá da cá", o centrão reúne cerca de 200 dos 513 deputados

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 18:31

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Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro planeja distribuir cargos. (Alan Santos/PR)

Em meio à disputa política que têm obstruído a pauta legislativa, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) planeja fazer até o final do ano novas concessões ao bloco do centrão, com a indicação de nomes para o segundo escalão.

A primeira sigla contemplada será o PSD. O Palácio do Planalto acertou com a bancada do partido na Câmara dos Deputados a nomeação de Jarbas Valente para o comando da Telebrás.

O engenheiro eletrônico fez carreira no setor de telecomunicações e foi conselheiro da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

Durante o governo do ex-presidente Michel Temer, ele presidiu a Telebrás por indicação de Gilberto Kassab, um dos fundadores do PSD, que era então ministro de Ciência e Tecnologia.

Com um satélite em órbita, a Telebrás será usada para fazer um programa de massificação da banda larga em lugares ainda carentes de serviços pelas operadoras do mercado.

O programa tem potencial político, porque prefeitos podem fechar parcerias com a estatal para levar internet a seus municípios, especialmente em lugares mais afastados.

Atacado na campanha por Bolsonaro como sendo exemplo do que chama de velha política, composto por congressistas adeptos do "toma lá da cá", o centrão reúne cerca de 200 dos 513 deputados.

O grupo é formado principalmente por PP, PL, Republicanos, PTB e PSD (esse último nega fazer parte). DEM, MDB e Solidariedade também fazem parte do bloco na Câmara, comandado pelo líder do PP, Arthur Lira (AL).

O movimento do governo de abrir mais espaço para o centrão ocorre no momento em que a disputa pelo comando da CMO (Comissão Mista de Orçamento) do Congresso levou a uma paralisação da pauta legislativa, atrasando projetos prioritários.

Além do PSD, legendas como PP e PL também devem ser acomodadas em secretarias ministeriais.

Segundo assessores do governo, integrantes das siglas discutem com a articulação política indicações para postos no Ministério do Desenvolvimento Regional.

No alvo, estão os comandos das secretarias nacionais de Habitação e de Saneamento. A primeira é responsável pelo programa Casa Verde e Amarela, o antigo Minha Casa Minha Vida, e hoje tem à frente o economista Alfredo Eduardo dos Santos, que assumiu o posto em dezembro.

A segunda é comandada também pelo economista Pedro Ronald Borges, que, segundo assessores palacianos, tem como padrinho político o senador Roberto Rocha (PSDB-MA). O PSDB não faz parte da base aliada, o que tem sido questionado por integrantes do centrão.

O bloco partidário também tem demonstrado interesse, de acordo com assessores do governo, pela Secretaria de Desenvolvimento Social, do Ministério da Cidadania, responsável pelo programa Bolsa Família, que o presidente pretende reformular no próximo ano.

PP e PL são os partidos que detêm as maiores bancadas no bloco do centrão, com 40 e 41 deputados federais, respectivamente. Desde a metade do ano, Bolsonaro tem feito acenos às duas legendas para mantê-las na nova base aliada.

A intenção do presidente é ainda azeitar a relação com os dois partidos em um momento em que ele precisa dos votos das siglas para aprovar projetos para o período pós-pandemia do novo coronavírus.

Em conversas reservadas, Bolsonaro também sinalizou que as duas siglas podem ser contempladas, no início do próximo ano, em uma reforma ministerial que ele pretende promover para fidelizar a aliança com o bloco partidário.

Uma das opções avaliadas é oferecer o comando da Cidadania, hoje comandada por Onyx Lorenzoni, do DEM. O aliado de primeira hora de Bolsonaro, que no início do ano foi retirado da Casa Civil, perdeu prestígio junto ao presidente.

Segundo assessores palacianos, o desempenho do ministro à frente da pasta não tem agradado Bolsonaro. O presidente avalia que a permanência de Onyx no cargo também não agrega apoio político, já que ele não é próximo do comando do DEM e sua indicação não foi considerada partidária.

O Planalto também cogita fazer uma mudança no Meio Ambiente. Na tentativa de arrefecer a imagem negativa do ministro Ricardo Salles na condução da política ambiental, ele avalia deslocá-lo para o Turismo, o que abriria mais um posto para os novos aliados.

Até o momento, o centrão foi contemplado com alguns postos no segundo escalão, autarquias federais e órgão do governo, como o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Ele ainda detém o comando do Ministério das Comunicações, controlado pelo deputado federal Fabio Faria (PSD-RN).

A acomodação dos aliados no governo ocorre no momento em que Bolsonaro enfrenta disputas internas na Câmara. O presidente tem sofrido as consequências de um confronto antecipado pelo comando da Câmara dos Deputados.

O candidato considerado favorito de Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL) tenta emplacar desde setembro um nome na presidência da CMO, rompendo acordo feito em fevereiro para eleger Elmar Nascimento (DEM-BA), aliado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O que começou como uma disputa pela sucessão da Casa se tornou uma demonstração de força do centrão em relação ao governo. Sem um acordo sobre CMO, Lira tem liderado o bloco em uma obstrução no plenário.

Como resultado, perderam validade medidas provisórias caras ao governo, como a 984, que dava ao mandante do jogo de futebol o direito exclusivo de transmiti-lo ou negociar a transmissão. Outros projetos prioritários, como o que regula a navegação por cabotagem e a lei cambial, seguem travados.

Na Esplanada dos Ministérios, a pressão do centrão na Câmara também é vista como uma forma de reforçar ao governo o peso do grupo e pressionar pela liberação dos cargos de segundo escalão.

Bolsonaro se aproximou dos parlamentares no primeiro semestre quando se sentiu ameaçado de ser alvo da abertura de um processo de impeachment. A aliança política levou o presidente a compor uma base aliada, o que ele não havia formado desde o início de seu mandato.

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