Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 09:21
O procurador-geral da República, Augusto Aras, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (3) que não se opõe ao exercício do direito ao silêncio de Jair Bolsonaro no inquérito que apura suposta interferência do presidente no comando da Polícia Federal. >
"Há de ser respeitada, pois, a escolha da autoridade investigada, que intenta exercer o seu direito ao silêncio constitucionalmente garantido", afirmou Aras.>
Na semana passada, o relator do caso no Supremo, ministro Alexandre de Moraes, pediu um parecer de Aras sobre a decisão do presidente de não prestar depoimento.>
Aras afirmou que há precedentes no STF que garante a investigados não depor em inquéritos ou ações penais sem que o silêncio seja interpretado como admissão de responsabilidade.>
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"Inexiste razão para se opor à opção do presidente da República, Jair Bolsonaro, de não ser interrogado nos presentes autos, seja por escrito, seja presencialmente", disse o procurador-geral.>
Na qualidade de investigado, destacou Aras, Bolsonaro está exercendo, legitimamente, o direito constitucional de permanecer calado.>
Ele acrescentou que manifestações anteriores do STF, sob a relatoria dos ministros Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, preveem "o direito ao silêncio, cujo exercício comporta, inclusive, o não comparecimento ao interrogatório designado?.>
A palavra final sobre a realização da oitiva cabe a Moraes. Na condição de investigado, o presidente pode faltar ao compromisso caso o ministro determine que a PF marque o depoimento.>
Moraes prorrogou por 60 dias o inquérito que apura se houve interferência de Bolsonaro na corporação.>
A decisão ocorreu um dias após Bolsonaro pedir ao ministro que os autos fossem enviados à PF para elaboração de relatório final.>
Moraes, no entanto, entendeu que há diligências ainda a serem cumpridas no caso. No mês passado, ele consultou a polícia sobre o estágio das investigações.?>
O inquérito foi aberto no STF em abril, a pedido de Aras, para apurar as acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que o presidente tentou interferir na autonomia da PF para proteger familiares e aliados.>
Moraes assumiu a relatoria do caso após a aposentadoria do ministro Celso de Mello em outubro. Em um dos últimos atos no tribunal, Celso determinou que Bolsonaro prestasse depoimento presencial e autorizou a defesa de Moro a acompanhar o interrogatório.>
O depoimento de Bolsonaro, segundo os investigadores encarregados do caso, é apontado como uma das providências finais da apuração.>
O presidente afirmou ainda ao STF que a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril "demonstrou completamente infundadas quaisquer das ilações que deram ensejo ao presente inquérito".>
Anexada ao inquérito, a gravação foi apontada por Moro como uma das provas de que Bolsonaro tentou interferir na PF.>
Tão logo assumiu a relatoria do caso, Moraes pediu à PF informações sobre as diligências em andamento.>
Bolsonaro já fez críticas públicas a Moraes quando o ministro anulou, em decisão individual, a posse de Alexandre Ramagem para o comando da PF após a saída de Moro do governo e de seu indicado, Maurício Valeixo, da chefia da corporação.>
Moraes também é relator de outros dois inquéritos sensíveis ao bolsonarismo. Um diz respeito à apuração de atos antidemocráticos com participação de aliados do presidente. Outro investiga a existência de uma rede de disseminação de ataques e ameaças a ministros do STF na internet - esse caso também atinge correligionários do chefe do Executivo.>
Primeiro relator do inquérito, Celso de Mello teve uma atuação considerada rígida por colegas de STF e criticada por aliados do presidente.>
As críticas começaram, principalmente, após Celso determinar que a PF fizesse o depoimento de ministros e disse que, caso não comparecessem, poderiam ser conduzidos "debaixo de vara" para serem interrogados.>
Na última sessão como ministro do STF, Celso refutou a concessão de "privilégios" e "tratamento seletivo" ao defender que Bolsonaro prestasse depoimento presencial à PF.>
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