Publicado em 13 de outubro de 2021 às 14:44
No último dia 28, enquanto o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) respondia a perguntas da imprensa e falava sobre apoios que tem recebido em São Paulo -estado de seu maior adversário nas prévias presidenciais tucanas, o governador João Doria (PSDB)-, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), agora articulador político do gaúcho, o interrompeu. >
"Estou recebendo aqui um WhatsApp endereçado à minha secretária: 'Por favor, transmita ao senador que, como líder da bancada de vereadores da Câmara Municipal de São Paulo, vou declarar apoio ao Eduardo. Só estou aguardando Eduardo escolher o melhor momento'.">
Assim que Tasso terminou de ler em voz alta a mensagem do vereador Xexéu Tripoli (PSDB), Leite emendou: "Agora acabou de ser feito", o que arrancou risadas de parlamentares tucanos que acompanhavam a entrevista.>
A preocupação estratégica de timing -Xexéu só divulgaria uma carta pública de apoio a Leite dias depois- e os risos diante da quebra de protocolo ilustram as tensões que envolvem os apoios ao governador gaúcho ou ao governador paulista em estados considerados rivais.>
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Doria e Leite protagonizam a disputa acirrada das prévias tucanas, marcadas para 21 de novembro. Concorre ainda o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio (PSDB).>
Tanto Doria como Leite acumulam apoios dissidentes que geram, por um lado, pressões e ameaças de punição dentro do partido e, por outro lado, discursos, inclusive por parte de dirigentes locais, de que a democracia interna será respeitada.>
No caso de Xexéu, membros do diretório paulistano do PSDB afirmam, nos bastidores, que medidas de sanção ao vereador podem, sim, serem tomadas, já que houve fechamento de questão para apoio a Doria.>
À Folha o vereador afirma não ter sido avisado sobre o fechamento de questão e diz que nenhum dirigente falou com ele sobre risco de punição. Sua declaração de apoio, porém, incomodou outros vereadores.>
"Todos são do partido e todos têm o direito a escolher o seu candidato. Acreditar que por isso possa ter alguma punição... A democracia vai embora", diz ele.>
Tripoli afirma não ter problemas com Doria, mas diz ter escolhido Leite por ser preparado e por dialogar com todos os campos. "Eu me identifico muito com a forma que o Eduardo vem fazendo política.">
Em São Paulo, Leite tem ainda o apoio de dois ex-presidentes estaduais do partido, Antonio Carlos Pannunzio e Pedro Tobias, e do ex-deputado federal Floriano Pesaro, além do prefeito de Santo André, Paulo Serra, que coordena sua campanha no estado. O gaúcho já afirmou também contar com conselhos do ex-governador Geraldo Alckmin, que está de saída do PSDB e é desafeto de Doria.>
O governador paulista, por sua vez, tem, o apoio da ex-governadora e presidente do PSDB Mulher Yeda Crusius no Rio Grande do Sul e o apoio do deputado federal Domingos Sávio em Minas Gerais, os principais estados que declararam apoio a Leite.>
Em entrevista na semana passada, o coordenador da campanha de prévias de Doria, Wilson Pedroso, afirmou que os apoios a Leite em São Paulo representam "uma gota no oceano".>
O prefeito Paulo Serra afirmou à Folha que a declaração "parece desespero" e que políticos importantes de São Paulo que apoiam Leite, assim como vereadores, não podem ser desconsiderados.>
"Parece um pouco de arrogância de quem só disputou prévias sempre apoiado pela máquina e acaba se afastando um pouco da militância", completa.>
Serra diz ainda que os filiados têm que ser respeitados.>
"Não acredito que haja punição e, se houver, vou ser o primeiro a recorrer à executiva nacional. Não é uma guerra, uma disputa fratricida. É um exercício da liberdade de expressão, da democracia. Não vai haver unanimidade em nenhum diretório, em nenhum município. Meu apoio ao Eduardo é muito por causa do clima do país, que pede por um candidato com poder de conciliação e união.">
Da parte de aliados de Doria, a crítica é a de que os paulistas que apoiam Leite são ligados a Alckmin e podem deixar o partido após as prévias. Serra, no entanto, diz que vai permanecer no PSDB e que esse argumento "leva a discussão para um nível raso".>
O prefeito de Santo André acompanha e cobra explicações da executiva paulista a respeito do caso de dois vereadores suspensos pelo partido e alvos de processos de expulsão.>
Os parlamentares relataram à Folha que sofrem represálias por conta das prévias, algo que o PSDB de São Paulo nega, argumentando que as infrações são diversas e anteriores.>
Em 30 de setembro, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Carlão Pignatari (PSDB), aliado de Doria, entrou com uma representação contra o vereador Bruno Moura (PSDB), de São José do Rio Preto. No mesmo dia, veículos locais haviam noticiado o apoio de Moura a Leite.>
A representação, que pede a expulsão do vereador, trata de outros assuntos –Pignatari afirma que Moura confronta e ofende Doria.>
O texto menciona voto favorável e Moura, na Câmara, a uma homenagem a um padre da cidade crítico ao governador e o fato de o vereador não ter votado uma proposta de homenagem ao próprio Doria.>
Por esses fatos, Moura já havia sido suspenso em maio. O vereador apresentou sua defesa e comunicou o caso à executiva nacional do PSDB. "A gente viu que foi uma retaliação mesmo. Acredito que, se o partido se diz democrático, a gente tem que ter as nossas opiniões, não é?", diz.>
Há ainda o caso do vereador Marquinho Amaral, de São Carlos, suspenso após criticar em rede social, em agosto, a falta de destinação de recursos para a cidade. "Querem calar as pessoas que fazem discurso crítico porque isso acaba prejudicando direta ou indiretamente as prévias", afirma ele, que declarou voto em Leite e Alckmin.>
O presidente do PSDB-SP, Marco Vinholi, que é secretário no governo Doria, afirma não haver relação entre as suspensões e as prévias. Ele diz que Moura e Amaral são passíveis de expulsão por terem cometido "ofensa grave contra dirigente partidário e detentor de mandato eletivo".>
"Os dois casos foram muito antes de prévias, não tendo nenhuma relação com isso. Se eles estão fazendo qualquer relação do ato lamentável deles com as prévias, estão mentindo", diz Vinholi.>
O dirigente afirma que até agora não houve representação contra tucanos paulistas por causa de apoio a Leite, mas evita responder se isso poderia levar à punição.>
"O PSDB-SP aprovou por unanimidade o fechamento de questão apoiando João Doria. Vejo hoje uma enorme mobilização da militância nesse sentido. Temos enorme respeito pelos outros dois candidatos e, com isso, estaremos todos juntos a partir de 21 de novembro. O que vejo hoje é um sentimento tão forte de nossa militância a favor de Doria que eventuais posições distintas são irrisórias.">
No sentido contrário, em relação aos apoios a Doria, Vinholi diz ver pressão do deputado federal Aécio Neves para que membros do PSDB de Minas não manifestem sua preferência pelo paulista.>
"Essas manifestações dele [Aécio] de forma agressiva são algo que para nós é um absurdo dentro de uma estrutura partidária de disputa interna. [...] Essa pressão, que nós entendemos como absurda, é para inibir que as pessoas se manifestem", afirmou Vinholi durante entrevista na semana passada.>
Ao Painel o presidente do PSDB-MG, deputado federal Paulo Abi-Ackel, que é aliado de Aécio, diz que "a indisposição dos membros do PSDB de Minas com a candidatura de Doria" não é decorrente de ações do ex-governador mineiro ou dele próprio.>
À Folha de S.Paulo Abi-Ackel afirmou ainda que será "avassaladora vitória de Leite em Minas". "Não porque nós estamos pressionando, mas por uma questão de simpatia natural a Leite.">
Questionado sobre eventuais punições a quem apoiar Doria, o dirigente mineiro afirmou que "não haverá de forma nenhuma". "Prezamos a democracia partidária. Aqui somos a terra da liberdade.">
Yeda Crusius afirma não acreditar que o diretório gaúcho do PSDB vá punir aqueles que, como ela, apoiam Doria. A ex-governadora, no entanto, deixou grupos de WhatsApp de tucanos, que descreve como ambientes tóxicos em que uma minoria não entende a democracia interna.>
"Espero que não haja nenhuma retaliação. Não é por causa de ameaças que alguém vai deixar de exercer seu direito. Não sou contra ninguém. A disputa interna é saudável, a guerra não", diz ela. A reportagem não conseguiu contato com o diretório gaúcho do PSDB.>
Crusius afirma ainda que seu apoio a Doria é pessoal, não do PSDB Mulher como um todo, e que as tucanas estão livres para votar em quem quiserem e são incentivadas a participar. Para ela, porém, o governador paulista tem a melhor política pública para mulheres.>
"Ele apoia institucionalmente o PSDB Mulher, os outros não fazem isso", completa. Em São Paulo, Doria e Crusius estiveram juntos em um evento de campanha que reuniu mais de 4.000 mulheres.>
Em outra frente, a presidente do diretório do PSDB em Santa Catarina, deputada federal Geovânia de Sá, vem sofrendo pressão da sua base evangélica depois que o órgão declarou apoio a Leite, que é homossexual.>
Em vídeo, um pastor da Assembleia de Deus afirma que Leite é indigno. A igreja decidiu não mais apoiar a reeleição da deputada, que tentará reverter essa medida. Geovânia afirma que apenas anunciou a decisão da maioria do diretório de apoiar Leite e que os filiados estão livres para votarem em quem quiserem.>
"A Assembleia de Deus é minha igreja desde que nasci e estou nela até hoje. Como tenho um carinho e uma boa relação com a direção executiva da igreja, vamos continuar conversando", disse a deputada, por meio de nota, à Folha.>
Geovânia não respondeu se vê homofobia na manifestação do pastor e na decisão da igreja, mas disse ter recebido muitas manifestações contra ela e Leite. "Não desejo mal a ninguém, pelo contrário, desejo o bem a todos. Estendo meu perdão a todos, indistintamente", completa.>
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