Publicado em 30 de junho de 2021 às 19:08
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) suspendeu nesta quarta-feira (30) o prazo para concluir a análise de um pedido de uso emergencial da vacina Covaxin.>
O pedido havia sido feito um dia antes pela Precisa Medicamentos, que representa no Brasil a empresa indiana Bharat Biotech, responsável pelo imunizante.>
A tentativa da empresa de obter o aval ocorre em um momento em que a CPI da Covid apura suspeitas de irregularidades em contrato firmado pelo Ministério da Saúde com a empresa brasileira para obter 20 milhões de doses da vacina.>
Segundo a Anvisa, a suspensão do prazo ocorre após uma triagem inicial nos documentos apresentados para análise.>
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Em nota, a agência diz que "documentos obrigatórios e essenciais para a avaliação da eficácia e da segurança do imunizante foram apresentados apenas parcialmente ou não foram localizados.">
Com isso, o prazo de análise, que seria de sete dias úteis a 30 dias, fica suspenso. A agência diz ainda ter notificado a empresa para envio dos dados não apresentados.>
Segundo o órgão, a Precisa chegou a informar que parte dos dados estariam disponíveis, mas houve dificuldades no envio formal.>
Entre as informações faltantes, estão informações sobre qualidade e tecnologia farmacêutica, relatórios de estudos pré-clínicos de segurança e imunogenicidade e dados completos dos estudos clínicos.>
"Diante das pendências relatadas, o prazo para a conclusão da análise da Anvisa encontra-se suspenso até que a empresa apresente as informações necessárias", informa.>
Nesta terça (29), o Ministério da Saúde decidiu suspender o contrato com a Precisa até que haja novo parecer sobre possíveis irregularidades no contrato.>
A medida ocorreu por recomendação da Controladoria-Geral da União. Membros da pasta, no entanto, ainda estudam cancelar definitivamente o contrato.>
O argumento é que, além das investigações, a existência até o momento apenas de um aval da Anvisa para importação sujeito a várias restrições e possibilidade de obter um baixo número de doses trazem dificuldade em manter o acordo.>
A existência de suspeitas de irregularidades no contrato da Covaxin foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 18, com a divulgação do depoimento sigiloso de Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde.>
Ele disse ao Ministério Público Federal em Brasília que recebeu uma "pressão atípica" para agilizar a liberação da Covaxin, desenvolvida pelo laboratório Bharat Biotech.>
O relato resultou em uma nova linha de investigação da CPI, a qual chegou também ao Palácio do Planalto. Em depoimento na sexta (25) à comissão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), irmão do servidor, disse que alertou Bolsonaro em março sobre supostas irregularidades na compra da Covaxin.>
Miranda também relatou que Bolsonaro teria ligado o líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), ao "rolo" nas negociações para a compra da vacina indiana. Barros nega ter participado da negociação.>
Em reação, o presidente Bolsonaro mandou a Polícia Federal investigar o deputado e o servidor, mas não explicou o que fez ao ser alertado por eles sobre as supostas irregularidades.>
O contrato da Saúde com a Precisa foi firmado em fevereiro, ainda em um momento em que a vacina não tinha tido todos os resultados de estudos clínicos divulgados, e com previsão de custo de US$ 15 a dose.>
Meses antes, o ministério já tinha negado propostas de vacinas mais baratas e já aprovadas em outros países, como a Pfizer (que custava US$ 10).>
Em nota divulgada na terça após a suspensão do contrato com o ministério, a Precisa informu que "respeita o trabalho da Controladoria Geral da União e aguarda, com serenidade, as conclusões das investigações".>
Disse ainda confiar que a investigação "confirmará a legalidade de todos os trâmites e afastará qualquer dúvida que tenha surgido, permitindo que o país, em breve, possa reforçar a imunização da população.">
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