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É doutor e mestre em Direito Processual pela Universidade de São Paulo. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo

Rússia e China: a consolidação da "nova" nova ordem mundial

Neste novo mundo que nos aguarda, o que está fora de ordem não é escondido. Está escancarado para que todos vejam. É algo muito diferente da antiga nova ordem mundial, que deixará saudades

  • Marcelo Pacheco É doutor e mestre em Direito Processual pela Universidade de São Paulo. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo
Publicado em 25/02/2022 às 12h06
Militares ucranianos sentados sobre veículos blindados seguem em uma estrada em Kramatorsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia
Militares ucranianos sentados sobre veículos blindados seguem em uma estrada em Kramatorsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia. Crédito: Vadim Ghirda | AP | Estadão Conteúdo

“Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial”. Ao som de Caetano Veloso já éramos céticos em relação à nova ordem mundial, que surge a partir do colapso da União Soviética e do estabelecimento dos Estados Unidos como a única grande potência mundial. Não era e nunca foi um mundo perfeito.

O fato, todavia, é que, a despeito de altos e baixos, o mundo colheu excelentes frutos desse período, com um crescimento sólido na média do IDH global e com significativa redução da pobreza no mundo. Mais, ainda, o mundo ganhou muito em democracia e liberdade, após a derrota do socialismo, permitindo que antigas repúblicas satélites ganhassem autonomia e suas populações liberdade e prosperidade em diferentes sentidos.

Ressalto. Não me refiro, apenas, a crescimento econômico. Países como Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslovênia, Croácia, Montenegro e República Tcheca, antes sob o cruel e opressivo jugo do socialismo e do domínio soviético, passaram a ocupar o time seleto dos países com “Alto Desenvolvimento Humano”. Além de obterem, em diferentes medidas, liberdade de imprensa e liberdade de expressão.

O mundo também observou um período de intenso comércio, intensificação das comunicações e integração global, com a eliminação de fronteiras, barreiras econômicas e criação de mercados comuns. A liberdade parecia ser um caminho sem volta, e a prosperidade estava logo ao lado.

Um dos países que, aparentemente, mais se aproveitou desse fenômeno foi a China. Inicialmente recebendo empresas estrangeiras, que lá se estabeleciam para aproveitar os baixos custos de produção, e posteriormente com o desenvolvimento de um parque industrial e científico próprio. A produção não tinha mais fronteiras, e a China passou a ser a fábrica do mundo, crescendo em parâmetros exponenciais. Investiu em pesquisa, desenvolveu tecnologia e passou a liderar o mundo em várias áreas, passando, nos últimos anos, a desafiar a hegemonia global dos Estados Unidos.

O crescimento da China foi o embrião do fim da “nova ordem mundial”. Embora tutelasse certas liberdades econômicas, nunca flertou sequer com a liberdade política, característica da ordem surgida nos anos 90. A China era a representação de uma nova potência, que buscava seu lugar no mundo, mas que não se identificava com os valores daquele mundo ocidental predominante. E nesse ponto, sua recente aliança com a secular inimiga Rússia parece ter sido o “coup de grace” na nova ordem mundial.

Rússia e China, juntas, derrotaram a nova ordem mundial. Expuseram as fraquezas do Ocidente e deixaram claro que a hegemonia americana é coisa do passado. O desafio derradeiro ocorreu na madrugada da invasão da Ucrânia. A qual inaugura a possibilidade de novos e futuros desafios, em Taiwan, no vale de Galwan, e sabe-se lá onde mais.

A nova nova ordem mundial que se avizinha não haverá de ser cantada. Não será preciso nem sequer alertar a respeito de algumas coisas que eventualmente estejam “fora de ordem”. Neste novo mundo que nos aguarda, o que está fora de ordem não é escondido. Está escancarado para que todos vejam. De fato, a nova nova ordem mundial é muito diferente da antiga nova ordem mundial, que deixará saudades.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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