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Que a universidade tenha uma vida longa e próspera

É consenso que a educação é um direito e que cabe à universidade buscar, com seus inúmeros especialistas, mecanismos de manutenção desse direito sem deixar que as desigualdades sejam ampliadas neste processo

  • Gabriel Luchini
Publicado em 10/08/2020 às 16h03
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Goiabeiras
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Goiabeiras. Crédito: Ricardo Medeiros

Seria desnecessário começar este texto lembrando que vivemos um momento excepcional da história, não fosse o fato de que há meses o governo federal afirma que nenhuma excepcionalidade existe e muita gente tem acreditado, então, melhor começar mesmo reafirmando que o momento é excepcional e em muitos aspectos.

Em 2020 despertamos não somente numa pandemia, mas também no futuro. É no meio de muitas cenas deste presente distópico que encontramos aquelas que levantam as orelhas de qualquer fã de Star Trek. Como na edificadora série de TV, chegamos a um ponto em que a tecnologia parece indissociável de qualquer tarefa básica do dia a dia. O que antes poderia ser conveniência agora é necessidade.

E tudo isso aconteceu rápido demais, em especial se o que desejamos é controlar as mudanças, em vez de compreendê-las. Desde muito tempo se fala em inclusão digital. Há alguns anos a Ufes iniciou a adoção de processos digitalizados. Os estudantes recebem muitas informações cruciais para a sua vida acadêmica exclusivamente por e-mail. Eu mesmo, como professor, sempre usei as plataformas digitais em meus cursos, e só agora percebi que nunca me dei ao trabalho de perguntar para meus alunos sobre as suas condições de acessibilidade.

Parece que a pandemia está nos trazendo não só importantes reflexões, mas também acelerando esse famoso processo de inclusão digital, que apesar de famoso, só agora parece subir ao palco (ou fazer uma live). Tão rápido quanto foram as mudanças trazidas com o isolamento social, foi também a sua transformação em um negócio lucrativo para alguns setores, inclusive aqueles que lucram com a educação.

Como um vírus, o sistema econômico e o mercado conseguem se adaptar rapidamente para sua manutenção, e não resolver o problema do ensino na Universidade durante a pandemia é como negligenciar um paciente. O que estamos vendo todos os dias nos jornais é um esforço mundial para se chegar à resposta de um problema que não está nos manuais de solução. Temos visto que só há uma maneira de se combater a Covid-19: com o bom e velho método científico. Hipótese, experimentação, análise, formulação de teorias e mais testes.

Desde o início da pandemia as instituições de ensino no país no mundo estão tendo que se reinventar. É consenso que a educação é um direito e que cabe à universidade buscar, com seus inúmeros especialistas, mecanismos de manutenção deste direito sem deixar que as desigualdades sejam ampliadas neste processo.

Não seria cabível, neste momento, a omissão da Universidade ao diálogo com os anseios da comunidade acadêmica e da população brasileira. Afinal, se nós, doutores e especialistas que dedicam a vida à solução de problemas, não podemos apresentar à sociedade uma resposta – e é por ela que trabalhamos e a ela que dirigimos nossas ações – então, quem pode?

É fundamental que colegas professores/as atuando no ensino básico em nosso Estado possam contar com o protagonismo da Ufes, em seu papel formador, na busca de soluções concretas, bem como muitíssimos outros profissionais que, ao contrário de nós, precisaram dar uma resposta imediata para a situação em que passamos a viver.

Como está sendo feita a luta contra a pandemia deve ser feita a luta pela educação e por meio dela: um passo de cada vez, com método. Testando e avaliando. E acima de tudo admitindo que o problema existe pois este é o primeiro passo para resolvê-lo.  

O autor é físico teórico e professor do Departamento de Física da Ufes

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