Autor(a) Convidado(a)
É pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá

Neste outono, vamos colher os frutos do negacionismo da pandemia

Apesar de tudo o que testemunharemos, não podemos desanimar. É do caos que emerge uma nova ordem. Essa construção está em nossas mãos e será moldada a partir das nossas escolhas

  • Kelder José Brandão Figueira É pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá
Publicado em 24/03/2021 às 02h01
Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, recebe trinta e seis pacientes com Covid-19 vindos de Manaus
Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, recebe trinta e seis pacientes com Covid-19 vindos de Manaus em janeiro. Crédito: Fernando Madeira

O outono chegou. É hora de colhermos os frutos semeados nas estações anteriores. Nas últimas semanas de verão, tornamo-nos testemunhas oculares das previsões catastróficas que cientistas, políticos e formadores de opinião renomados vêm fazendo ao longo do último ano, sobre o agravamento da crise sanitária, ética e política que estamos enfrentando.

Estamos colhendo neste outono o que foi plantado ao longo do ano: em todas as unidades da federação, amontoam-se corpos sem vida nos cemitérios, pessoas desesperadas nas unidades de pronto atendimento, morrendo asfixiadas, agentes de saúde exauridos, médicos obrigados a eleger a quem atender e a quem deixar morrer e nós, aturdidos, assistimos ao anúncio do número de mortos e infectados que cresce avassaladoramente em todo o país, contemplando o caos que nos circunda!

Na medida em que o caos impera, multiplicam-se acusações e transferências de responsabilidades entre os agentes gestores da saúde pública, denúncias de má gestão, corrupção e ganhos imorais com licitações fraudulentas, governadores e prefeitos apelando para a consciência e civilidade da população, enquanto parte dessa população continua negando a gravidade da pandemia, com os mais diversos argumentos equivocados e práticas obscenas, para não fazer o que precisa ser feito diante do caos.

Nesses momentos históricos emergem as nossas crenças e verdades mais profundas, revelando quem somos e no que acreditamos. Essa não é a primeira e não será a última crise enfrentada pela humanidade. Nosso passado mostra isso. Apesar de todas contradições, chegamos até aqui. Aonde e como chegaremos depois, depende do que faremos hoje.

Os tempos que se avizinham serão duros e sombrios. Junto com a morte, caminham a fome, a peste e a guerra. E elas são nossas companheiras de caminhada de longa data. Mas, apesar de tudo o que testemunharemos, não podemos desanimar. É do caos que emerge uma nova ordem. Essa construção está em nossas mãos e será moldada a partir das nossas escolhas. Tecemos hoje o nosso amanhã.

Podemos aproveitar esse momento para construir uma nova ordem social, feita a muitas mãos, com muitos afetos, contemplando a riqueza infinita das vidas diversas que povoam nossas cidades, acalentando sonhos eternos e infinitos de amor e solidariedade.

Hoje, a História está exigindo de nós firmeza nos compromissos com a construção de uma ética humanizada e solidária, empatia com a dor alheia e uma responsabilidade moral que nos leve a cuidar uns dos outros. Nessa construção não estaremos sozinhos. Muitas outras estações virão. Por ora, contemplemos também as rosas que continuam desabrochando.

O autor é pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá

*Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta

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