Autor(a) Convidado(a)
É psicóloga, advogada e idealizadora do Projeto Ressignificando (@ressignificando_projeto)

Estupro em metrô nos EUA reacende debate sobre consumo da violência

Uma mulher foi estuprada no dia 13 de outubro dentro de um vagão na Filadélfia. Passageiros no local usaram os celulares para filmar o crime, e não para pedir ajuda

  • Sátina Pimenta É psicóloga, advogada e idealizadora do Projeto Ressignificando (@ressignificando_projeto)
Publicado em 21/10/2021 às 14h00
Metrô nos EUA
Dezenas de passageiros estavam ou passaram pelo vagão onde tudo aconteceu e nada fizeram. Crédito: Freepik

No dia 13 de outubro de 2021, em um metrô na Filadélfia (Pensilvânia - EUA), uma mulher foi assediada e estuprada. As reportagens informam que ela entra no metrô, é abordada por seu agressor, reage ao mesmo empurrando-o, ele rasga suas roupas e a estupra dentro do vagão. O tempo de duração do crime é de 40 minutos, sendo que a conjunção carnal ocorre nos 8 minutos finais.

Mas este artigo está sendo produzido para você pensar! E não para repetirmos informações. O crime aconteceu por volta das 21h, em uma quarta-feira, na cidade mais populosa da Pensilvânia. Dezenas de passageiros estavam ou passaram pelo vagão onde tudo aconteceu e nada fizeram.

Porém, o que torna a situação mais estarrecedora é que, de acordo com as autoridades, alguns destes espectadores utilizaram de seus celulares para registrar o ato criminoso através de fotos ou vídeos, mas nenhum deles utilizou o aparelho eletrônico para pedir ajuda à polícia.

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, nos fala sobre uma Modernidade Líquida baseada no desprendimento e no consumo de tudo e de todos. Sim, o consumo não só de objetos, mas de pessoas.

Na situação em questão o espetáculo é consumido. A vítima é consumida por seu agressor, mas a sua dor é consumida pelos espectadores que, ao invés de intervirem, preferem produzir imagens que podem render um bom dinheiro se vendidas e milhares de likes nas redes sociais pelo flagra da dor cotidiana. A intervenção torna-se segunda opção, afinal o que se ganha com ela?

Não é novidade que a violência tornou-se banalizada. Quando sentamos à mesa na hora do almoço com nossos filhos recém chegados da aula, ligamos a televisão e o que vemos são reportagens sobre roubos, estupros e mortes intercaladas com propagandas de shakes e educação a distância.

Nossas crianças inclusive (re)descobriram uma brincadeira infantil - batatinha frita 1, 2, 3 - ao terem contato direta ou indiretamente com uma série coreana baseada em jogos mortais. Pessoas morrem em acidentes enquanto outras filmam ao invés de socorrer… e por aí vai.

E foi este consumo da violência que permitiu que uma mulher fosse vítima de agressão em um lugar público, virando manchete para que nós a consumíssemos como estamos fazendo agora.

Só não se esqueça: você é o que você consome!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.