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É doutoranda pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV) e membra da Comissão Intersetorial de Saúde Mental (CISM) do Ministério da Saúde

Dia da Luta Antimanicomial: a vida não deve ser uma prisão

A luta antimanicomial é antiga e tenta incluir na sociedade as pessoas que dela estiveram excluídas por longo período, passando o maior tempo de suas vidas entre os muros dos hospícios

  • Maristela Lugon Arantes É doutoranda pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV) e membra da Comissão Intersetorial de Saúde Mental (CISM) do Ministério da Saúde
Publicado em 18/05/2022 às 15h35

Com a pandemia, os casos de transtornos mentais ganharam maior atenção e a necessidade de repensar nosso papel em uma sociedade mentalmente abalada. O medo, a angústia, a ansiedade e diversos transtornos psiquiátricos puderam ser observados nesse tempo de emergência sanitária.

A luta antimanicomial é antiga e tem entre seus objetivos incluir na sociedade as pessoas que dela estiveram excluídas por longo período, passando o maior tempo de suas vidas entre os muros dos hospícios.

Além disso, ela também busca evitar que os hospitais psiquiátricos de longa permanência sejam reativados, voltando com os antigos métodos de confinamento, eletrochoques e outros tratamentos degradantes que em nada contribuem para a melhora da qualidade de vida das pessoas que ali ficarão.

Mulher em tratamento para transtornos mentais
Mulher em tratamento para transtornos mentais. Crédito: Freepik

Muito além de pensarmos os hospícios como algo distante de nós, que abrigam somente os desvalidos de toda sorte, é necessário compreender que todos somos passíveis de sofrer com algum desses transtornos nesse mundo pós-pandêmico, no qual as pessoas tendem a agir de modos diversos do já padronizado, podendo também serem enquadradas como “loucas”.

O atual governo segue na contramão do mundo, autorizando a volta de tratamentos já considerados cruéis e obsoletos na saúde mental, adicionando a psicofobia à lista das condutas discriminatórias já espalhadas por seus seguidores, como o racismo, o machismo, o sexismo, a transfobia, a homofobia, o capacitismo e a aporofobia.

Entender a luta antimanicomial como algo que faz parte de nosso dia a dia, significa mudar o olhar psicofóbico para com o outro e acolhê-lo em nosso convívio, implica que pensemos sobre o que é cidadania plena e se todos podem desfrutá-la com liberdade.

As pessoas com transtornos mentais estão em toda parte, podendo ser, além de nós mesmos, nossos pais, filhos, amigos e parentes. Reativar os antigos hospícios, sob argumento de locais de apoios à Rede de Atenção Psicossocial do SUS, significa ter um lugar, um sumidouro, para onde levar aqueles que não se enquadram no padrão imposto socialmente, tal qual ao Hospital de Barbacena (MG), que ficou conhecido como o Holocausto Brasileiro , devido aos milhares de pessoas que foram mortas naquele local, muitos dos quais nunca apresentarem problemas mentais.

Eram, simplesmente, pessoas que não se enquadravam na sociedade. Negros, mulheres que não tinham um comportamento adequado, prostitutas, toxicômanos, crianças órfãs, autista, pessoas com deficiência, alcoolistas, população LGLBTQIA+, etc.

Fortalecer a luta antimanicomial é pensar que futuro queremos para todos nós, sobreviventes de uma pandemia com milhões de mortos e pessoas psicologicamente transtornadas. Chega de fechar os olhos à realidade que nos cerca.

*18 de maio é o Dia da Luta Antimanicomial, que prega que as pessoas com transtorno da mente não devem ser hospitalizadas, mas sim tratadas dentro de suas casas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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