Publicado em 2 de novembro de 2024 às 14:41
As crianças – e adultos – autistas costumam se comunicar de forma diferente das pessoas neurotípicas.>
As principais características da fala autista podem incluir pouco contato visual, concentração nos detalhes e não na essência geral da conversa e valorização do significado literal – as pessoas autistas podem ter dificuldade de entender se algo está implícito e não diretamente expresso.>
Estas diferenças podem dificultar parte da comunicação entre as crianças autistas e os adultos ao seu redor. Mas compreender as dificuldades pode ajudar.>
Minha pesquisa, em conjunto com meus colegas, explorou como as crianças autistas e neurotípicas imitam a fala dos pais durante uma conversa.>
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A imitação é um aspecto da linguagem e da comunicação que começa ao nascer. Quando as pessoas falam entre si, elas costumam repetir o que as outras dizem, refletir seus gestos, alinhar seu tom de voz e até mesmo seu sotaque.>
Isso ocorre como um processo de aprendizado, mas também para nos adaptarmos socialmente. O processo demonstra engajamento, sinalizando aos participantes da conversa que eles estão sendo ouvidos e compreendidos.>
O tipo de imitação que procuramos é conhecido como "ressonância". Ele envolve a reutilização da fala dos demais durante uma conversa.>
Imagine que eu pergunte "você teve um bom fim de semana?" e você responda "sim". Este é um caso em que não há ressonância na sua resposta. Você responde a minha questão, mas não se envolve com as minhas palavras.>
Mas, se você tivesse respondido algo como "tive um fim de semana bastante interessante, na verdade, viajei para Paris", você teria "ressoado" diversas palavras da minha pergunta (como "fim de semana", "tive") e se envolvido criativamente com elas (substituindo "bom" por "interessante").>
Na nossa pesquisa, procuramos esta forma de imitação entre as crianças e suas mães. Ao todo, nosso estudo envolveu 180 crianças falantes de mandarim, com 37 a 60 meses de idade (aproximadamente, de três a cinco anos).>
Incluímos crianças neurotípicas e neurodiversas e procuramos suas imitações verbais – como elas reutilizavam e reformulavam espontaneamente as palavras ditas para elas. E concluímos que as crianças autistas foram muito menos propensas a fazer uso deste tipo de imitação.>
Um exemplo da nossa pesquisa é uma mãe que abre um livro e diz: "A raposa estava tão assustada que saiu correndo." Sua filha neurotípica ressoou a frase e se engajou com suas palavras: "Ela estava tão assustada e saiu correndo rapidinho.">
Mas este tipo de imitação verbal era mais raro entre as crianças autistas. Elas reutilizaram as palavras dos seus pais com muito menos frequência e criatividade.>
A ressonância envolve a capacidade de "improvisar" rapidamente com as palavras dos demais. E descobrimos que as crianças diagnosticadas com o transtorno do espectro autista apresentam menos probabilidade de fazer isso que as crianças neurotípicas.>
Uma criança autista pode repetir frequentemente a mesma frase usada pela mãe, mas sem adornos, nem reutilização criativa das palavras.>
Isso não significa que elas não sejam capazes de ressoar criativamente as palavras da mãe, mas sim que elas o faziam com frequência significativamente menor. Isso talvez ocorra porque a criatividade das pessoas autistas pode ser expressa mais frequentemente em isolamento social e fica mais difícil durante um diálogo.>
Resumidamente, o transtorno do espectro autista não impede a criatividade, mas as pessoas autistas enfrentam dificuldade para criar com as palavras dos demais durante uma conversa.>
Esta descoberta nos fornece uma nova consciência de como os pais, médicos e educadores podem identificar os primeiros sinais de autismo no desenvolvimento das crianças.>
Nossas conclusões podem ajudar os pais de crianças autistas a compreender por que os padrões de fala dos seus filhos e sua forma de responder aos demais podem ser diferentes das crianças neurotípicas.>
* Vittorio Tantucci é professor de linguística e linguística chinesa da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.>
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.>
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