Publicado em 16 de junho de 2020 às 10:00
Quero começar propondo um exercício. Você nem precisa sair do lugar. Peço, por favor, que deixe uma de suas mãos livres. O lado que preferir. Vou falar cinco situações comuns à vida de, se não todas, da maioria das pessoas pretas do Brasil. Mantenha a mão a fechada. Caso você tenha vivido alguma dessas cenas, levante um dedo.
Vamos começar: levante um dedo se você já foi seguido (a), ou até perseguido, em um supermercado por algum segurança; levante um dedo se alguém já desviou da calçada ou aproximou a bolsa/mochila ao corpo ao cruzar com você com medo de ser roubado; levante um dedo se você tem dificuldade de encontrar cosméticos específicos para o seu tom de pele ou cabelo; levante um dedo se você já sofreu algum tipo de discriminação (mesmo travestida de brincadeira) por causa do seu tom de pele ou forma do seu cabelo; levante um dedo se já foi a alguma festa e as únicas pessoas da sua cor eram você e quem estava trabalhando no evento.
O que você vê é a mão pesada do racismo que sinto na pele há mais de 30 anos. Antes velada, a voz rouca da discriminação agora ecoa ainda mais potente no alto-falante das redes sociais. Nem precisa ter cara, basta ter um pacote de dados no celular. Por isso, devemos ocupar todos os espaços possíveis. Acredito até que essa onda seja passageira, porque já tem cidadão de bem dizendo que há questões mais urgentes no país. Concordo, afinal, esse povo nos quer bem criados, mudos, como se ainda tivessem correntes nos nossos pés.
Isaac Ribeiro
repórterRelendo o que escrevi, até parecem palavras de quem está amargurado, mas não. Após a morte de George Floyd nos Estados Unidos, muitos artistas brancos do Brasil estão se posicionando contra o racismo em seus perfis da internet. O Marcos Mion (@marcosmion) nesta semana convidou o ativista negro AD Júnior (@adjunior_real) para comentar sobre 9 expressões e termos racistas que devem sair do vocabulário. Assisti toda a conversa. Ao final, fui ler os comentários. Tinham centenas de manifestações preconceituosas. Era melhor se a gente ficasse só com as nove expressões discutidas no bate-papo dos dois. Vamos precisar de muito mais gerações para a coisa ficar preta de verdade.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta