Guido Nunes na cobertura da Copa do Mundo de 2018, na Rússia
Guido Nunes na cobertura da Copa do Mundo de 2018, na Rússia
Guido Nunes

"O que mais diferencia no mercado, hoje, é buscar histórias"

Ex-residente da Rede Gazeta, o repórter de Esportes da Globo fala sobre Seleção Brasileira e começo de carreira

Tempo de leitura: 2min
Guido Nunes na cobertura da Copa do Mundo de 2018, na Rússia
Vitória / Rede Gazeta
Publicado em 29/08/2022 às 19h21

Com tanta oferta de conteúdo e informação no mundo digital de hoje, o que muitos se perguntam é o que fazer para ter destaque neste mar de publicações, canais, vídeos e feeds de rolagem infinita. Para o jornalista Guido Nunes, repórter de Esportes da Globo, a resposta não é tão difícil: o essencial é encontrar boas histórias.

Com três Copas do Mundo – 2014, 2018 e 2019 (feminina) – e três Olimpíadas – 2012, 2016 e 2020 – na bagagem, foram muitas as histórias contadas por Guido até aqui. Algumas muita boas, como ouvir Usain Bolt cantar Bob Marley, e outras extremamente difíceis, como a cobertura do acidente com o avião da Chapecoense em 2016.

De férias antes de se preparar para o que será sua quarta Copa do Mundo, desta vez no Catar, Guido vai participar nesta terça-feira (30) da aula inaugural do 25º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, do qual participou em 2007, na 10ª edição. Em entrevista, ele já adiantou algumas expectativas com a Seleção Brasileira e os principais conselhos pra quem está começando agora no mercado. Confira:

Viemos nos últimos dois anos com uma cobertura esportiva que se transformou muito, por causa da pandemia. O que podemos esperar, em termos de jornalismo, dessas novidades na Copa do Mundo deste ano?

Acho que a pandemia não vai impactar muita coisa nesta Copa, como foi nas Olimpíadas. O que mudou são as cinco substituições, que a Fifa já autorizou, e para um time que tem um elenco melhor pode fazer a diferença, mas não acredito que seja tão determinante. O que vai mudar mesmo, e estou bem curioso pra saber, é como vai ser uma Copa em novembro e dezembro.

Como você disse, esta edição de 2022, ao contrário de ser no meio do ano, como tradicionalmente acontece, a Copa será nos meses de novembro e dezembro, pelo clima do Catar. Isso também impacta na cobertura?

Eu acho que vai ser bem diferente, porque não vamos ter Brasileirão, Libertadores ou Copa do Brasil, como geralmente temos. A CBF encurtou um pouco o calendário para toda a atenção estar voltada para a Copa do Mundo. Com essa ‘dedicação exclusiva’, podemos dizer, acho que vai ser muito interessante para quem gosta de futebol, bem curioso. Na cobertura, o que impacta também é isso, de uma forma macro, antes era preciso pensar na Copa junto com os outros campeonatos. Tem também a questão dos jogadores convocados que atuam no Brasil, deixando os clubes desfalcados no meio dos torneios, o que também é outra visão.

Agora, para quem está in loco, não muda nada de preparação. Nesse caso, se fosse em julho, o impacto seria mesmo da temperatura extrema lá no Catar.

Ainda sobre a cobertura, neste momento de muita integração entre TV e internet que estamos vivendo, de multimídia, multitelas... O que fazer para ser ainda mais diferencial? Como sair do "mais do mesmo", com tanta oferta de conteúdo?

A forma hoje em dia de se diferenciar no mercado é a capacidade de fazer várias coisas né. Hoje não tem mais espaço pra quem só escreve, só edita, só produz ou só aparece no vídeo, hoje em dia está muito misturado. O que mais diferencia é buscar histórias. Quando você encontra histórias bacanas isso te destaca, e se você não for atrás, não vai encontrar. Quando você consegue algo assim, curioso, faz com que você consiga despertar a atenção de alguém que já está naturalmente disposto a acompanhar assuntos da Copa.

Agora, como o Guido torcedor do Brasil, o que você espera da Seleção brasileira na fase atual?

Olha, o Guido torcedor do Brasil e difícil aparecer na Copa viu, porque é tanto trabalho (risos). Mas eu acho que a seleção é ótima, em termos de elenco, e deu uma rejuvenescida boa de 2018 pra cá, com nomes que chegam que são grandes jogadores, não só da seleção, como do futebol mundial. Tem o Neymar, que é sempre o Neymar, e nesse início de temporada, pelo menos até agora, tem demonstrado que está muito bem fisica e tecnicamente; tem o Vinícius Júnior, o Casemiro, que foi agora pro Manchester, em geral, uma seleção que em todas as suas posições está muito boa.

Mas Copa do Mundo é Copa do Mundo, é complicado de conseguir prever qualquer coisa, são sete jogos e depende muito das circunstâncias, dos cruzamentos, posição no grupo... Mas acho que é uma seleção com plenas condições de ser campeã, e claro, ficaria muito feliz com o hexa do Brasil.

Em 2021, Guido participou da cobertura das Olimpíadas de Tóquio 2020 como apresentador da GloboNews
Em 2021, Guido participou da cobertura das Olimpíadas de Tóquio 2020 como apresentador da GloboNews. Crédito: Reprodução Instagram

Falando nisso, como você acha que o mercado do esporte enxerga, hoje em dia, essa dualidade jornalista x torcedor? É diferente de quando você começou na carreira?

Hoje o mercado do esporte é diferente do mercado do jornalismo esportivo, né. Você tem aí uma crescente de youtubers que se dedicam a fazer coberturas dos times, mas muitos deles não são jornalistas. São comunicadores, e que fazem um trabalho com alcance muito legal, de relevância e que merecem mesmo o espaço que eles conquistaram, com o respaldo dos torcedores. Mas é um pouco diferente, porque eles fazem a cobertura do Flamengo, por exemplo, para o torcedor do Flamengo.

O jornalista precisa fazer a cobertura do Flamengo para o público em geral, então ele não se envolve, ou pelo menos não deveria se envolver. Acho que a principal diferença é essa e não tinha na minha época, porque não tinha a facilidade que se tem hoje de produzir vídeo, entrar ao vivo, estar presente nas redes sociais. Mas fazer jornalismo continua sendo diferente de fazer comunicação para os torcedores dos clubes.

E pra fechar, sobre começar na carreira, quais desafios um jovem profissional precisa saber encarar para entrar no jornalismo esportivo atualmente?

Acho que o principal para começo de carreira é, primeiro, querer. Esse desejo, essa vontade, tem que gostar do que faz. Eu nem sou daqueles que vai romantizar, 'trabalhe com o que ama' e tal, mas o jornalismo esportivo primeiro exige que você goste muito de esporte né (risos) é o principal. E o que eu diria pra hoje em dia é não se fechar apenas nas atribuições que te dão. Por exemplo, você começa como produtor, não seja só produtor, se preocupe em aprender a editar, a fazer outras coisas ali na redação onde você está, a saber do todo.

E esteja sempre disposto a ajudar, porque o que você precisa pra ter sucesso é resolver o problema de alguém. Você tá ali, o jornal precisa fazer uma matéria, o 'problema' que ele tem é conquistar a audiência. Se você consegue fazer um conteúdo que vai satisfazer a audiência, pronto, você tá fazendo um bom trabalho. Acho que é preciso entender isso, e que o sucesso profissional ele não é o ponto de partida, ele é e deve ser o seu ponto de chegada. Tem que ir fazendo do jeito que der, mas buscando sempre o seu melhor, é o seu norte.

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