Publicado em 20 de maio de 2020 às 15:48
Preocupado com a subida do Brasil no ranking dos países com mais casos do novo coronavírus, o Uruguai está desestimulando a tradicional participação de brasileiros na colheita da cana-de-açúcar, que começa nesta quarta-feira (20) e dura cinco meses. >
Todos os anos, cerca de 1.500 trabalhadores cortam cana na safra na cidade de Bella Unión, no norte uruguaio, que faz fronteira com a gaúcha Barra do Quaraí, a 608 km de Porto Alegre, e com Monte Caseros, na Argentina.>
Na safra de 2019, cerca de 160 brasileiros atuaram no país vizinho, de acordo com Luis Rolin, secretário geral da União de Trabalhadores Açucareiros de Artigas (UTAA). Neste ano, a expectativa é que o total de brasileiros não chegue a 40 -uma redução de 75%.>
No início do mês, o ministro da Saúde, Daniel Salinas, visitou a cidade de Artigas, capital do departamento ao qual pertence Bella Unión, e anunciou um protocolo sanitário para evitar a proliferação do novo coronavírus pelas fronteiras.>
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Isso por conta dos números da pandemia: enquanto o Brasil somava 271.628 casos de contaminação e 17.971 mortes até quarta-feira (20), o Uruguai contava apenas 738 diagnósticos e 20 mortes.>
Barra do Quaraí ainda não tem registro da doença, mas cidades brasileiras mais próximas como Quaraí e Uruguaiana somavam 21 casos até quarta.>
De acordo com o novo protocolo, os brasileiros precisam ficar pelo menos seis dias em quarentena assim que chegam às fazendas onde ficarão alojados durante a temporada.>
Depois desse período de isolamento, os trabalhadores são testados para o novo coronavírus -e, claro, apenas aqueles com resultado negativo podem trabalhar. Além disso, somente os "cortadores", como são chamados, que já possuem autorização de trabalho no país vizinho e que já trabalharam em safras anteriores poderão ser contratados, o que restringe ainda mais a entrada dos brasileiros.>
"Evitando, na medida do possível, que se incorpore funcionários novos vindos do Brasil", diz o texto do protocolo, assinado pela médica Karina Rando, da coordenação do ministério.>
Além disso, as saídas das fazendas para retornar ao Brasil e visitar as famílias, antes autorizadas a cada 15 dias, agora serão liberadas apenas a cada 30 dias durante os cinco meses de colheita. E a cada retorno ao Uruguai a quarentena deve ser repetida.>
Mais do que dificultar a entrada dos trabalhadores, há quem defenda que os produtores radicalizem e não contratem brasileiros de jeito nenhum, para evitar qualquer risco de contaminação.>
"O protocolo é justamente para nossa proteção porque não há nenhum caso aqui. Fizemos uma recomendação aos produtores de cana para não chamar brasileiros porque entendemos que há o risco da fronteira. Onde vivemos não há casos", disse Djelil Brysk, presidente da Associação dos Plantadores de Cana-de-Açúcar (Apcanu) de Bella Unión.>
Segundo Brysk, nem todos produtores deixarão de contratar brasileiros. Mas ele aposta numa redução de pelo menos 50%. Os trabalhadores ganham até R$ 120 por dia, dependendo da quantidade colhida.>
Do lado brasileiro, o prefeito de Barra do Quaraí, Iad Choli (PSB), resigna-se com a situação. "Os protocolos do Uruguai são mais rígidos do que o do Brasil. Eles cobram mais. O brasileiro que entra no país tem que se submeter às regras deles. Se estão dispostos a seguir, pronto", diz.>
A reportagem procurou o Itamaraty para comentar as mudanças no protocolo do Uruguai, mas não teve resposta.>
O avanço da disseminação do novo coronavírus no Brasil acendeu alertas nos países vizinhos, que se preocupam com os reflexos da crise brasileira em seus territórios.>
"Se o Brasil espirra, nós pegamos pneumonia", escreveu no Twitter o diretor de vigilância da saúde do Paraguai, Guillermo Sequera, no início do mês.>
Em março, o Exército já havia cavado, a pedido do governo, uma vala na principal rota de entrada para a cidade fronteiriça de Pedro Juan Caballero.>
A ideia é dificultar que pessoas vindas do Brasil a pé, via Ponta Porã (MS), entrem por ali e circulem. A fronteira para veículos está fechada desde o início da quarentena no país, em 10 de março.>
No dia 8, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, disse que "nem passa pela nossa cabeça abrir as fronteiras" com o Brasil. "Isso é uma grande ameaça para nosso país", afirmou durante uma visita à região de Misiones.>
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