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União Europeia diz que não vai adotar vacina russa contra Covid-19

União Europeia diz que não vai adotar vacina russa contra Covid-19

Agência regulatória europeia avalia pedido de registro da Sputnik V, mas Executivo da UE afirma que ela não faz parte da estratégia de vacinação do bloco

Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 14:13- Atualizado há 3 anos

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Especialista exibe amostra da vacina contra Covid-19 chamada Sputnik, produzida em São Petersburgo, Rússia
Especialista exibe amostra da vacina contra Covid-19 chamada Sputnik, produzida em São Petersburgo, Rússia. (REUTERS / Anton Vaganov / Folhapress)

A União Europeia não pretende comprar nem distribuir a vacina russa Sputnik V, afirmou nesta quarta (10) o porta-voz da Comissão Europeia (Executivo da UE), Erik Mamer. A afirmação veio em resposta a uma pergunta sobre se o bloco europeu não temia o uso de um imunizante produzido "por um país considerado inimigo da democracia europeia".

Nesta terça, a EMA (agência regulatória do bloco) aceitou o pedido de registro da Sputnik V, produzida pelo Instituto Gamaleya, da Rússia. O imunizante agora será avaliado pelos técnicos da agência e, se aprovado, poderá ser comercializado no mercado comum europeu.

"Mas isso não quer dizer que a vacina será incluída na estratégia da UE [o que significa que o bloco investe na companhia como parte de um acordo de compra futura]", afirmou Mamer. "Não estamos em negociações com o fabricante da Sputnik V com o intuito de adquirir sua vacina", disse.

O porta-voz também disse que considerava "importante ressaltar que as negociações da Comissão Europeia para a aquisição de vacinas foram feitas com companhias e não com governos". Até agora, foram feitos acordos com oito empresas: Valneva, Janssen, Sanofi, Curevax, Novavax, Pfizer, AstraZeneca e Moderna. Dessas, três já foram autorizadas para uso no bloco.

Para que uma vacina seja incluída na estratégia de vacinação da União Europeia, é preciso ter a aprovação dos 27 países-membros. Além disso, uma das condições indispensáveis é que o fabricante tenha unidades de produção dentro do bloco, para facilitar a distribuição, de acordo com outro porta-voz da Comissão, Stefan De Keersmaecker.

A discussão sobre o uso da vacina russa pela UE acontece em meio a uma crise gerada pela visita a Moscou do chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell. O diplomata foi criticado por ficar em silêncio quando o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, chamou o bloco de "parceiro não confiável".

Para mais de 80 eurodeputados que assinaram um manifesto pedindo seu afastamento, o desempenho de Borrell foi "humilhante". Além do episódio do silêncio, o governo russo expulsou no mesmo período diplomatas da Alemanha, da Polônia e da Suécia, por supostamente participarem de manifestações de apoio ao líder oposicionista Alexei Navalny, preso pelo governo do presidente Vladimir Putin.

Em reação, Borrell afirmou nesta terça que os ministros das Relações Exteriores da UE vão discutir propostas de novas sanções à Rússia no dia 22 de fevereiro. "Estamos em uma encruzilhada em nossas relações com a Rússia. E as escolhas que faremos determinarão a dinâmica do poder internacional deste século", afirmou.

As relações UE-Rússia têm sido tensas desde 2014, quando o governo Putin anexou a Crimeia e apoiou grupos rebeldes no leste da Ucrânia. Até então, o bloco vinha tentando uma aproximação com o vizinho em temas como energia, mudanças climáticas e combate ao terrorismo. A UE foi um dos principais defensores da adesão da Rússia à OMC, concluída em 2012.

Após a crise da Crimeia, a UE suspendeu o diálogo sobre questões como vistos e acordos bilaterais e adotou sanções. Os astritos esclaram a partir de 2015, com a intervenção da Rússia na guerra da Síria, na Líbia e em conflitos na África.

Recentemente, a União Europeia acusou a Rússia de estar por trás de campanhas de desinformação e de tentativas de influenciar campanhas eleitorais no continente. O bloco também "manifestou preocupação" com as emendas constitucionais que permitiram a Putin ficar no poder até 2036 e com mudanças que deram supremacia à lei russa sobre acordos internacionais ratificados pelo país e decisões dos tribunais internacionais.

Em dezembro de 2020, 177 indivíduos e 48 entidades russas estavam proibidos de entrar na UE e sujeitos a congelamento de ativos, por causa de ações contra a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia.

A Rússia vem retaliando desde agosto de 2014, com contra-sanções a produtos agrícolas, matérias-primas e alimentos. De acordo com a União Europeia, o governo Putin também adotou uma "lista negra" de cidadãos da UE e dos EUA que estão proibidos de entrar no país, mas mantém os nomes em segredo. Eurodeputados já foram impedidos de entrar na Rússia nos últimos anos por causa dessa lista, segundo a UE.

Apesar das restrições da Comissão Europeia, a vacina russa já está sendo usada no bloco europeu. A Hungria aprovou seu uso emergencial, mesmo sem ela ter sido autorizada pela EMA. Em janeiro, quando o governo de Viktor Orbán anunciou que estudava aplicar a Sputnik V, Mamer afirmou que "não havia dúvida" de que qualquer vacina disponibilizada em qualquer país da UE teria primeiro de ser aprovada por seu próprio regulador centralizado.

"Não estamos em negociações com empresas russas ou chinesas", disse Mamer na ocasião. "Essa é a estratégia europeia de vacinas. Todos os estados membros assinaram este processo."

Caso receba a autorização da agência regulatória, a Sputnik V pode ser comprada diretamente por países da UE, mesmo que ela não integre a estratégia do bloco. A diferença principal será o preço mais alto, já que, pelo efeito de escala, a Comissão Europeia tem vantagens na negociação.

No Brasil, o imunizante russo também está no centro de uma polêmica política, após MP que reduz para cinco dias o prazo de aprovação, pela Anvisa, de vacinas aprovadas por agências regulatórias de vigilância sanitária de outros países.

A proposta inclui órgãos dos Estados Unidos, União Europeia, Japão, China, Rússia e Argentina, o que permitiria agilizar a concessão de autorização para a Sputnik V. Objeto de intenso lobby político, a vacina do instituto Gamaleya tem sido vista como nova aposta do governo federal. Na última sexta, a Anvisa criticou a tentativa de acelerar a aprovação do imunizante.

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