Publicado em 6 de julho de 2020 às 14:34
O governo russo declarou a pequena vila de Nionoksa, no Ártico, uma "zona de perigo" devido a um experimento militar secreto que será conduzido entre terça (7) e quarta (8).>
Os cerca de 2.000 moradores terão ônibus à disposição para deixar a cidade, sendo provavelmente levados para o centro regional mais próximo, Severodvinsk, a 40 km dali. Navios navegando no mar Branco, que banha a região, também foram alertados para se afastar nesses dois dias.>
Observadores militares se perguntam qual a natureza do teste. Em agosto do ano passado, uma grande explosão durante o que especialistas disseram ser o teste de um novo míssil russo já havia provocado um alerta em Nionoksa.>
Naquele episódio, cinco técnicos morreram quando o motor de um míssil de cruzeiro movido a energia nuclear explodiu, em uma plataforma no mar. Houve um pico de radiação, registrado nos países vizinhos.>
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A agência nuclear russa, a Rosatom, foi duramente criticada pela falta de transparência no episódio. O país tem um histórico traumático na área, com a tentativa de acobertamento do desastre nuclear em Tchernóbil pela União Soviética, em 1986.>
Nionoksa fica próxima do principal centro de testes de mísseis da Marinha russa, que está lá desde os anos 1950.>
O teste desta terça pode ser uma nova tentativa envolvendo o míssil, chamado Burevestnik (nome russo da ave marinha petrel), ou mesmo um teste marítimo do chamado "torpedo do Juízo Final".>
O torpedo, um drone submarino chamado Poseidon, pode levar uma carga especulada de até 100 megatons (ou 6.600 bombas de Hiroshima) a distâncias superiores a 10 mil quilômetros.>
Ambas as armas fazem parte do pacote anunciado em 2018 pelo presidente Vladimir Putin como sendo supostamente invencíveis. Não existe isso, mas as características apresentadas dificultam, e muito, o trabalho de defesa dos alvos.>
Vistos inicialmente com ceticismo, os armamentos começaram a ser levados a sério pelo Ocidente. O Burevestnik já tem até uma designação da Otan (aliança militar ocidental), SSC-X-9 Skyfall.>
Os testes russos foram acompanhados por uma revisão da doutrina militar nuclear do país, a maior potência no setor ao lado dos Estados Unidos -ambas as nações concentram mais de 90% do arsenal atômico do mundo, com capacidades semelhantes.>
Putin reafirmou a possibilidade de retaliar com armas nucleares contra ataques estratégicos, que ameaçam a existência da Rússia ou de aliados, mesmo que eles seja de natureza convencional.>
Desde que assumiu o poder em 2017, o presidente Donald Trump tem incentivado uma disputa no campo com os russos e os chineses, que são uma potência emergente.>
Os EUA deixaram dois acordos de controle de armas e têm trabalhado para deixar expirar o Novo Start, maior tratado de redução e contenção de ogivas estratégicas em vigor.>
Ele vence em fevereiro de 2021, e Washington diz que só irá renová-lo com Moscou por cinco anos se Pequim também aderir ao texto -algo que russos e chineses descartam.>
Alem disso, os americanos atualizaram sua doutrina nuclear de forma a ampliar a possibilidade do uso de armas nucleares táticas, de menor potência e emprego limitado, e passou a operar uma nova ogiva com essas características.>
Para especialistas na área, o risco do eventual emprego é a escalada, imprevisível e que acabe por envolver as grandes armas estratégicas, aquelas que destroem países.>
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