Publicado em 28 de fevereiro de 2021 às 15:39
- Atualizado há 5 anos
Ao menos 18 manifestantes morreram e 30 ficaram feridos neste domingo (28) em Mianmar, em ações das forças de segurança que dispersaram de maneira violenta vários atos, no dia mais violento dos protestos contra o golpe de Estado militar de 1º de fevereiro. A contagem é do escritório de direitos humanos da ONU. >
Mianmar vive um caos desde que o Exército tomou o poder e prendeu a líder governamental eleita Aung San Suu Kyi e grande parte de sua liderança partidária, alegando fraude em uma eleição de novembro que seu partido venceu.>
O golpe, que interrompeu as tentativas de democracia após quase 50 anos de regime militar, vem atraindo centenas de milhares de pessoas às ruas e a condenação dos países ocidentais.>
Mas os protestos são reprimidos de forma cada vez mais sangrenta, com gás lacrimogêneo, jatos de água, balas de borracha e, em alguns casos, munição letal.>
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Neste domingo, três homens morreram em uma manifestação na cidade de Dawei, ao sul do país, onde 20 pessoas também foram feridas, de acordo com as equipes de emergência e a imprensa local.>
As vítimas morreram depois que foram "atingidas por tiros de munição letal", disse à AFP Pyae Zaw Hein, um socorrista voluntário. Os feridos receberam impactos de balas de borracha, explicou, antes de alertar para a possibilidade de "mais vítimas porque continuamos recebendo feridos".>
Outros dois jovens de 18 anos morreram na cidade de Bago, segundo as equipes de emergência. Os óbitos foram confirmados pela imprensa local, que fica ao norte de Yangon.>
Uma sexta pessoa faleceu em Yangon, informou no Facebook um ex-deputado do governo civil derrubado pelos militares, Nyi Nyi. A vítima era um jovem de 23 anos atingido por tiros.>
Até este domingo haviam sido contabilizadas cinco mortes entre nas manifestações desde o golpe. O exército afirma que um policial morreu quando tentava dispersar um protesto.>
"A clara escalada do uso de força letal em várias cidades do país é escandalosa e inaceitável, e deve parar imediatamente", condenou Phil Robertson, subdiretor da divisão Ásia na ONG Human Rights Watch.>
Muitos países também condenaram a repressão. Estados Unidos e União Europeia denunciaram a violência das forças de segurança e afirmaram que a junta militar deve deixar o poder.>
O Reino Unido disse que a escalada da violência contra os manifestantes é abominável e pediu aos líderes militares do país que restaurem a democracia.>
"Trabalhando com os EUA e Canadá, o Reino Unido agiu impondo sanções de direitos humanos contra nove oficiais militares de Mianmar, incluindo o comandante-chefe, por seu papel no golpe", disse uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido neste domingo.>
Em Yangon, as forças de segurança dispersaram rapidamente um protesto neste domingo. "A polícia começou a atirar assim que chegamos", declarou à AFP Amy Kyaw, uma professora de 29 anos.>
Imagens exibidas ao vivo nas redes sociais mostraram as forças de segurança utilizando gás lacrimogêneo contra a multidão em Yangon e jatos de água na cidade de Mandalay, mais ao norte.>
Em Myityina (norte), as forças de segurança agrediram um jornalista, que foi detido.>
No sábado (27), as forças de segurança também responderam com violência em várias manifestações, que eram pacíficas no geral.>
Ao menos três jornalistas foram detidos: um fotógrafo da agência americana Associated Press e um cinegrafista e fotógrafo de duas agências birmanesas, Myanmar Now e Myanmar Pressphoto.>
Mais de 850 pessoas foram detidas, acusadas ou condenadas, por participação nas manifestações, segundo a ONG de ajuda aos presos políticos AAPP.>
Os números devem aumentar em breve, depois que a imprensa estatal informou 479 detenções no sábado.>
Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991, não é vista em público desde que foi detida.>
Ela está em prisão domiciliar em Naypyidaw, a capital do país, acusada de ter importado walkie-talkies de maneira ilegal e de ter violado as restrições impostas pela pandemia de Covid-19. Na segunda (1º) ela vai comparecer a uma audiência para responder sobre estas acusações.>
Também no sábado, a junta militar destituiu o embaixador do país na ONU, Kyaw Moe Tun, que, um dia antes, havia defendido o fim do golpe militar e solicitado "a ação enérgica da comunidade internacional para terminar com a opressão da população inocente e devolver o poder ao povo".>
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, afirmou que a organização não foi informada formalmente sobre a destituição do diplomata.>
O Exército vem tentando usar supostas acusações de fraude no pleito como justificativa para a tomada de poder. Os militares também acrescentaram à narrativa o argumento de que a comissão eleitoral do país usou a pandemia de coronavírus como pretexto para impedir a realização de uma campanha justa.>
Dizem ainda que agiram de acordo com a Constituição e que a maior parte da população apoia sua conduta, acusando manifestantes de incitarem a violência.>
O general Min Aung Hlaing, que assumiu o controle do país com o golpe, decretou em 1º de fevereiro um estado de emergência que deve durar um ano. Colocaremos em operação uma verdadeira democracia multipartidária, declarou o novo regime, acrescentando que o poder será transferido após a realização de eleições gerais livres e justas.>
A promessa, apesar de reiterada, é encarada com ceticismo pelos mianmarenses opositores e por observadores internacionais.>
A LND, partido de Suu Kyi que comanda o país desde 2015, obteve 83% dos votos e conquistou 396 dos 476 assentos no Parlamento nas últimas eleições, realizadas em novembro do ano passado. A legenda, entretanto, foi impedida de assumir quando o golpe foi aplicado no dia da posse da nova legislatura. O Partido da União Solidária e Desenvolvimento, apoiado pelos militares, obteve apenas 33 cadeiras. >
Mianmar tem um violento histórico de reações a protestos. Na revolta de 1988, mais de 3.000 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança do país durante atos contra o regime militar o país viveu sob uma ditadura de 1962 a 2011. >
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